Coronavírus: variante sul-africana reduz eficácia de vacinas
Embora não comprometa proteção, nova cepa parece ser a que mais desafia os imunizantes desenvolvidos até agora
Dados de ensaios clínicos com duas vacinas contra a covid-19 mostram que uma variante do coronavírus identificada pela primeira vez na África do Sul está reduzindo sua capacidade de proteção contra a doença, ressaltando a necessidade de vacinar um grande número de pessoas o mais rápido possível, disseram cientistas.
As vacinas da Novavax e da Johnson & Johnson foram saudadas como importantes armas futuras na redução de mortes e hospitalizações em uma pandemia que infectou mais de 101 milhões de pessoas e matou mais de 2 milhões em todo o mundo.
Mas elas foram significativamente menos eficazes na prevenção de covid-19 em participantes do estudo na África do Sul, onde a nova variante potente está disseminada, em comparação com países onde esta mutação ainda é rara, de acordo com dados preliminares divulgados pelas empresas.
“Claramente, as mutações têm um efeito diminutivo na eficácia das vacinas”, disse Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, em uma entrevista. “Podemos ver que seremos desafiados.”
A Novavax relatou resultados de ensaio intermediários na quinta-feira (28) que mostraram que sua vacina foi 50% eficaz na prevenção de covid-19 entre pessoas na África do Sul.
Isso se comparou aos resultados em estágio avançado do Reino Unido, em que a vacina foi até 89,3% eficaz na prevenção da doença.
Na sexta-feira (30), a J&J disse que uma única injeção de sua vacina contra o coronavírus foi 66% eficaz em um ensaio massivo em três continentes.
Mas havia grandes diferenças por região. Nos Estados Unidos, onde a variante sul-africana foi relatada pela primeira vez nesta semana, a eficácia atingiu 72%, em comparação com apenas 57% na África do Sul, onde a nova variante, conhecida como B 1.351, representou 95% dos casos de covid-19 registrados no estudo.
A outra variante altamente transmissível descoberta pela primeira vez no Reino Unido e agora em mais da metade dos estados dos EUA tem sido menos capaz de escapar da eficácia da vacina do que sua contraparte sul-africana.
As novas descobertas, no entanto, levantam questões sobre como as vacinas altamente eficazes da Pfizer com a parceira BioNTech e da Moderna se sairão contra novas variantes. As duas vacinas mostraram uma eficácia de cerca de 95% em testes conduzidos principalmente nos Estados Unidos antes que as novas versões do vírus fossem identificadas em outros países.
“É uma pandemia diferente agora”, disse Dan Barouch, pesquisador do Beth Israel Deaconess Medical Center do Centro Médico da Universidade de Harvard, em Boston, que ajudou a desenvolver a vacina J&J.
Barouch disse que agora há uma grande variedade de novas variantes circulando, incluindo no Brasil, África do Sul e até mesmo nos Estados Unidos, que são substancialmente resistentes aos anticorpos induzidos pela vacina.
O presidente-executivo da Pfizer, Albert Bourla, disse que há “uma grande possibilidade” de que as variantes emergentes possam tornar a vacina da empresa ineficaz.
“Ainda não é o caso… mas acho que é muito provável que isso aconteça um dia”, disse Bourla no Fórum Econômico Mundial. A farmacêutica está considerando se sua vacina precisa ser alterada para se defender contra a variante sul-africana.