Novo hidrogel promete reparar tecidos de músculos, cordas vocais e coração
Um experimento de pesquisadores da Universidade de McGill, no Canadá, permitiu a criação de um novo biomaterial que pretende reparar de forma os músculos, as cordas vocais e o coração, algo que os cientistas dizem ser um marco na medicina regenerativa. A pesquisa foi publicada na Advanced Sciences.
Uma injeção de hidrogel (biomaterial feito de água e poliamida, que dá espaço para as células viverem e crescerem) permite a reparação dos órgãos. A diferença deste método para os convencionais se dá pela tenacidade e elasticidade, e também por conta do favorecimento da proliferação e do crescimento de células teciduais. O problema é que os hidrogéis já existentes não resistiam o suficiente para ajudar na cicatrização desses tipos de lesões.
Guangyu Bao, um dos autores do estudo, disse que as pessoas que se recuperam de problemas cardíacos muitas vezes enfrentam uma jornada longa e complicada. Segundo ele, a cura ainda é um desafio devido ao movimento constante que os tecidos devem suportar à medida que o coração bate.
A mesma coisa acontece com as cordas vocais. Até agora não havia nenhum material injetável forte o suficiente para regenerá-las. Os pesquisadores acreditam que os resultados são promissores e que, talvez, seja possível que o novo hidrogel seja usado como um implante para restaurar a voz de pessoas com cordas vocais danificadas, como por exemplo, sobreviventes de câncer da laringe.
Testes e descobertas
Para testar a durabilidade do biomaterial, pesquisadores fizeram teste em uma máquina cicladora que simula a biomecânica humana — vibrando a 120 vezes por segundo por mais de 6 milhões de ciclos. O resultado mostrou que o hidrogel permaneceu intacto, enquanto o mesmo teste com hidrogéis padrões não tiveram a mesma eficácia — eles se quebraram em pedaços, mostrando-se incapazes de lidar com a pressão da carga e desgaste.
De acordo com Bao, a equipe ficou entusiasmada ao ver que o novo biomaterial funcionava perfeitamente. “Antes de nosso trabalho, nenhum hidrogel injetável possuía alta porosidade e resistência ao mesmo tempo”, comenta. Ele conta que a diferença do novo material é um polímero formador de poros na nova fórmula. Os cientistas disseram que a inovação abre novos caminhos para outras aplicações, como a entrega de medicamentos, engenharia de tecidos e a criação um modelo para novos tratamentos.
A equipe está até mesmo tentando usar a tecnologia de hidrogel para criar pulmões para testar drogas contra a covid-19. Conforme disse Jianyu Li, professor e pesquisador da Universidade MCGIll em comunicado, “o trabalho destaca a sinergia da ciência dos materiais, engenharia mecânica e bioengenharia na criação de novos biomateriais com desempenho sem precedentes. Estamos ansiosos para trazê-los para a clínica.”
Fonte: Advanced Sciences; Universidade de McGill