Mortes por covid-19 chegam a 75.366, e epidemia se agrava no Sul e Centro-Oeste
Média diária de de óbitos por semana permanece estável e alta desde a 22ª semana epidemiológica, encerrada em 30 de maio
Com 1.233 confirmações em 24 horas, as mortes causadas pelo novo coronavírus no Brasil chegaram a 75.366 nesta quarta-feira (15), de acordo com levantamento divulgado pelo Conass (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde), com dados compilados até às 18h.
Segundo o balanço, são 1.966.748 casos confirmados, 39.924 a mais do que o total contabilizado na terça. Em números absolutos, o estado de São Paulo lidera o ranking de vítimas fatais, com 18.640 óbitos, seguido pelo Rio de Janeiro (11.757), Ceará (7.030), Pernambuco (5.772) e Pará (5.337)
Ao analisar o ranking mundial, o Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos e é o segundo país com mais mortes causadas pela covid-19, de acordo com o mapeamento do Centro de Recursos de Coronavírus da Universidade Johns Hopkins.
Os dois países repetem as posições também em relação aos diagnósticos. Em território americano, foram registrados 3,1 milhões de casos. A diferença das taxas de testagem entre os dois países – 37.188 testes por milhão de habitantes nos EUA e 8.737 por milhão de habitantes no Brasil – por sua vez, é uma evidência da subnotificação da crise sanitária no cenário brasileiro.
O novo coronavírus já causou mais de 580 mil óbitos no mundo. São cerca de 13,4 milhões de casos confirmados, de acordo com dados atualizados nesta quarta.
De acordo com boletim do Ministério da Saúde divulgado nesta quarta, a incidência da doença é de 9.359 por milhão de habitantes no Brasil e a mortalidade é de 359 por milhão. Dessa forma, o País está na 10ª e 11ª posição, respectivamente, em comparação com outras nações.
Platô de mortes: A evolução da pandemia no Brasil
Os gráficos epidemiológicos brasileiros nas últimas semanas assumem a forma de platô, em vez de um pico de casos e mortes. Pela primeira vez, houve queda nos casos confirmados por semana. O indicador foi de 37.620 na semana epidemiológica 27, encerrada em 4 de julho, e passou para 37.549 na semana epidemiológica 28, encerrada em 11 de julho, de acordo com boletim divulgado nesta quarta.
Já a média diária de de óbitos por semana permanece estável e alta desde a 22ª semana epidemiológica, encerrada em 30 de maio. Na semana epidemiológica 27, o indicador foi de 1.028. Na semana seguinte, passou para 1.029.
A previsão da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) é que o ápice da pandemia no Brasil será em agosto.
Em coletiva de imprensa nesta terça-feira (14), a OPAS chamou atenção para o fato de que a região das Américas foi responsável por 60% das novas infecções em todo o mundo na última semana. “Até 13 de julho, tínhamos 6,8 milhões de casos e 288 mil mortes nas Américas. Isso equivale a aproximadamente metade de todos os casos e mortes notificados no mundo. Na semana passada, a região registrou 60% de todos os novos casos e 64% de todas as novas mortes”, afirmou a diretora da OPAS, Carissa F. Etienne.
Na segunda (13), a América Latina se tornou a segunda região no mundo no raking de vítimas fatais do novo coronavírus, atrás apenas do continente europeu. O Brasil é o país mais afetado na região.
Segundo relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) com dados do domingo (12), Estados Unidos e Brasil foram responsáveis por metade das 230.370 novas infecções registradas em apenas 24h. Na data, foi alcançado um novo recorde de casos diários da doença.
Epidemia se agrava no Sul e Centro-Oeste
Na comparação entre as duas últimas semanas epidemiológicas – encerradas em 4 de julho e 11 de julho, respectivamente – na região Sul, os casos aumentaram 8% e os óbitos, 36%. No Centro-Oeste, o crescimento de diagnósticos foi de 6% e de mortes, de 26%.
No Sudente, os casos aumentaram 7% no período e os óbitos subiram 3%. Na região Norte, houve redução de 20% dos óbitos e 9% de casos no período. No Nordeste, foi registrada queda de 8% dos casos confirmados de uma semana para outra e de 4% nas mortes.
Persiste a interiorização da pandemia no Brasil. Segundo a pasta, até 11 de julho, 5.428 (97,4%) dos municípios registraram casos do novo coronavírus e 3.056 (55%) tiveram óbitos. Em 18 de junho, eram 4.590 municípios com casos e 2.165 com mortes.
De acordo com o Ministério da Saúde, até 11 de julho, foram registradas 404.037 hospitalizações por SRAG. Desse total, 191.466 (47,4%) foram diagnosticadas como covid-19, 129.896 (32,2%) não têm causa especificada, 77.348 (19,1%) estão em investigação e o restante foi causada por outros vírus respiratórios.
