Coronavírus: Reino Unido ultrapassa Itália e tem maior número de mortes por covid-19 da Europa

Houve 29.427 registradas em todo o território — um número que o secretário de Relações Exteriores, Dominic Raab, diz ser 'uma grande tragédia'

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O Reino Unido agora tem o maior número de mortes por coronavírus da Europa. Houve 29.427 registradas em todo o território — um número que o secretário de Relações Exteriores, Dominic Raab, disse ser “uma grande tragédia”.

Com isso, o Reino Unido ultrapassa a Itália, anteriormente o país com o número mais alto da Europa, que hoje tem 29.315 mortes.

No início da pandemia, a estratégia do governo britânico contra o coronavírus baseava-se na “mitigação” e na “imunização de rebanho”, ou infecção de grande parte da população, que na teoria desenvolveria imunidade coletiva com o objetivo de proteger todos os cidadãos.

Mas mais tarde a política mudou, após a publicação de um modelo matemático apresentado pelo Imperial College de Londres que deu um panorama extremamente sombrio de como a doença ia se propagar pelo país, como ia impactar o sistema público de saúde (o NHS, similar ao SUS) e quantas pessoas iam morrer.

Os números do Reino Unido são considerados graves pelo governo. No entanto, especialistas dizem que pode levar meses para que comparações entre países possam ser feitas.

Após pesquisa e críticas, mudança de curso

Alguns dizem que o governo do primeiro-ministro Boris Johnson, do Partido Conservador, demorou a responder à crise mesmo depois que a ameaça ao Reino Unido se tornou clara. O Partido Liberal-Democrata pediu uma investigação pública sobre a taxa de mortalidade.

Quando foi questionado sobre isso no passado, Raab disse que os números eram sombrios, mas defendeu o tratamento da crise no Reino Unido, dizendo que o número de mortos seria maior se os ministros não tivessem seguido conselhos científicos e tomado decisões importantes no momento certo.

A estratégia inicial do governo era a mitigação, com o objetivo de não fechar o país. “Mitigação” implica aceitar que não se pode deter o coronavírus e, portanto, diminuir sua propagação e tratar de evitar ao máximo casos de contágio que fariam colapsar o sistema público de saúde. Esse era o plano do governo britânico até dia 16 de março.

Enquanto outros países da Europa adotavam medidas duras, como fechamento de escolas, cancelamento de eventos e severas restrições de viagem, o Reino Unido tinha controles relativamente modestos.

Naquele momento, os partidos da oposição expressaram preocupações de que o Reino Unido não estava tomando medidas semelhantes a alguns países da UE e pediram para que o governo revelasse as bases científicas por trás das medidas do Reino Unido para combater o surto.

Depois de mudanças de estratégia do governo britânico, lugares como estações de trens começaram a ficar vazios
Getty Images

Mas o estudo do Imperial College mostrou que se o governo continuasse com o modelo de mitigação, não haveria só enorme quantidade de mortos, mas o sistema de saúde entraria em colapso.

Com a estratégia de mitigação do contágio, além das mortes, o problema seria manter o sistema de saúde para os casos que ocorreriam a longo prazo.

“Nossa maior conclusão desse modelo é que a estratégia de mitigação — a que o governo britânico estava adotando — não é factível porque supõe respaldar-se em um sistema de saúde que se veria superlotado e com capacidade de recuperação abalada”, dizia o documento.

Depois disso, Johnson, começou a falar de “supressão”, que é a estratégia que foi utilizada na China e que significa romper a cadeia de contágio com o distanciamento social de toda a população, em vez de “mitigação”.

A estratégia nacional em seguida mudou, com restrições mais duras.

Johnson foi diagnosticado com o novo coronavírus no final de março, chegou a ser internado em uma UTI, mas se recuperou.

É correto comparar números de mortes de países diferentes?

Robert Cuffe, chefe de estatística da BBC, diz que há ressalvas a serem feitas a uma comparação entre o número de mortes da Itália e do Reino Unido, incluindo o fato de que a população do Reino Unido é cerca de 10% maior que a da Itália, e a maior cidade da Grã-Bretanha é três vezes maior que a maior da Itália.

Cada país também adota diferentes regimes de testes, com a Itália realizando mais testes do que o Reino Unido até o momento.

Falando na coletiva de imprensa diária sobre coronavírus, Raab disse que as 29.427 vidas perdidas eram “uma tragédia”.

Mas ele afirmou não achar correto fazer comparações internacionais, dizendo: “Não acho que obteremos um veredito real sobre o desempenho dos países até que a pandemia termine, e principalmente até obtermos dados internacionais abrangentes sobre todas as causas de mortalidade”.

Itália enfrentou colapso do sistema de saúde e muitas mortes
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Especialistas apontam alguns motivos para isso. Para começar, a população do Reino Unido é de aproximadamente 66 milhões e a da Itália é de cerca de 60 milhões.

Portanto, o Reino Unido teria que registrar pelo menos 10% mais mortes do que a Itália para ter uma taxa de mortalidade mais alta por pessoa.

Dado que a Itália já passou do pico do surto e agora está registrando significativamente menos mortes por dia que o Reino Unido, isso pode muito bem acontecer.

As formas como os países contam as mortes também precisam ser consideradas. A Itália e o Reino Unido parecem estar contando de maneiras bastante semelhantes – incluindo apenas casos confirmados de covid-19 em suas contagens diárias cumulativas.

Mas, embora seja seguro supor que os números para o número de mortes em hospitais sejam razoavelmente precisos, não está claro se o mesmo pode ser dito sobre mortes em casas de repouso ou em casa.

Como os números diários divulgados pelos dois governos são de pessoas que morreram após testes positivos para coronavírus, a quantidade de testes em andamento também é importante.

Atualmente, o Reino Unido está testando mais pessoas por dia do que a Itália, mas, no geral, a Itália, que está em quarentena há mais tempo, já realizou mais de 2,1 milhões de testes até agora, enquanto o Reino Unido realizou pouco mais de 1,2 milhão.

“Além disso, como você leva em conta o impacto indireto de coisas como pessoas que não estão sendo tratadas para outras doenças?”, questiona o correspondente de saúde da BBC Nick Triggle.

“A maneira mais justa de julgar o impacto em termos de fatalidades é observar o excesso de mortalidade — os números que morrem acima do que normalmente aconteceria. Levará meses, talvez até anos, para que possamos realmente dizer quem tem o maior número de mortos”, diz ele.

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Fonte r7
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