‘Foi um resultado aquém, mas não um desastre’, diz presidente do PT sobre eleição
SÃO PAULO. Alvo de pressões para deixar o comando do PT, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, reconhece que o resultado da eleição municipal deste ano ficou aquém do esperado, mas, em sua avaliação, não foi um desastre para a sigla. A dirigente ainda defende que o ex-presidente Lula mantenha a sua atuação como principal liderança da legenda, posição que chegou a ser questionada por um membro do diretório nacional.
Pela primeira vez em sua história, o PT não elegeu nenhum prefeito em capitais. Gleisi nega que tenha feito uma avaliação positiva do desempenho do partido nas disputas municipais.
— Não fiz uma avaliação positiva. Agora, não sou derrotista. Sei que os resultados ficaram aquém daquilo que a gente tinha expectativa. Mas nem por isso eu acho que é um desastre.
O principal argumento da direção do PT é que o partido comandará cidades que somam o mesmo número de eleitores do que as conquistadas em 2016, apesar da redução do número total de prefeituras, de 254 foi para 183. Isso ocorreu por causa de conquistas de cidades maiores. Um outro ponto é o fato da legenda ter conseguido vaga no segundo turno em 15 municípios, contra sete de quatro anos atrás. Dos 15 deste ano, venceu em apenas quatro: Diadema (SP), Mauá (SP), Contagem (MG) e Juiz de Fora (MG).
A presidente do partido acredita que a recuperação da força política petista, após o impeachmente da presidente Dilma Rousseff, se dará aos poucos.
— Acho que nós estamos tentando nos recuperar de um grande tombo que tivemos, não só em 2016, mas em derrotas políticas que se acumulam de 2013 pra cá. Não é fácil isso, você não faz recuperação em salto. Recuperação é processo — argumenta.
Correntes minoritárias, como a Articulação de Esquerda e Novos Rumos, intensificaram desde domingo um movimento para que a troca da direção do partido seja antecipada, em virtude do mau resultado da eleição. O mandato de Gleisi vai até 2023.
— No PT, a tradição é cumprir mandato e respeitar a democracia. Quem dá golpe são os outros — descarta a presidente do PT.
Gleisi ainda rebate a defesa feita por Alberto Cantalice, membro do diretório nacional e integrante da corrente majoritária CNB, da saída de cena de Lula para abertura de espaço para novas lideranças.
— Essa questão de atribuir à liderança do Lula os desafios políticos e eleitorais do PT é mais uma injustiça, entre tantas, que são cometidas contra ele. Todas as lideranças que nós temos hoje no PT, desde Marília (Arraes), que é a mais jovem, passando por (Fernando) Haddad e por Jaques Wagner, foram estimuladas pelo Lula desde o início. Então, é ruim dizer que o Lula não abre espaço para novas lideranças.
A presidente do PT diz que Lula abriu espaço não só para integrantes do partido, mas também de outras legendas do campo da esquerda.
— Liderança não se constrói por decreto, nem por determinação nem por abrir passagem. Ninguém está impedido de liderar, de ser um líder, de ocupar espaço, de se colocar por conta do Lula. O Lula foi quem mais abriu espaço para esquerda no Brasil. Se não fosse ele, qual seria o espaço político para a esquerda? Eu acho um equívoco de avaliação política.
Para Gleisi, o PT ainda deve contar com Lula por muitos anos.
— O Lula é uma grande liderança, ele continua sonhando, lutando, tem energia e vontade de continuar contribuindo com o processo. Se vai ser candidato ou não, isso não vem ao caso. Mas ele é uma das figuras mais importantes não só do PT, mas do cenário político nacional. Por que deixaríamos de contar com o Lula
Sem citar Cantalice, Gleisi ironizou o pedido de renovação feito pelo colega de partido, que foi integrante da executiva petista por dois mandatos e agora está no diretório nacional:
— O mais interessante é que o dirigente que está pedindo abertura de espaço para renovação está na direção do partido há mais de dez anos. Podia começar por si mesmo o processo de renovação que prega.