Do total de internados por SRAG, 50,4% eram pessoas acima de 60 anos, 57% do sexo masculino. Quanto à raça/cor, 31,3% era parda, 28,4% branca, 4,6% preta, 1% amarela, 0,3% indígenas e 34,3% dos registos não tinham essa informação.
Quanto aos óbitos por SRAG, foram 105.129 em 2020, sendo 68.842 (65,5%) confirmados como covid-19, 31.544 (30,0%) não têm causa especificada,4.011 (3,8%) estão em investigação e o restante foi causada por outros vírus respiratórios.
O perfil de vítimas fatais da pandemia é de 71,8% acima de 60 anos, 58% masculino e 61% com ao menos um fator de risco. Quanto à raça/cor, 35,3% era parda, 25,2% branca, 4,9% preta, 1,1% amarela, 0,4% indígenas e 33,1% dos registos não tinham essa informação.
Flexibilização aumenta transmissão
Estados que flexibilizaram o isolamento social em junho já enfrentam um aumento de casos ou de óbitos por covid-19. Na contramão do que dizem os pesquisadores e sanitaristas, o Ministério da Saúde evita relacionar os fatos.
A pasta publicou em junho uma portaria com orientações para retomada das atividades. O documento não inclui critérios como ocupação dos hospitais ou situação epidemiológica para decidir flexibilização do isolamento, nem segue orientações da OMS.
Um estudo feito por pesquisadores da Rede CoVida – Ciência, Informação e Solidariedade identificou que houve diminuição da taxa de transmissão maior nos estados que não flexibilizaram o isolamento. De acordo com a pesquisa, os melhores resultados foram observados onde houve adoção do lockdown.
Mais gente ficou em casa nos estados cujas ações governamentais foram mais restritivas, como Amapá, Bahia, Ceará, Maranhão e Mato Grosso.
Subnotificação da pandemia
Em junho, houve uma série de idas e vindas na forma de divulgação dos boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde. Após atrasar o horário de envio dos dados, a pasta deixou de informar o acumulado de mortes e diagnósticos em 5 de junho. A divulgação regular só foi retomada em 9 de junho, após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).
A pasta também chegou a anunciar que adotaria uma nova metodologia, com boletins diários de óbitos ocorridos nas últimas 24 horas e não confirmados. Na prática, ela inviabiliza uma comparação com os dados anteriores, dificultando a compreensão da evolução da pandemia no Brasil. Ela também atrapalha a comparação dos números com outros países, por adotar critérios distintos do resto do mundo. A mudança, contudo, não foi colocada em prática até agora.
Há uma atraso entre o dia em que a morte ocorreu e o dia em que essa informação foi confirmada em laboratório que pode ser superior a um mês. Por esse motivo, para fins de entender a curva epidemiológica e viabilizar comparações, os países têm disponibilizado os dados dos óbitos por data de confirmação.
Até o momento, 14 de maio foi o dia com maior mortes ocorridas, com 1.009 registros, segundo boletim do Ministério da Saúde divulgado nesta quarta.
Com a mudança de critério pelo governo federal, as “novas mortes” serão menores. Na prática, a medida também evita notícias negativas sobre recordes de óbitos diários. Integrantes do governo de Jair Bolsonaro, especialmente a ala militar, têm criticado esse tipo de cobertura jornalística.
No final de junho, o Ministério da Saúde anunciou que a notificação de casos do novo coronavírus poderia ser feita pelo médico apenas por critérios clínicos, sem esperar o resultado laboratorial. Na prática, a mudança pode ser um incentivo a menos para aplicação de testes RT-PCR (moleculares), forma mais precisa de diagnóstico.
De acordo com painel do próprio ministério, até 2 de julho, foram distribuídos 3,8 milhões de testes RT-PCR. Após essa etapa, também há entraves até o resultado do exame. Como o HuffPost vem noticiando, a lentidão no processamento de testes laboratoriais, que detectam tanto a causa da morte quanto se a pessoa foi contaminada, leva a um atraso nos dados oficiais.
Há uma subnotificação de casos confirmados ainda maior devido à limitação de testes de diagnóstico. Na prática, o exame tem sido direcionado apenas aos casos graves. A baixa testagem é um dos entraves apontados por sanitaristas para a flexibilização do isolamento social.
Segundo balanço apresentado nesta quarta, 2.223.803 exames do tipo moleculares RT-PCR foram realizados, sendo 1.278.201 processados em laboratórios públicos e 945.602 na rede particular. Desses testes, 745.228 tiveram resultados positivos, sendo 477.914 (37,3%) públicos e 267.314 (28,2%) particulares.
Foram feitos outros 2.920.335 exames sorológicos, segundo a pasta. Dessa forma, o total de testes aplicados é de 5.144.138. Os testes moleculares informam se a pessoa está infectada naquele momento. Os sorológicos, se há anticorpos. Segundo o painel do ministério, até 15 de junho, 7,5 milhões de teses rápidos sorológicos foram distribuídos.