Quem é Paulo Pimenta, “xerife” de Lula para tragédia do RS (e aposta do PT para 2026)
Em meio ao maior desastre climático da história do Rio Grande do Sul, que deixou mais de 150 mortos até esta sexta-feira (17), afetou mais de 2 milhões de pessoas em todo o estado e deflagrou uma verdadeira “operação de guerra” envolvendo os governos federal, estadual e as prefeituras gaúchas, um nome foi catapultado ao centro nervoso da crise.
O jornalista, técnico agrícola e político Paulo Roberto Severo Pimenta, de 59 anos, foi indicado nesta semana pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir o comando da recém-criada Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, com status de ministro de Estado.
Com a escolha de Lula, Pimenta teve de deixar a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República e, como se diz no jargão político, “caiu para cima”, sendo alçado à condição de principal nome do governo federal para coordenar as ações de socorro a um estado totalmente devastado pelas inundações.
A ideia do presidente da República é a de que Pimenta coordene todas as ações da União destinadas à recuperação do Rio Grande do Sul, atuando em conjunto com os demais ministérios, prefeitos das cidades gaúchas e o governador do estado, Eduardo Leite (PSDB).
Nome do PT para o governo do Rio Grande do Sul
Mas o anúncio do nome do deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul para a secretaria extraordinária caiu como uma “bomba” na política local, despertando uma série de críticas explícitas perpetradas por aliados do tucano Eduardo Leite.
Uma das principais lideranças do PSDB em nível nacional e muito ligado a Leite, o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) classificou a indicação de Pimenta como uma “excrescência”.
Segundo Aécio – que foi candidato à Presidência da República em 2014, derrotado no segundo turno por Dilma Rousseff (PT) –, Lula deveria ter consultado o próprio Leite antes de escolher Pimenta para o cargo. A decisão do presidente, segundo o PSDB, foi um desrespeito ao governador.
De acordo com o tucano, a escolha de Pimenta, que tem pretensões de disputar o governo do Rio Grande do Sul em 2026, “é um exemplo de que o presidente está mais preocupado com a politização do que com a efetividade das ações.”
Embora não tenha se posicionado tão abertamente sobre a indicação de Paulo Pimenta para o cargo, o governador admitiu que não foi consultado previamente por Lula. “Estou sabendo pela imprensa”, afirmou o tucano ao jornal Folha de S.Paulo.
Paulo Pimenta é cotado como provável candidato do PT à sucessão de Leite no governo do Rio Grande do Sul, em 2026. Por já estar em seu segundo mandato consecutivo como governador, o tucano não poderá concorrer ao Palácio Piratini no próximo pleito.
Estando à frente das ações do governo federal em prol da reconstrução do estado, a tendência é a de que Pimenta ganhe projeção e até uma dimensão nacional, o que deve cacifá-lo para a disputa eleitoral daqui a 2 anos – ao menos é o que projeta Lula.
“Vou responder com trabalho, espírito público e compromisso com o Rio Grande do Sul. Não me preocupo com as críticas, que são compreensíveis. Cada uma mede a conduta dos outros pela sua régua”, afirmou Pimenta, em entrevista à CNN Brasil.
“O trabalho que nós temos pela frente é um desafio enorme para cada um de nós. Desde o primeiro momento, temos trabalhado, e quero aqui publicamente dizer isso, em absoluta sintonia e parceria com o governo do estado”, disse o secretário extraordinário.
No Palácio do Planalto, interlocutores do presidente dizem que a motivação político-eleitoral não foi o fator determinante para a indicação de Pimenta para o cargo, embora tenha pesado na balança. Esses aliados de Lula avaliam que a ligação do ex-ministro da Secom com o Rio Grande do Sul tornava a escolha quase “inevitável”. Pimenta nasceu na cidade de Santa Maria (RS), uma das mais afetadas pelas chuvas de abril e maio deste ano.
Por outro lado, no próprio entorno de Lula, não foram poucos os que recomendaram ao presidente que optasse por um nome mais “neutro” para o cargo, preferencialmente não filiado ao PT. Um dos especulados para a tarefa era o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB). Lula ouviu, ponderou, mas bancou a escolha final por Pimenta.
Tradicionalmente competitivo na capital Porto Alegre e no Rio Grande do Sul, o PT perdeu força nos últimos anos e não governa o estado desde 2015, quando Tarso Genro deixou o Palácio Piratini após 4 anos de gestão. Antes disso, o partido elegeu Olívio Dutra, em 1998 (ele governou entre 1999 e 2003).
