Por que os coelhos podem ter a chave da origem do orgasmo feminino

O enigma intriga cientistas há séculos: por que as mulheres têm orgasmos se eles não cumprem uma função reprodutiva? Um grupo de pesquisadores nos Estados Unidos deu um antidepressivo conhecido a um grupo de coelhas e diz ter resolvido o mistério.

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É um grande mistério evolutivo. Por que as mulheres têm orgasmos se eles não cumprem uma função reprodutiva?

O orgasmo masculino está ligado à ejaculação, mas o feminino não parece ter um propósito específico. Por isso, existem muitas teorias sobre a origem do clímax sexual da mulher.

Uma delas, por exemplo, aponta que as contrações causadas pelo orgasmo podem ajudar a “sugar” o esperma e transportá-lo mais profundamente pelo canal vaginal, o que aumentaria a probabilidade de concepção.

Outra sugere que o orgasmo estabelece um vínculo afetivo mais intenso entre o casal.

Um grupo de cientistas dos Estados Unidos acaba de levantar outra possibilidade, que está relacionada à fisiologia dos coelhos.

O orgasmo nas mulheres seria um vestígio de mecanismos desenvolvidos para gerar a ovulação durante o coito, segundo estudo — Foto: Unsplash

Vestígios de um mecanismo evolutivo

O orgasmo feminino é um “reflexo neuroendocrinológico complexo demais para ser simplesmente um acidente evolutivo”, diz o estudo publicado na revista da Acadêmia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, Proceedings of the National Academy of Sciences.

A nova hipótese é que o orgasmo é o resultado de um mecanismo evolutivo desenvolvido para estimular a ovulação.

As mulheres ovulam espontaneamente, em um certo período do ciclo menstrual, independentemente de fazerem sexo ou não.

Mas no caso de outras espécies, como coelhos e gatos, é a atividade sexual que desencadeia a ovulação.

O mecanismo é chamado de “ovulação induzida por relações sexuais” ou CIO (copulation induced ovulation), na sigla em inglês.

A nova hipótese afirma que “os mecanismos neuroendocrinológicos envolvidos no orgasmo feminino se derivam evolutivamente dos mecanismos que causam ovulação em animais com CIO”, disse Günter Wagner, pesquisador da Escola de Medicina da Universidade de Yale e coautor do estudo.

Os cientistas apontam que o orgasmo nas mulheres seria um vestígio de mecanismos fisiológicos desenvolvidos para desencadear a ovulação durante a relação sexual.

“Sabemos que existe um reflexo em coelhos. A questão é se poderia ser o mesmo [processo], que perdeu sua função nos humanos”, disse Mihaela Pavlicev, coautora do estudo.

Experimentos com coelhos

Wagner e Pavlicev afirmam ter estabelecido que o mecanismo CIO em coelhos e o orgasmo feminino são homólogos; em outras palavras, têm uma origem evolutiva comum.

Para provar essa relação, Pavlicev e seus colegas submeteram coelhas a uma série de experimentos. Em um deles, os cientistas deram aos animais um antidepressivo, a fluoxetina, que reduz a frequência de orgasmos nas mulheres.

Se a fluoxetina tem esse efeito em humanos, também afetaria a ovulação dos coelhos devido à origem evolutiva comum, estimaram os pesquisadores.

E em coelhas tratadas com fluoxetina, a ovulação caiu 30% em comparação ao grupo de controle.

Por que o impacto não foi maior? Os autores do estudo apontam que os coelhos quebram a fluoxetina em seu corpo com mais eficiência do que as mulheres.

Outros cientistas que não participaram do estudo observaram que uma redução de 30% na ovulação de coelhos não é suficiente para provar que o CIO (copulation induced ovulation) e o orgasmo em mulheres têm a mesma origem evolutiva.

O próximo passo, segundo Wagner, é repetir os testes com outras espécies nas quais a relação sexual desencadeia a ovulação.

Para os pesquisadores, o importante é que a grande questão “como o orgasmo feminino evoluiu?” deu lugar a outra mais específica: por que o orgasmo se mantém nas humanas quando sua função na ovulação não existe mais?

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Fonte globo
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