Terapia celular levou à remissão de câncer em paciente do SUS; saiba o que é
Tratamento que custa R$2 milhões na rede privada está em fase de estudos para ser incluído no sistema público; entenda o que é a terapia celular CAR-T
Com o câncer já espalhado pelo corpo, o publicitário Paulo Peregrino, de 61 anos, estava prestes a receber cuidados paliativos. Submetido a terapia celular CAR-T, um tratamento pioneiro contra a doença, teve remissão completa do linfoma em um curto período de tempo.
Paulo foi internado em 13 de fevereiro deste ano no Hospital das Clínicas de São Paulo. Após passar pela terapia, o resultado do exame de 23 de abril foi a total remissão do seu terceiro linfoma, câncer no sistema linfático.
Nas redes sociais, publicou a comparação de imagens feitas antes e depois do tratamento, em que os pontos pretos indicam a doença. Na segunda foto, as manchas escuras desapareceram. Veja a foto abaixo.
“É o sucesso do Car-T-Cell, uma terapia revolucionária”, comemorou o resultado.
O publicitário é um dos 14 pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) que foi tratado com a terapia experimental, desenvolvida no Hemocentro de Ribeirão Preto?, em parceria com a Universidade de São Paulo e o Instituto Butantan.
Além de Paulo, o resultado dos outros pacientes que participaram do estudo também é animador: todos tiveram remissão em pelo menos 60% dos tumores.
No segundo semestre, 75 pacientes devem ser tratados com as células CAR-T em nova fase do estudo. Atualmente, o tratamento só existe na rede privada brasileira, ao custo de ao menos R$2 milhões por pessoa.
O que é a terapia celular CAR-T
É um tratamento avançado contra o câncer. Nele, as células de defesa do paciente são modificadas para aprender a eliminar a doença. Depois, são recolocadas, aumentando o combate do corpo contra o tumor.
Hoje no Brasil, o método é estudado contra dois tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B e linfoma não Hodgkin de células B, ambos relacionados ao sangue.
Coordenador do Centro de Terapia Celular (CEPID-USP) e do Núcleo de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto, o médico Dimas Covas aponta que o tratamento pode ser estendido para outros cânceres.
Existe a possibilidade que a terapia seja estendida para outros tipos de tumores, do próprio sangue, mas também tumores sólidos, como de mama, do intestino e assim por diante. Ela é muito promissora em termos de cura, disse em entrevista a BandNews FM.
Confira mais no vídeo abaixo.
Covas aponta que esses catorze pacientes que apresentaram remissão de pelo menos 60% fazem parte de um estudo para que a terapia celular seja incluída no SUS.
Para isso, o produto deve ser autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária e pelo Ministério da Saúde. A expectativa é que o tratamento chegue ao sistema público até o início de 2024.
Como funciona a terapia CAR-T
O tratamento funciona basicamente em cinco passos:
- Coleta do sangue do paciente para isolar células T – um tipo de célula de defesa do corpo;
- Após coletadas, essas células são modificadas em laboratório – aqui elas viram efetivamente as células CAR-T. Leva cerca de 30 dias;
- Crescimento das células CAR-T em laboratório. Elas são multiplicadas milhões e milhões de vezes;
- Infusão das células no paciente;
- Células CAR-T procuram o câncer no organismo, se ligam a ele e o destroem.