Criptoverso: 10 bilhões de razões que podem tornar bitcoin moeda de reserva
Terraform Labs já acumulou quase 40 mil bitcoins no valor de US$ 1,7 bilhão numa série de compras por meio da afiliada Luna Foundation, segundo dados públicos.
A promessa de uma plataforma de criptomoedas de acumular US$ 10 bilhões em bitcoin para apoiar sua própria “stablecoin” está impulsionando o mercado. É parte de um movimento mais amplo para coroar o bitcoin como a moeda de reserva de uma nova era.
A Terraform Labs, de Seul, já acumulou quase 40 mil bitcoins no valor de US$ 1,7 bilhão numa série de compras por meio da afiliada Luna Foundation, segundo dados públicos.
A estratégia segue o anúncio em março do co-fundador da Terraform Do Kwon de que o projeto compraria US$ 10 bilhões em bitcoin para sustentar o TerraUSD, uma stablecoin, uma classe crescente de criptomoedas que visa minimizar oscilações de preços e são normalmente lastreadas em dólares.
Uma stablecoin apoiada por reservas de bitcoin, de acordo com Kwon, “vai abrir uma nova era monetária do padrão bitcoin”, fazendo referência ao padrão ouro que formou a espinha dorsal das finanças globais há cerca de um século. Alguns grupos identificaram o movimento como um grande impulsionador da subida do bitcoin para US$ 48 mil em março. “Comprar US$ 10 bilhões pode mover o preço no curto prazo”, disse Sid Powell, presidente da Maple Finance, banco de criptomoedas com sede em Sydney. “A longo prazo, é mais o que sinaliza: que o bitcoin foi introduzido como a forma mais popular de garantia para moedas.”
Outros participantes do mercado alertaram que a proximidade cada vez maior entre bitcoin e stablecoins como a TerraUSD pode introduzir um novo risco para os mercados de criptomoedas que aumenta o temor de uma “espiral da morte” para os investidores no futuro. No curto prazo, também, há armadilhas.
“Algumas pessoas estão tentando se posicionar muito à frente da compra, o que pode exagerar uma queda se o preço começar a retroceder”, disse Richard Usher, chefe de negociação OTC da empresa de criptomoedas BCB Group.
Vetle Lunde, analista da empresa de pesquisa de criptomoedas Arcane Research, da Noruega, que está rastreando as compras do projeto Terra, estima que, para atingir um valor inicial de US$ 3 bilhões em reservas, o projeto poderá ter que adquirir entre 60 mil e 70 mil bitcoins.
Isso superaria os 43,2 mil bitcoins detidos pela Tesla (TSLA34), a empresa listada com o segundo maior volume de bitcoins, só atrás da MicroStrategy.
A Terraform Labs não comentou o assunto.
As stablecoins estão ganhando terreno rapidamente, sendo um meio de troca comum de traders que buscam movimentar fundos e especular sobre outras criptomoedas.
Por exemplo, é muito mais fácil trocar tether – a maior e mais madura stablecoin – por bitcoin ou outra criptomoeda, do que trocar dólares americanos por bitcoin.
Há um ano, o valor de mercado do tether era de US$ 44,5 bilhões, enquanto o da nova TerraUSD era de 1,76 bilhão. Desde então, eles subiram cerca de 85% e 850%, respectivamente, para US$ 82,3 bilhões e 16,7 bilhões. A TerraUSD é agora a quarta maior stablecoin e, como seus pares, está atrelada ao dólar. Mas enquanto tether e USD Coin têm reservas em ativos tradicionais que dizem corresponder ao valor dos tokens em circulação, o TerraUSD mantém paridade 1:1 dólar por meio de um algoritmo que modera oferta e demanda em um processo que envolve o uso de outro token de equilíbrio, Luna.
“Apoiar a moeda com algo tão previsível, não de uma perspectiva de preço, mas de regras e governança, como o bitcoin gera muita confiança nas pessoas”, afirmou Matthew Sigel, diretor de ativos digitais da VanEck, em Nova York.
Siegel afirmou que espera que outras stablecoins algorítmicas acompanhem a iniciativa da Terraform e lastreiem suas moedas com reservas de bitcoin e mesmo outros tokens, se o experimento for bem sucedido.
Espiral da morte
No entanto, nem todas as stablecoins algorítmicas foram se mostraram estáveis no passado, com algumas apresentando colapso de valor.
“Ainda há muito trabalho a ser feito e incertezas regulatórias a serem superadas em relação às stablecoins algorítmicas e sua resistência a um colapso, o que pode causar a chamada ‘espiral da morte’”, disse Carlos Gonzalez Campo, analista da 21Shares, na Suíça.
“Esse fenômeno se refere a um círculo vicioso teórico em que a contração do UST (TerraUSD) leva à mineração de LUNA e à queda de preço, o que leva ao medo e a mais resgates do UST”, disse ele, comparando isso a uma corrida aos bancos.
É isso que a reserva de bitcoin deve evitar, mas também pode causar um contágio mais amplo.
“É muito melhor ter alguma reserva fora da luna, porque senão você fica muito exposto ao seu desempenho e isso pode fazer tudo quebrar como vimos com outras stablecoins algorítmicas”, disse Lunde, da Arcane.
“Mas estou um pouco preocupado com os efeitos estruturais de longo prazo que isso pode ter sobre a luna e no bitcoin. Se as coisas realmente começarem a desmoronar e eles tiverem 70 mil bitcoins em reservas que desejam usar para liquidar o mercado e manter a paridade, isso pode ter implicações para todo o mercado.”