Debate sobre apoio a Nunes agrava crise no PSDB e pode provocar debandada, dizem fontes
Temor dos tucanos ouvidos pela CNN é de um efeito cascata, com prefeitos do interior de São Paulo e políticos locais de outra estados migrando para outras siglas
Um texto de despedida nas redes sociais marcou a saída do ex-presidente do PSDB paulistano, o vereador João Jorge. Vice-presidente da Câmara e ex-secretário municipal da Casa Civil pode ser o primeiro de uma série de tucanos que devem voar pra longe do ninho, segundo diversas lideranças do partido ouvidas pela CNN.
“O partido está desorganizado, bagunçado, sem rumo. Estamos a Deus dará. Muitos de nós vamos sair, quase todos eu arrisco, mas eu tô puxando a fila. Daqui a pouco vem mais”, disse João Jorge à CNN. Nas redes sociais, Jorge enalteceu os 32 anos de PSDB e confirmou apoio à reeleição do prefeito Ricardo Nunes.
Para o vereador, a situação se gravou após a viagem do deputado federal Aécio Neves a São Paulo na última semana. O mineiro defende candidatura própria, a despeito da vontade de boa parte dos oito vereadores tucanos de apoiar o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), à reeleição – algo já expressado por eles em atos públicos ou conversas privadas.
Outra notícia que piora o cenário no partido é a saída do presidente municipal do PSDB do comando da sigla. Orlando Faria, homem próximo e ex-secretário de Bruno Covas, decidiu se afastar do partido. Procurado pela CNN ele disse que deixou o cargo por motivos pessoais e que já mandou uma carta para a executiva nacional comunicando a decisão.
Em conversas reservadas, aliados de Faria dizem que o motivo de seu afastamento foi uma suposta aliança entre o presidente estadual do partido, Paulo Serra, e o prefeito da capital, Ricardo Nunes. O grupo de Faria no PSDB defende uma aliança com a pré-candidata do PSB, Tabata Amaral. O próprio Faria já se reuniu com ela. A única alternativa possível seria a candidatura própria. Os dois caminhos foram apontados pelo próprio Faria à CNN.
“Precisamos definir qual será o papel do PSDB. Enquanto isso não for definido claramente, ainda sofreremos baixas. A saída de João Jorge, materializa o desejo de uma parte do partido hoje que não quer candidatura em São Paulo”, disse Paulo Serra à CNN.
Aécio Neves também foi procurado pela CNN, mas ainda não se manifestou.
As estimativas mais moderadas de tucanos ouvidos pela CNN apontam quatro dos oito vereadores da bancada paulistana migrando para outros partidos. As mais pessimistas sugerem sete desertores.
A escalada vem a menos de um mês da convenção estadual do PSDB, marcada para 18 de fevereiro. A movimentação também deve se agravar entre 7 de março e 5 de abril, período em que o Tribunal Superior Eleitoral delimitou a janela partidária, prazo para vereadores trocarem de legenda sem sofrer sanções eleitorais.
Prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando culpou o atual presidente nacional do partido e governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, pela crise na legenda. Leite determinou a troca de comando no PSDB paulistano em outubro de 2023. Orlando Faria substituiu Fernando Alfredo, que tinha aderência na militância de base e apoio da bancada municipal.
“A saída do João Jorge é um reflexo da interferência das instâncias superiores no PSDB em São Paulo. A força da nossa base e da militância vai ser fundamental na reconstrução do partido”, disse ele à CNN.
Procurado pela CNN, Eduardo Leite ainda não respondeu ao contato da reportagem.
Terra de Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, Franco Montoro, José Serra e Geraldo Alckmin, São Paulo sempre foi a trincheira de resistência do PSDB. Isso mudou em 2022, quando o partido nem sequer conseguiu levar seu então candidato, Rodrigo Garcia, ao segundo turno das eleições.
O temor dos tucanos ouvidos pela CNN é de um efeito cascata, com prefeitos do interior de São Paulo e políticos locais de outra estados migrando para outras siglas.