Complexo da Shell para capturar carbono permite escape de 52% do gás

ONG que avaliou o desempenho das instalações no Canadá acusa o setor de petróleo e gás de propor "falsas soluções" para a crise climática

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A usina de combustíveis Quest, em Alberta, no Canadá, conta com equipamento de captura e armazenagem de carbono (CCS, na sigla em inglês), mas deixou escapar 52% do gás que emitiu desde 2015. Se forem consideradas as emissões totais do complexo Scotfortd, onde a usina está localizada, a parcela de gás que escapou sobe a 61%. O cálculo foi feito e divulgado pela ONG ambientalista Global Witness, que o apresenta como “um golpe” na tecnologia CCS e nos proponentes do hidrogênio como candidato a combustível limpo (a “limpeza” de parte da produção de hidrogênio dependeria da eficiência das tecnologias CCS).

Escaparam das instalações, nos seis anos avaliados, cerca de 7,5 milhões de toneladas de gases causadores de efeito estufa, um impacto equivalente ao de 1,2 milhão de carros a gasolina.

A Shell, dona da usina Quest, não rebate o cálculo, mas tem interpretação diferente do resultado. Quando inaugurou a estrutura de CCS, em 2015, a companhia prometia reter apenas um terço, 33%, do gás emitido. Por esse enfoque, a captura de 39% (do complexo Scotford inteiro) ou 48% (da usina Quest), como divulgada pela ONG Global Witness, cumpre mais que o prometido pela empresa.

“Nossa instalação Quest foi projetada alguns anos atrás como um projeto de demonstração para provar o conceito que baseia a CCS, ao capturar cerca de um terço das emissões de CO2. Não é uma instalação de produção de hidrogênio”, afirmou um porta-voz da Shell. “Os projetos de hidrogênio que estamos planejando — como Polaris — vão usar uma nova tecnologia que captura mais de 90% das emissões.” A captura de 90% das emissões vem sendo apresentada como uma meta do setor de petróleo e gás, para que a tecnologia cumpra um papel no enfrentamento da crise climática.

projeto Polaris foi anunciado pela Shell em julho de 2021. O plano inicial é que a nova instalação entre em operação no complexo Scotford por volta de 2025. Em sua fase inicial, reduziria em 40% as emissões indiretas da refinaria de combustíveis no local e em 30% as emissões indiretas da usina petroquímica. O carbono capturado seria injetado a 2 km de profundidade. A parcela de combustível com 90% de captura de carbono seria usada na produção de hidrogênio — num grau de “limpeza” que o setor chama de “hidrogênio azul” ou “hidrogênio fóssil” (porque sua produção ainda depende de combustíveis fósseis).

O complexo de Scotford processa óleo de folhelho betuminoso (conhecido popularmente como “xisto”), resultado de uma extração com alto impacto ambiental, e o transforma em combustíveis variados. A instalação Quest, em funcionamento atualmente, transporta parte do gás carbônico (CO2) capturado por uma rede de 65 km de tubulações e o enterra a 2 km de profundidade.

“A promoção que as companhias de óleo e gás fazem do hidrogênio fóssil é uma tentativa de encobrir a continuação de suas práticas tóxicas — extração e queima de combustíveis fósseis”, afirmou Dominic Eagleton, responsável sênior pela campanha da Global Witness nesse setor. “O melhor jeito de companhias como a Shell ajudarem a enfrentar a crise climática é programar o fim de todas as suas operações com combustíveis fósseis, em vez de encontrar formas de esconder a atividade destruidora do clima por trás de falsas soluções.”

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Fonte epocanegocios
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