Crianças podem disseminar o novo coronavírus mais do que se imaginava
No início da pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), os cientistas ainda entendiam pouco sobre o papel das crianças na disseminação da COVID-19. Além disso, evidências apontavam para um baixo número de crianças contaminadas o que levou muitos a acreditarem que elas eram menos propensas a doença. Agora, um amplo estudo desenvolvido na Coreia do Sul, com quase 65 mil pessoas, aponta para diferentes riscos de contágio.
A partir da nova pesquisa do sistema de saúde pública da Coreia do Sul, descobriu-se que crianças com menos de 10 anos continuam a transmitir o novo coronavírus de forma menos intensa do que os adultos (mesmo que o risco não seja zero). Por outro lado, adolescentes com idades entre 10 e 19 anos apresentaram uma capacidade de transmissão do vírus de forma, bastante semelhante aos adultos.
Essa descoberta pode afetar planos de reabertura de centenas de escolas pelo mundo. Isso porque os resultados sugerem que, conforme as escolas reabrirem, as comunidades enfrentarão um aumento no número de casos. A questão é como controlar a COVID-19 nesse cenário.
Entenda as pesquisas
Até então, alguns estudos desenvolvidos tanto na Europa quanto na Ásia sugeriam que as crianças mais novas eram menos propensas a serem contaminadas e a espalharem o coronavírus. No entanto, a maioria desses estudos inicias foram feitos com pequenos grupos de pacientes e, por isso eram foram falhos, comenta o médico Ashish Jha, diretor do Harvard Global Health Institute.
Segundo essas teorias, as crianças com menos de 10 anos tinham cerca de metade das chances de transmitir o vírus para outras pessoas quando comparadas com adultos. Há inúmeras explicações para essas suposições, como o fato de que as crianças inspirarem e espirarem menos ar, o que diminuiria o contato potencial com um ar carregado de vírus. Outra hipótese é que exalam o ar mais próximo do chão e isso reduz o contato de adultos com sua respiração.
Independentemente das possíveis explicações, o número de novas infecções que têm como origem o contato com crianças pode aumentar assim que as escolas reabrirem, conforme defende o grupo de pesquisadores da Coreia do Sul. Inclusive, elas poderão contribuir para “a transmissão comunitária da COVID-19” nessas comunidades, afirmam os pesquisadores.
Para chegar a essa conclusão, foram rastreados pacientes que ficaram doentes a partir do contato com crianças infectadas. Mesmo assim, ainda não é possível estimar o quão eficientemente as crianças assintomáticas podem ser em espalhar o vírus, explica a epidemiologista Caitlin Rivers, da Universidade Johns Hopkins. Fora a questão dos casos assintomáticos, a epidemiologista considera que as sintomáticas sempre serão infecciosas.
Adolescentes e a COVID-19
O ponto que mais chama atenção nesse estudo são as descobertas relacionadas as crianças mais velhas. Isso porque esse grupo teve ainda mais chances de transmitir a COVID-19 do que os adultos, segundo o estudo. No entanto, essa descoberta pode ser, simplesmente, um acaso ou ainda pode ser muito mais fruto de uma questão comportamental dos jovens.
Afinal, as crianças mais velhas podem ter o tamanho de adultos e, muito provavelmente, podem ter os mesmos hábitos não higiênicos do que as crianças pequenas, como colocar as mãos em superfícies sujas, não realizar sempre a higienização e levar o vírus até a boca. “Podemos especular o dia todo sobre isso, mas simplesmente não sabemos”, defende Michael Osterholm, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Minnesota. De qualquer forma, “a mensagem final é: haverá transmissão”, aponta.
Por isso, as escolas devem estar preparadas para que as infecções apareçam e adotar medidas sanitárias eficientes para diminuir o contágio, como medidas para o distanciamento físico, estimular a limpeza das mãos e o uso de máscaras. Outro ponto importante é que as escolas adotem testes em alunos e funcionários.
Mesmo que o estudo não seja conclusivo, a reabertura será um grande desafio para os gestores. No mundo todo, alguns países como a Dinamarca e a Finlândia retomaram com sucesso as aulas presenciais. Por outro lado, China, Israel e até mesmo a Coreia do Sul retrocederam na retomada às escolas.
Fonte: Popular Science, CDC e The New York Times