84% dos médicos consideram que a pior fase da pandemia ainda está por vir, diz pesquisa da Associação Paulista de Medicina
O levantamento também mostra que 64% dos médicos dizem que, apesar de trabalharem na linha de frente da Covid-19, ainda não foram testados para a doença.
Pesquisa inédita feita pela Associação Paulista de Medicina (APM) mostra a percepção que os médicos que estão na linha de frente do combate à Covid-19 têm com relação a pandemia não é nada positiva nesse momento da crise. O levantamento aponta que 84,5% dos médicos consideram que a pior fase da pandemia ainda está por vir. Outros 96,6% admitem a possibilidade de faltar profissionais da saúde para o atendimento de pacientes durante o avanço da doença no Brasil.
O levantamento também aponta que 64% dos médicos dizem que, apesar de trabalharem na linha de frente, não foram testados para Covid-9 ainda.
A pesquisa foi realizada no mês de maio com 2. 808 profissionais de todo o Brasil, mas a grande maioria é do estado de São Paulo.
O levantamento da APM informa que 58,5% dos profissionais da saúde de São Paulo dizem que já presenciaram ou souberam de casos de violência contra profissionais que estão na linha de frente no combate à pandemia. Em 17%, houve agressão física, segundo os dados da pesquisa.
Os médicos reclamaram, ainda, que faltam testes para todos os pacientes com suspeita da doença, de acordo com 54,3% deles. Outros 33% afirmam que faltam equipamentos básicos de proteção para os trabalhadores, como máscaras profissionais, aventais (22,7%) e a proteção do rosto, o face shield (22,3%).
Estresse e sobrecarga
Os profissionais de saúde relatam também a sobrecarga de trabalho nessa período. Cerca de 24,7% deles disseram que estão atendendo diariamente mais de 6 pacientes com suspeita ou já com quadro de Covid-19 já confirmado. Em alguns casos, o número de atendimentos passava de 20 por dia.
O excesso de trabalho somado às condições de atendimento e ao estresse está afetando os médicos. Mais de 79% deles disseram que estão apreensivos, pessimistas, deprimidos, insatisfeitos e revoltados. Para muitos desses profissionais, o esgotamento psicológico é consequência recorrente de um dia de serviço nos hospitais.
“É uma sensação de exaustão. Você sai do hospital, querendo tomar um banho e dormir, é tudo muito cansativo”, relata a médica Sckarlet Biancolin.
O presidente da Associação Paulista de Medicina afirma que, além de todas as questões apontadas pelos profissionais de saúde, outro grande problema da categoria está na capacitação dos próprios médicos.
“Essa pandemia deixou bastante claro que é preciso ter um médico, mas um médico qualificado para aquilo que ele vai atender. E é preciso que se invista, e muito rapidamente, em programas intensivos de qualificação, para que se possa dar uma atenção adequada a esse tipo de paciente”, afirma José Luiz Gomes do Amaral.