Ansiedade e depressão: psiquiatra explica oito sinais para procurar ajuda
Estudo realizado pelo instituto Kantar Inclusion Index constatou que, no mundo todo, um terço dos funcionários sofre com problemas relacionados à saúde mental. Ao mesmo tempo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o Brasil ocupa o primeiro lugar em depressão e transtornos de ansiedade entre 18 países, com um índice três vezes maior que a média mundial.
Com base nesses dados, o médico psiquiatra Cyro Masci afirma que o sistema de atenção aos transtornos psiquiátricos do Brasil deixa muito a desejar, o que contribui para esses números escandalosos. “A falta de informação e o preconceito sobre tais problemas são outros fatores que acabam por agravar o quadro. Isso porque muitas pessoas acreditam que tais problemas são algum capricho pessoal ou até mesmo uma espécie de fraqueza moral. E, na verdade, estamos falando de um transtorno médico, com origem em fatores biológicos, sociais e emocionais”, explica.
Diante dessa realidade, Masci propõe prestar atenção a alguns sinais e sintomas que podem sugerir a necessidade de uma avaliação profissional cuidadosa e possível tratamento especializado. O médico destaca oito sinais de alerta:
1 – Ansiedade ou Depressão?
“Embora comumente a ansiedade e a depressão ocorram simultaneamente, ambas têm várias diferenças. A ansiedade tem como característica principal estado de preocupação e agitação debilitantes. Já a depressão, em geral, apresenta-se por meio de grande tristeza, sentimento de inutilidade e desesperança“, esclarece o médico.
2 – Mudança nos hábitos de vida
“Hábitos como comer, beber ou dormir podem estar alterados, tanto para o excesso quanto para redução, e podem ser sinais tanto de ansiedade quanto de depressão”, afirma Masci.
3 – Dificuldade em tomar decisões ou de concentração
“Tanto a ansiedade quanto a depressão podem afetar o que chamamos de funções executivas do cérebro. A ansiedade afeta essas capacidades pela preocupação com que algo possa dar errado. E a depressão altera as funções do cérebro por reduzir tanto a capacidade de interação quanto o interesse no mundo ao redor”, diz Masci.
4 – Apatia e perda de interesse
“Sinais clássicos de depressão são a perda de interesse nas atividades que anteriormente traziam prazer e contentamento, assim como um sentimento de que a vida perdeu o sentido, acompanhado de uma sensação de vazio interior”, explica o psiquiatra.
5 – Desesperança e desamparo
“Sentir-se desamparado, como se nada ou ninguém pudesse fazer algo para melhorar a vida, ou uma grande falta de esperança de que a existência possa melhorar são outros grandes sinais de depressão“, lembra o médico.
6 – Mudanças no estado de humor
“Mudar abruptamente de humor, tanto ficando facilmente irritado como se criticando excessivamente, pode ser tanto um sinal de transtorno de ansiedade quanto de depressão”, acrescenta.
7 – Fadiga persistente
“Qualquer pessoa pode sentir cansaço ao final de um dia puxado. Mas se o cansaço persistir por muito tempo, sem que uma noite de sono adequado ou um dia de repouso restabeleça a disposição, é necessário esclarecer a causa, que pode ser tanto a ansiedade quanto a depressão. Nesse caso, também é imperativo esclarecer se existem outras condições médicas, como Síndrome da Fadiga Crônica, Síndrome de Burnout ou ainda doenças como no funcionamento da tireoide ou uma simples anemia”, orienta Masci.
8 – Desejo de isolamento
“Habitualmente pessoas introvertidas tendem a recuperar energia ficando sozinhas, enquanto extrovertidos ganham energia na companhia de outras pessoas. O que é muito diferente de buscar isolamento por queda no interesse na vida, que ‘não vale a pena’, ou por sentir que será extremamente cansativo”, explica o especialista.
Ansiedade ou tristeza normais
Segundo Cyro Masci, tanto a ansiedade quanto a tristeza são fenômenos comuns a todas as pessoas, e nem sempre exigem tratamento. O médico exemplifica a tristeza normal com algumas situações comuns, “como a que as pessoas costumam sentir depois de uma perda importante, que pode ser o emprego, a morte de uma pessoa próxima, ou de um pet de estimação”.
Já a ansiedade normal, segundo Masci, “é o preço que o ser humano paga. Ancestrais longínquos ficavam em atenção constante a perigos do ambiente, e qualquer coisa que aparente ser um risco, ainda que remoto ou imaginário, tem o potencial de colocar a pessoa em alerta”.
No entanto, quando a depressão ou ansiedade ultrapassam os limites do razoável, seja em intensidade ou na duração, e passam a afetar o cotidiano, alterando a vida no trabalho ou familiar, ou a alegria de viver, é preciso procurar ajuda.
Masci destaca ainda que muitos tendem a desvalorizar esses sintomas, por exemplo, por conviver com muitas outras pessoas que têm ansiedade ou depressão e não buscam tratamento.
Atribuir a uma causa externa também pode ser enganoso. “Muitas pessoas sofrem desnecessariamente, atribuindo seu estado ao passar dos anos, ao excesso de trabalho ou ainda como inevitável por possuir uma doença crônica. Não é o caso. Tanto a ansiedade quanto a depressão são condições que merecem as várias conquistas que a ciência nos propicia, as diversas abordagens e tratamentos disponíveis”, finaliza o psiquiatra.
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