Mineração de criptomoedas pode dificultar metas globais de emissão de carbono
Que a mineração de criptomoedas está causando impacto no fornecimento de peças para computador e alterando balanços econômicos globais, isso todo mundo sabe. Mas um estudo publicado pela revista Nature Communications indicou que, caso o ritmo de processamento dessa modalidade financeira continue a ser mantido na China, o país poderá ser responsável por emissões de carbono equivalentes ao total de muitos países, dificultando a obtenção de metas ambientais globais.
De acordo com o levantamento, as fazendas de mineração de criptomoedas devem chegar a 2024 com uma geração anual de 130,5 milhões de toneladas métricas de emissões de carbono — um total equivalente a países altamente dependentes de energias não renováveis, como a Itália e a Arábia Saudita. Tudo isso enquanto sustenta quase 80% de todo o processamento mundial dessa modalidade financeira, justamente devido aos baixos custos de hardware e energia elétrica disponíveis no país.
Entretanto, o prognóstico não parece tão ruim assim quando se olham outros dados, que indicam o problema como uma questão de adaptação e, quem sabe, regulação. Cerca de 40% das mineradoras de criptomoedas da China têm energia gerada a partir do carvão, enquanto o restante já opera a partir de fontes renováveis. Reduzir essa diferença pode ser essencial para diminuir os danos ao meio ambiente e, também, garantir que o país atinja suas próprias metas de emissão.
O governo da China tem objetivos claros nesse sentido e deseja cortar em até 60% suas emissões de carbono até 2030, e a ideia é se tornar um país completamente neutro até 2060. O anúncio, uma atualização que tornou ainda mais drásticas as mudanças que vinham sendo anunciadas ao longo dos últimos anos, foi feito em janeiro, já durante o surto na mineração de criptomoedas, mas não se sabe se as autoridades levaram em conta o crescimento nesse tipo de prática e a valorização dessa modalidade financeira na hora de firmar as metas.
Ameaça aos objetivos globais
O estudo da Nature Communications enxerga esse aumento como uma ameaça clara não apenas os objetivos chineses, mas também globais. Outras medidas apontadas como possíveis pelos pesquisadores é a atualização de redes de geração e transmissão de energia focadas em recursos renováveis e maior investimento nesse segmento, de forma que essas sejam as principais formas utilizadas nos próximos anos.
Por outro lado, um dos autores, Wang Shouyang, da Academia Chinesa de Ciências, aponta a ineficácia de outras medidas já tomadas pelo governo, como o banimento de transações em criptomoedas, anunciado em 2019, ou a aplicação de impostos sobre emissões de carbono. Ainda assim, a atividade, que é liberada no país, continua prosperando e a China segue como um bom destino para o estabelecimento de fazendas de mineração.
Não se trata, porém, de um problema apenas chinês, apesar de os grandes negócios de mineração estarem, sim, se instalando em países com custos energéticos mais baixos, independente das fontes serem renováveis ou não. A expectativa, segundo o trabalho, é de 0,6% de todo o consumo de eletricidade em 2021 venha de unidades desse tipo, um total que, também, coloca esse mercado acima de muitos países, como é o caso da Noruega.
Nessa toada, alguns países começam a tomar medidas drásticas, como a Mongólia, que anunciou o banimento da mineração do país, justamente, porque esse setor iria impedir a obtenção de metas ambientais. Por outro lado, criou-se um problema: 8% das operações globais registradas acontecem a partir de servidores no país, e agora, se iniciou uma corrida entre serviços e plataformas para se instalarem em outras regiões.
Fonte: Yahoo