Atraso na vacinação pode jogar Brasil numa era de incerteza
Inércia e irresponsabilidade deixam população sem vacina em meio a um difícil cenário econômico, com desafios que exigem prontidão do governo
O termo “tempestade perfeita” é usado quando diversas e raras circunstâncias se combinam, transformando-se em um desastre. Parece esse o cenário que o governo federal deixa para o país e seu povo já neste final de 2020. Todas as notícias que estão sobre a mesa mostram um Executivo paralisado diante de emergências, incapaz de traçar planos e sinalizar saídas sanitárias que amenizem as evidentes dificuldades econômicas e sociais.
Todos os sacrifícios feitos pelo mundo neste ano de pandemia eram para que a ciência tivesse tempo de encontrar – numa velocidade inédita – alguma vacina. O esforço internacional (de empresas e governos) mostrou-se gigantesco e vitorioso. Dezenas de países (inclusive tão ou mais pobres que o Brasil) já deram início às suas campanhas de imunização. Por aqui, reina o caos.
O Brasil, num movimento único entre todas as nações, se vê em mesquinhas disputas políticas que colocam em risco a saúde da população e a vida de milhões. O que assistimos é a um absurdo jogo de cena em que a irresponsabilidade de nossos governantes é desmascarada a cada vez que um novo país nos humilha com suas campanhas de vacinação executadas de forma racional, pacífica – e rápida.
Chegamos ao réveillon ouvindo frases e provocações comprovadamente inúteis, para não dizer nefastas. Sobram combinações desastrosas nesse furacão que já começa a nos puxar para o centro de uma crise ainda mais aguda que a de 2020. A principal e já antecipada decisão finalmente se concretizou: o auxílio emergencial termina hoje com último depósito para 3,2 milhões de pessoas. Acabou.
Um país nessas condições tão adversas deveria ter um governo completamente engajado em criar soluções – em vez de ocupado em destruir relações internacionais e promover nosso isolamento da comunidade global.
As forças da natureza que nos trouxeram até aqui, aliadas ao amontoado de equívocos, erros de calculo, incompetência, excesso de militância e retórica de fanfarrões se uniram perfeitamente. A tempestade que nos aguarda está bem em cima de nossas cabeças.
Precisamos de um governo que nos conduza nessa travessia. Será longa.