Filiação de jovens a partidos políticos segue caindo, mas polarização reverte quedas de PT e PL
Do movimento das Diretas Já, nos estertores da ditadura, às Jornadas de Junho de 2013, o rosto que simboliza o pedido por mudanças, o dos jovens, está cada vez mais escasso na política partidária brasileira. Levantamento do GLOBO a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que a filiação de pessoas de 16 a 24 anos em partidos políticos chegou este ano ao menor patamar em uma década, embora a polarização tenha revertido as quedas de PL e PT a partir de 2020.
Assim como a sigla que recebeu Jair Bolsonaro em 2021, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a crescer às vésperas das últimas eleições, mas divide terreno no campo da esquerda com o PSOL, que pela primeira vez lidera em número de jovens filiados entre todas as agremiações.
Na esteira das denúncias de corrupção no âmbito da Operação Lava-Jato, que intensificou o desgaste da política a partir de 2014, a participação dos jovens começou a minguar, caindo de 415 mil filiados para pouco mais de 180 mil atualmente — os dados são relativos ao mês de março de cada ano.
A queda foi brusca entre siglas tradicionais, como o MDB (de 37,6 mil para 15 mil em dez anos); o PSDB (30,7 mil para 8,6 mil); e o próprio PT (53,7 mil para 17,4 mil). Para cientistas políticos, a chegada dos jovens à vida adulta se deu num contexto de rejeição aos partidos.
“A pessoa estava entrando na vida política, a partir dos 16 anos, e vivenciando um momento em que parte significativa da sociedade estava manifestando o seu desafeto com relação à política e aos partidos”, avalia Soraia Marcelino Vieira, professora do Departamento de Geografia e Políticas Públicas da UFF.
Mudança de rota
Os petistas, no entanto, têm mais motivos que os demais para crer que vão retomar a presença dos militantes mais novos nas fileiras partidárias. O número atual representa quase o dobro do que a sigla registrou em 2020, quando sua maior figura histórica estava com direitos políticos suspensos e o retorno à Presidência da República ainda era uma ideia distante.
Àquela altura, o PT chegou a ter apenas 9,1 mil jovens, na sequência de episódios traumáticos nos anos anteriores, sobretudo o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016 e a prisão de Lula em 2018. Agora, ao contrário de PSDB e MDB, o partido vem reconquistando a adesão dessa parcela de filiados, em movimento paralelo ao processo de volta da legenda ao poder.
“A luta política que aumentamos em 2022 fez com que alguns segmentos entendessem que era importante crescer a participação, sobretudo entre jovens. Vivemos quatro anos de muitas dificuldades”, diz o diretor da Executiva Nacional da Juventude do PT, Mario Magno, em relação ao governo Bolsonaro.
Jovens filiados à partidos políticos no Brasil (de 16 a 24 anos)
- 2014: 415.471
- 2016: 358.311
- 2018: 340.574
- 2020: 233.669
- 2022: 214.603
- 2024: 180.717 (até o momento)
Um exemplo do que diz Magno é a estudante Alice Felix, de 19 anos, que se filiou ao diretório do PT em Natal quando tinha apenas 16 anos. “Eu vi tudo o que estava acontecendo ao meu redor e acabei me identificando com a organização do PT, e isso me levou à filiação. Naquele momento, eu queria exercer a minha cidadania dentro do partido, o que me dava mais espaço para conversar sobre as minhas pautas.””
Apesar do crescimento de filiação de jovens, os dados de pesquisas de aprovação do governo no recorte de idade não são positivos. No último levantamento da Quaest, por exemplo, metade dos brasileiros de 16 a 34 anos diz que desaprova o governo.
Trata-se do maior percentual entre os três blocos etários separados pelo instituto. Recentemente, um dos gestos de Lula para conquistar esse eleitorado foi o lançamento do programa Pé-de-Meia, que cria uma espécie de poupança para estudantes de baixa renda do Ensino Médio a fim de evitar a evasão escolar.
Assim como o PT teve na força de Lula um impulso para a filiação de jovens, o PL aposta no ex-presidente Jair Bolsonaro e no ideário político representado pelo bolsonarismo. Antes da filiação do então chefe do Planalto, em 2021, o partido era mais um do Centrão, perdeu jovens ao longo dos últimos dez anos, mas, a exemplo dos petistas, passou a ganhar filiados de 2022 para cá.
São hoje 10,6 mil pessoas de até 24 anos filiadas à sigla, patamar parecido com o de 2014. Nos últimos quatro anos, foi registrado um aumento de 81% desses eleitores no partido — mais expressivo que o crescimento entre idosos (11,8%) e adultos maiores de 25 anos (8%). Essa ascensão passou a balizar um movimento da sigla em direção aos mais novos, com a criação do PL Jovem.
Apesar do papel central de Bolsonaro, o PL conta ainda com nomes de agrande aderência entre jovens, como o deputado federal Nikolas Ferreira (MG), deputado federal mais bem votado de 2022. Antes da ida a Brasília, ele foi o segundo vereador com mais votos em Belo Horizonte, aos 23 anos. Figura midiática, Nikolas virou o “garoto propaganda” do braço da legenda voltado para a juventude e inspira lideranças como Luan Lennon, diretor do PL Jovem no Rio.
“Nas ruas, escuto muito que sou o ”Nikolas carioca”, pela idade e ligação à nossa pauta. Nossa ideia dentro da juventude do PL é achar os “Nikolas” em todas as cidades do Rio de Janeiro e levá-los para o debate público. E, como estamos em ano eleitoral, quem sabe não os levar para o pleito”, avalia Lennon, que ingressou na sigla em 2021, quando tinha 21 anos, por admiração a Bolsonaro.
Aposta ideológica
Correndo por fora dos partidos mais poderosos, que têm em mãos fartos recursos do fundo partidário, há outros exemplos de siglas que conseguem atrair jovens com base em valores ideológicos. É o caso do PSOL, na esquerda. A legenda praticamente dobrou o número em dez anos, passando de 10,4 mil para 19 mil, liderando a lista de siglas com filiados de até 24 anos, à frente do PT e do MDB, líder em 2022.
“O PSOL atrai mais jovem porque é o partido que abraçou as pautas e agendas do nosso tempo e cujo as lideranças tem capacidade de dialogar com essa juventude”, diz Paula Coradi, presidente do PSOL, que avalia o cenário. “Com a polarização política há uma maior disposição em ocupar os espaços políticos como os partidários. Porém, o debate politico deve ser baseado no respeito, na tolerância.”