Desde que Tarso deixou o cargo, o Rio Grande do Sul foi governado por José Ivo Sartori (PMDB), de 2015 a 2019; e Eduardo Leite (PSDB), por 2 vezes, de 2019 a 2022 e desde janeiro de 2023.
A trajetória política de Paulo Pimenta
Nascido em Santa Maria (RS), em 19 de março de 1965, Paulo Pimenta é jornalista por formação. Antes de entrar na política partidária, ele teve uma longa atuação no movimento estudantil.
Seu primeiro cargo público foi o de vereador em Santa Maria, por 2 mandatos, entre 1993 e 1998. Em fevereiro de 1999, chegou à Assembleia Legislativa do estado (eleito no ano anterior).
Eleito para a Câmara dos Deputados em 2002, ano em que o PT chegou pela primeira vez ao Palácio do Planalto com a vitória de Lula na eleição presidencial, Paulo Pimenta engatou uma sequência de seis mandatos consecutivos e se tornou um dos nomes mais atuantes da bancada petista.
Ele foi eleito deputado federal em 2002, 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022. Em 1º de janeiro de 2023, tomou posse como ministro da Secretaria de Comunicação Social do terceiro governo Lula.
Antes disso, sua principal experiência no Poder Executivo havia sido em Santa Maria, como vice-prefeito, eleito em 2000, compondo chapa com Valdeci Oliveira (PT).
Durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (2011-2016), Paulo Pimenta esteve à frente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso, entre 2012 e 2013, no primeiro mandato da petista.
Atualmente, ele é o único gaúcho que integra o primeiro escalão do governo Lula.
Combate às “fake news”
Desde o início da tragédia no Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta esteve na linha de frente das ações de resposta do governo federal à onda de notícias falsas sobre os acontecimentos no estado.
Em um dos vídeos publicados em suas redes sociais, ainda enquanto ministro da Secom, Pimenta aparece acusando o que chama de “grupos de extrema direita” de usarem desinformação para prejudicar as ações do governo e confundir a população em meio à tragédia.
Em sua gestão, a Secom encaminhou ao Ministério da Justiça e Segurança Pública um pedido de abertura de investigação de influenciadores digitais que estariam propagando “fake news” nas redes.
“Os conteúdos afirmam que o governo federal não estaria ajudando a população, de que a FAB [Força Aérea Brasileira] não teria agilidade e que o Exército e a PRF [Polícia Rodoviária Federal] estariam impedindo caminhões de auxílio. Destaco com preocupação o impacto dessas narrativas na credibilidade das instituições como o Exército, FAB, PRF e ministérios, que são cruciais na resposta a emergências”, afirmou o ministro, em nota, na ocasião.
Também durante o auge das enchentes no Rio Grande do Sul, Pimenta se envolveu em uma polêmica com o prefeito de Farroupilha, Fabiano Feltrin (PP) – adversário político do PT de Lula. O gestor municipal havia reclamado publicamente que o governo federal não estava enviando recursos ao seu município para auxiliar na ajuda aos desabrigados.
O então ministro da Secom telefonou para Feltrin e colocou o governo federal à disposição do prefeito, que não reagiu bem. “O senhor está ligando para me xingar ou para me ajudar?”, questionou o prefeito de Farroupilha, enquanto gravava a conversa com Pimenta. Ele acabou compartilhando o vídeo nas redes com o seguinte título: “ “Prefeito sendo intimidado pelo ministro Pimenta”.
Assim como o prefeito, o ministro também gravou a conversa ao telefone e a publicou, na íntegra, sem cortes, em suas próprias redes. Pimenta acusou Feltrin de “tentar lacrar na internet” e “criar um factoide”. Foi um dos últimos momentos do petista como chefe da Secom.
Nome completo: | Paulo Roberto Severo Pimenta |
Data de nascimento: | 19 de março de 1965 |
Local de nascimento: | Santa Maria (RS) |
Formação: | Bacharel em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) |
Ocupação: | Jornalista, técnico e agrícola e político |
Principais cargos na vida pública: | Vereador em Santa Maria (1993-1999); vice-prefeito de Santa Maria (2001-2003); deputado estadual pelo Rio Grande do Sul (1999-2001); deputado federal (desde 2003); ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (2023-2024); secretário extraordinário de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul (desde maio de 2024). |
Eleições disputadas: | 1992 e 1996 (para a Câmara Municipal de Santa Maria); 1998 (para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul); 2000 (para a prefeitura de Santa Maria, como candidato a vice); 2002, 2006, 2010, 2014, 2018 e 2002 (para a Câmara dos Deputados) |
Partido: | Partido dos Trabalhadores (PT) |