Vacina de Oxford demonstra ser segura e eficaz em jovens e idosos
Estudo de fase 2 revela que células T e anticorpos foram observados em todos os grupos etários em levantamento conduzido pela instituição britânica
Na mesma semana em que estão sendo divulgados os resultados de diversas das candidatas a vacina contra a Covid-19, o The Lancet Infectious Disease publicou, nesta quinta-feira (19), resultados de um estudo de fase 2 do imunizante desenvolvido na Universidade de Oxford, no Reino Unido. E as descobertas também são animadoras, principalmente para os mais velhos: a vacina performou de maneira similar, em termos de segurança e eficácia, em pessoas acima de 56 anos de idade e aquelas entre 18 e 55 anos.
Em todos os grupos etários, a vacina ChAdOx1 nCoV-19 apresentou poucos efeitos colaterais e induziu as respostas imunológicas esperadas: 14 dias após a primeira dose, houve a produção de células T, que desempenham papel importante em identificar e atacar células infectadas pelo vírus; 28 dias depois da segunda injeção, observou-se a presença de anticorpos específicos contra o Sars-CoV-2; e 14 dias após a dose de reforço, anticorpos do tipo neutralizantes foram vistos em 208 de 209 (99%) participantes selecionados dentre todos os grupos.
Esses achados ainda precisam ser validados em estudos de fase 3, com um grupo maior de pessoas, de diferentes idades e condições de saúde. Mas os autores estão otimistas. “Respostas imunes a vacinas são geralmente menores em adultos mais velhos, porque o sistema imunológico gradualmente se deteriora com a idade, o que também os torna mais suscetíveis a infecções”, explica o professor Andrew Pollard, líder do estudo, em comunicado à imprensa. “Como resultado, é crucial que as vacinas para Covid-19 sejam testadas nesses grupos, que também são prioritários na imunização”.
O estudo
Participaram da pesquisa 560 pessoas: 160 com idades entre 18 e 55 anos, 160 entre 56 e 69 anos e 240 acima de 70 anos. Elas foram divididas em 10 grupos, que receberam ou a vacina ChAdOx1 nCoV-19 em duas dosagens diferentes (uma mais baixa e outra padrão) ou um imunizante que serviu de controle (no caso, a vacina meningocócica conjugada). Dentre os voluntários acima de 55 anos, houve mais uma divisão, em que uma parte recebeu uma única dose e outra levou duas picadas com um intervalo de 28 dias entre cada uma.
Como o recrutamento para a pesquisa ocorreu durante o lockdown no Reino Unido, pessoas do grupo de risco não participaram. Portanto, o estudo incluiu apenas indivíduos saudáveis, sem comorbidades. Antes de receberem a vacina, os voluntários foram testados para saber se já haviam tido contato com o Sars-CoV-2 — os que já contavam como anticorpos foram excluídos, exceto os que tinham abaixo de 55 anos e que iriam receber duas injeções da dose padrão.
Segurança
Imediatamente após a vacinação, os participantes eram observados durante 15 minutos, no mínimo, para avaliar eventuais reações adversas imediatas. Durante sete dias após serem imunizados, eles anotavam qualquer efeito observado.
O acompanhamento continuará ocorrendo por até um ano após a última dose (data que ainda não foi divulgada). Até agora, as reações adversas foram leves, embora mais frequentes do que no grupo que tomou a vacina controle. O que os voluntários mais sentiram foi dor e sensibilidade no local da injeção, fadiga, dor de cabeça, febre e dor muscular.
Nenhuma reação grave foi associada à ChAdOx1 nCoV-19, e os voluntários mais velhos apresentaram menos reações adversas ao imunizante do que os mais novos.
Próximos passos
Estudos maiores estão em andamento para confirmar esses resultados e responder a perguntas que seguem em aberto. Um ponto a ser analisado, segundo os autores, é a performance da vacina em idosos acima de 80 anos de idade, que foram poucos na fase 2. Outra limitação é que a maioria dos voluntários eram brancos e não fumantes. Por isso, grupos mais diversos estão sendo incluídos nas etapas seguintes.
“As populações com maior risco de ter formas graves de Covid-19 incluem pessoas com condições de saúde pré-existentes e idosos. Esperamos que nossa vacina ajude a proteger algumas dessas pessoas vulneráveis, mas mais pesquisas são necessárias para que tenhamos certeza”, comenta Maheshi Ramasamy, coautora da pesquisa, também em comunicado.