Lula perde popularidade por não criticar Cuba
O Índice de Popularidade Digital analisa a evolução dos políticos nas redes sociais, como Facebook, Instagram, Twitter, entre
Em termos de popularidade digital, a última semana marcou a alta do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), puxada pela internação hospitalar, e a queda do ex-presidente Lula (PT), motivada por opinião a favor de Cuba.
A evolução dos políticos nas redes sociais é medida diariamente pela consultoria Quaest por meio do Índice de Popularidade Digital (IPD).
Em 12 de julho, Bolsonaro e Lula tinham IPD na casa dos 40 pontos, com 48,38 e 43,18 respectivamente. No dia seguinte, fala crítica do petista aos EUA e favorável ao governo cubana derrubou seu índice para 29,35. Em 14 de julho, chegou ao piso: 27,48.
Nesse mesmo dia, em meio a dores e crise de soluço, Bolsonaro deu entrada no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, e foi transferido para São Paulo. Seu IDP subiu a 67,89 e seguiu em alta até 73,91 no último sábado (17).
A métrica do IPD isola o máximo possível o efeito do uso de robôs nas redes e avalia o desempenho de personalidades da política nacional nas plataformas Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, Wikipedia e Google.
A performance é medida em uma escala de 0 a 100, em que o maior valor representa o máximo de popularidade.
São monitoradas seis dimensões nas redes: fama (número de seguidores), engajamento (comentários e curtidas por postagem), mobilização (compartilhamento das postagens), valência (reações positivas e negativas às postagens), presença (número de redes sociais em que a pessoa está ativa) e interesse (volume de buscas no Google, YouTube e Wikipedia).
Segundo as medições mais recentes, Bolsonaro se mantém na casa dos 70 pontos, e Lula, na casa dos 30.
Na terça (20), o presidente marcou 72,34, e Lula, 31.52. No segundo escalão, estão Ciro com 25,1; José Luiz Datena (PSL) com 22,18; Leite com 19,49; João Doria (PSDB) com 18,94 e Luiz Henrique Mandetta (DEM) com 18,92.
Lula recorreu à violência policial contra negros nos Estados Unidos para defender a legitimidade do governo cubano, alvo de protestos no último dia 11.
“Você não viu nenhum soldado em Cuba com o joelho em cima do pescoço de um negro, matando ele”, escreveu o ex-presidente, em rede social, em referência ao assassinato de George Floyd, homem negro morto pela polícia americana.
Mas os protestos contra o governo cubano foram alvo de repressão: ao menos cem manifestantes, ativistas e jornalistas foram presos.
“O que está acontecendo em Cuba de tão especial para falarem tanto?! Houve uma passeata. Inclusive vi o presidente de Cuba na passeata, conversando com as pessoas. Cuba já sofre 60 anos de bloqueio econômico dos EUA, ainda mais com a pandemia, é desumano. […] Se Cuba não tivesse um bloqueio, poderia ser uma Holanda”, publicou Lula.
“Elogiar Cuba rebaixa a popularidade de Lula ao pior índice desde que ele voltou para a cena eleitoral”, afirma o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest e professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
O analista explica que o tema Cuba é, ao mesmo tempo, crítico para o bolsonarismo e motivo de desconfiança para eleitores de centro. De modo geral, contudo, Lula vem de um período apagado. A estratégia é de submersão: poucos comentários e pouca exposição nas redes sociais.
“É quase que por opção, por não ter feito viagens ou eventos públicos. Interessa a Lula que nada aconteça de agora até a eleição de 2022”, afirma Nunes, lembrando que hoje as pesquisas indicam vitória do petista sobre Bolsonaro.
A ausência de Lula no debate público, negada por petistas, gerou cobranças a respeito de posicionamento do ex-presidente em relação às suspeitas de corrupção no governo Bolsonaro.
O movimento cresceu no dia 30 de junho, quando a hashtag “Lula sumiu” alcançou o ranking de assuntos mais comentados no Twitter.
Já a trajetória de Bolsonaro em seu terreno preferido, o das redes sociais, foi de montanha-russa nos últimos dois meses. De acordo com Nunes, o mês de junho marca o efeito da CPI da Covid sobre a popularidade digital do presidente.
O pior momento para Bolsonaro foi a semana em que as suspeitas no contrato com a Precisa Medicamentos para compra da vacina indiana Covaxin vieram à tona e os irmãos Miranda prestaram depoimento à CPI.
Mas a recuperação do presidente para a liderança isolada do IPD, posição que em geral costuma ocupar, não tardou e foi motivada por uma combinação de fatores.