A 40 minutos de ficar sem oxigênio, unidade de saúde recebe cilindros doados
Em paralelo às ações do poder público para tentar solucionar a crise no sistema de saúde em todo o Amazonas, voluntários unem forças e criam campanhas para levar ajuda para o estado. A CNN acompanhou de perto uma dessas iniciativas, no sábado (16), que começou com a chegada de 34 cilindros, no aeroporto da capital manauara.
Às 16h56, um avião para transporte de carga da Azul Linhas Aéreas pousou e, 14 minutos depois, começou a desembarcar a carga de forma prioritária. Em solo, um time de funcionários da companhia aérea, da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), dois militares da FAB (Força Aérea Brasileira) e um grupo de integrantes de organizações sociais recepcionaram a carga.
A partir daquele momento, a primeira parte da campanha ‘SOS AM’ estava feita, com doações de todo o país pedidas pelas redes sociais com apoio de jogadores de futebol e artistas.
“Nós conseguimos doações, conseguimos o voo, conseguimos o apoio da FAB para fazer o transporte e segurança. Estamos com uma equipe muito dedicada fazendo um levantamento dos hospitais, demanda, necessidades para que a gente saia daqui já com uma rota traçada”, explica um dos idealizadores da campanha e coordenador do Salaada Solidário, Thiago Souto.
Após um revezamento para colocar um cilindro por vez, o caminhão cedido pela FAB partiu às 18h09 escoltado por três viaturas do Fera (Força Especial de Resgate e Assalto).
Com o alerta de sirenes das viaturas ligados, o grupo cruza a cidade ao primeiro destino, a SPA Coroado (Sistema de Pronto Atendimento), que fica a 15 quilômetros dali, na zona leste da cidade.
A reportagem acompanhou com exclusividade os bastidores dessa missão. No caminho, o celular de Souto não parava de tocar. Eram pessoas do Brasil inteiro perguntando como podiam ajudar e pedindo dados bancários do projeto para enviarem quantias de dinheiro.
Às 18h40, o veículo entra em uma rua de mão única fechada. Familiares de pacientes internados olham com esperança para os cinco cilindros que vão sendo descarregados. Na entrada, a diretora da unidade, Priscilla Mêne, vibra e agradece os esforços dos envolvidos. Ela revela que a situação da unidade de saúde estava crítica.
“Está chegando esse O2 (oxigênio) na hora certa! Na hora de Deus! Nós estávamos a 40 minutos de acabar o nosso oxigênio e nós somos muito gratos por isso.”, diz Mêne.
A entrega é feita de forma rápida, porque sabem que há uma corrida contra o tempo, e logo o destino seguinte é definido.
“Vamos para a Maternidade Ana Maria.”, explica Souto. Foi lá, onde parte dos bebês internados quase precisaram serem transferidos para outros estados por falta de oxigênio.
Às 19h06, o veículo acessa a parte de trás do hospital, onde a diretora Rosiene Lobo e sua equipe também aguardam a doação de três cilindros.
“Ontem (15), nos chegamos no limite crítico e estávamos preparados para transferir nove bebês que estavam mais estáveis, mas, graças a Deus, o governo atendeu às maternidades, não que sejam prioridade, mas que necessitam muito. E nós conseguimos manter os bebês aqui, sem transferência. Nós estamos incansáveis buscando parceiros e amigos que possam nos ajudar com às balas de oxigênio. E nós precisamos muito.”, desabafa Lobo.
A maternidade referência no estado também recebe pacientes de cidades do interior do Amazonas. São 254 leitos, sendo 60 para bebês em tratamento nas UTI (Unidade de Terapia Intensiva e Semi Intensiva) e 10 para mães intubadas. Para ambos, a oxigenação auxiliar é fundamental.
“Foi um desespero muito grande a gente saber que não poderíamos ser abastecidos. Agora, nós temos uma folga até segunda-feira de manhã. E esses cilindros são muito importantes para o transporte dos bebês e para as mulheres que estão em trabalhos de parto indo para o centro cirúrgico”, diz.
Todos os 34 cilindros foram entregues, na noite de sábado. Na manhã deste domingo (17), os voluntários e parceiros seguem entregando e recebendo mais cargas de oxigênio e itens médicos, na capital e interior.
“Chegaram mais 55 cilindros agora e estamos esperando vir mais, que estão aguardando liberação de voo, em Guarulhos. A gente está anestesiado com tudo que está acontecendo, muito felizes por tudo que estamos conseguindo. A galera está conseguindo ser um pouco mais abraçada por todo mundo”, afirma Souto.