Covid: novo estudo explica porque crianças não têm complicações graves

Segundo especialistas norte-americanos, as crianças têm menos receptores no nariz para que o coronavírus penetre no organismo

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No Brasil, o número de mortes pelo coronavírus se aproxima dos 25 mil. No entanto, cerca de 70% das pessoas que morreram tinham mais de 60 anos. As crianças, apesar de contraírem o vírus, não costumam apresentar complicações graves, e os cientistas ainda tentam entender os motivos. Mas um ensaio publicado pela Jama, a revista da Associação Americana de Medicina, no dia 20 de maio, encontrou uma possível explicação: as células que recobrem o interior do nariz das crianças, as primeiras com as quais o vírus entra em contato, têm menor quantidade de receptores ECA-2 — as portas de entrada da Covid no organismo — do que os mais velhos.

Para chegar a essa conclusão, os cientistas utilizaram 305 amostras de tecido nasal conservadas no instituto de pesquisado ligado ao Hospital Monte Sinai de Nova York, nos Estados Unidos, colhidas entre 2015 e 2018, de pessoas com idades entre 4 a 60 anos. “Nós nos perguntamos muitas vezes e esse estudo pode nos ajudar a esclarecer. Mas “provavelmente o motivo é multifatorial”, afirma Cristina Calvo Rey, porta-voz da Associação Espanhola de Pediatria.

No entanto, entre outras possíveis explicações consideradas está que as crianças estão muito acostumadas ao contato com vírus, como os outros coronavírus e enterovírus, e podem ter desenvolvido algum tipo de imunidade cruzada, diz a pediatra. Cristóbal Coronel, secretário da Sociedade Espanhola de Pediatria de Atenção Primária (Sepeap), concorda. “É preciso levar em conta que a maioria dos quadros gripais de crianças, os mais frequentes, são produzidos por um coronavírus”, disse. “Tanto trabalho e tanta pesquisa estão sendo feitos que espero que em pouco tempo tenhamos respostas”, completou Calvo Rey. No entanto, há ainda a hipótese de que as crianças estejam sendo pouco testadas. “Até uma semana atrás, os testes não eram acessíveis e, como a maioria dos casos era leve ou assintomático, nós os mandávamos para casa”, disse Cristóbal.

PALAVRA DE ESPECIALISTA BRASILEIRO

Segundo o pediatra e infectologista Renato Kfouri, vice-presidente do Departamento de imunização da sociedade de pediatria de São Paulo (SP-SP), desde o início da pandemia, sempre foi muito intrigante o fato de as crianças serem ‘poupadas’. “Isso tem se reproduzido no mundo inteiro. O número de casos graves de crianças com Covid é totalmente desproporcional se comparado a outras faixas etárias. Muito tem se tentando entender a razão. Existem algumas teorias, mas a principal e mais aceita é de que a expressão genética desses receptores para o vírus no tecido pulmonar das crianças realmente é menos expresso. Então, o vírus tem menos condição de fazer sua fusão no epitélio respiratório. O principal sítio de ligação, o ECA-2, tem menor quantidade nos pequenos”, explica.

“Há ainda outras explicações, como o tipo de resposta inflamatória das crianças à infecções virais. O que tem se estudado muito hoje, principalmente em função da liberação das aulas, é o papel delas na transmissão, e tem gerado debate, pois muitos estudos afirmam que elas não só desenvolvem menos formas graves, mas também desempenham um papel muito menor na transmissão do vírus. O que é curioso. Nas epidemias familiares de coronavírus, elas não parecem ter um papel importante na cadeia. E faz sentido, já que apresentam menos sintomas. Faz parte de um quadro pouco entendido, mas coerente”, finalizou.

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Fonte revistacrescer
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