Os estudos no Brasil que avaliam a eficácia da 3ª dose contra a Covid-19
Unifesp e Ministério da Saúde iniciam pesquisa com 1.200 voluntários que receberam as duas doses da CoronaVac; fabricantes já conduzem outras investigações no país
Com o avanço da imunização contra Covid-19, a necessidade de uma terceira dose de vacina vem sendo discutida ao redor do mundo. Enquanto alguns países como Chile, Estados Unidos, Israel e Reino Unido já autorizaram a medida, outros ainda estão avaliando a estratégia. E esse é o caso do Brasil. Nesta segunda-feira (16), tem início uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), coordenada pelo Ministério da Saúde, para analisar a medida.
O estudo conta com 1.200 voluntários que tomaram duas doses há pelo menos seis meses — o que, no país, só é possível entre pessoas que receberam CoronaVac. São 600 indivíduos de São Paulo, selecionados pelo Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais da Unifesp (CRIE/Unifesp), e 600 de Salvador, escolhidos pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).
“Além de avaliar a necessidade de mais uma dose, o trabalho, que tem duração de um mês, também avaliará se é possível e vantajoso misturar as vacinas hoje disponibilizadas para a imunização contra a Covid-19”, afirma, em nota, Lily Yin Weckx, coordenadora do CRIE/Unifesp e responsável pela investigação em São Paulo.
Os participantes serão divididos em quatro grupos aos quais será designado um dos imunizantes atualmente disponíveis para aplicação no Brasil: CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer e Janssen. Após a administração da terceira dose, os voluntários serão avaliados por meio de coleta de sangue e outros exames. Os resultados serão divulgados pelo Ministério da Saúde.
De acordo com Lily Weckx, algumas pessoas podem precisar de uma dose de reforço por não desenvolverem reações tão robustas ao estímulo das vacinas, como indivíduos imunocomprometidos, transplantados e idosos. “Existe o fenômeno chamado de imunossenescência, que é o envelhecimento do sistema imune. Por isso, a resposta dos anticorpos pode cair precocemente”, explica a pesquisadora em matéria do portal G1.
A mesma publicação informa que a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo está analisando oferecer a terceira dose para idosos e profissionais da saúde. “Estamos discutindo a possibilidade de vacinar os dois primeiros grupos [que receberam o imunizante contra Covid-19]. Tive uma conversa com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e ele nos informou que o Plano Nacional de Imunização (PNI) e o Ministério estudam a aplicação da terceira dose”, disse o secretário Edson Aparecido.
Além da pesquisa da Unifesp, existem outros trabalhos em curso para avaliar a administração da terceira dose das vacinas no país. A farmacêutica Pfizer conduz um estudo com 10.200 pessoas nos Estados Unidos, na África do Sul e no Brasil. Do total, 1.164 estão em terras brasileiras, completaram o ciclo vacinal há pelo menos seis meses e já receberam a dose extra. Os voluntários são acompanhados diariamente pelos pesquisadores e, depois de seis meses, irão realizar exames de sangue para que sejam analisados os efeitos, a segurança e o benefício da terceira dose.
A britânica AstraZeneca, por sua vez, lidera um teste clínico de uma nova versão da vacina, a AZD2816, que tem o objetivo de fornecer maior imunidade contra a variante Beta. Uma parte do estudo prevê que uma dose extra do imunizante seja direcionada a indivíduos com duas doses da AZD1222, que está atualmente disponível para aplicação. Há ainda outro trabalho da AstraZeneca que pretende avaliar a 3ª dose entre 11 e 13 meses após a segunda dose. Já estão participando 4.600 pessoas (de um total de 10 mil) em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul.
Já a chinesa SinoVac, fabricante da CoronaVac, realizou um estudo sobre a terceira dose na China. Os resultados foram publicados na plataforma de artigos não revisados por pares medRxiv e indicam que uma dose a mais dada entre seis e oito meses após a segunda injeção pode aumentar em até cinco vezes o nível de anticorpos em adultos de 18 a 59 anos. O Instituto Butantan se prepara para iniciar as pesquisas no Brasil, segundo o G1.