Collor pede desculpas por confisco da poupança em 1990
BRASÍLIA — O ex-presidente e atual senador por Alagoas Fernando Collor de Mello (Pros) usou sua conta no Twitter nesta segunda-feira para pedir desculpas pelo bloqueio de parte do saldo de cadernetas de poupança e contas-correntes durante seu governo, em 1990.
Em uma sequência de publicações na rede social, Collor afirmou que a “decisão foi dificílima” e que a medida foi tomada para tentar conter a hiperinflação, que chegava a 80% ao mês.
“É chegado o momento de falar, com ainda mais clareza, de um assunto delicado e importante”, escreveu o senador. “Acreditei que aquelas medidas radicais eram o caminho certo. Infelizmente errei. Gostaria de pedir perdão a todas aquelas pessoas que foram prejudicadas pelo bloqueio dos ativos”.
Como parte do que ficou conhecido como Plano Collor para estabilização da economia, o governo limitou os saques a 50 mil cruzeiros, moeda que substituiu o cruzado novo. O valor é equivalente a R$ 18 mil reais hoje.
No caso dos fundos de curto prazo e do overnight (refúgio de parte da classe média diante da “inflação galopante”), o resgate era ainda mais limitado. Só poderiam ser sacados 20% ou NCZ$ 25 mil, o que fosse maior, pagando ainda tributação de 8% sobre o valor retirado.
A promessa do governo à época era desbloquear o restante do dinheiro em um ano. Em 30 de julho de 1991, o presidente assinou uma portaria autorizando o início da devolução do dinheiro a partir de 15 de agosto, 13 parcelas mensais.
O senador contou que sabia dos riscos envolvidos na decisão, mas afirmou que o Brasil estava “no limite” e explicou que combater a inflação era seu principal objetivo.
“Durante a preparação das medidas iniciais do meu governo, tomei conhecimento de um plano economicamente viável, mas politicamente sensível, com grandes chances de êxito no combate à inflação. Era uma decisão dificílima. Mas resolvi assumir o risco”, disse ele.
Há 10 anos, já como senador, Collor já havia lamentado a decisão e pedido desculpas. Nas últimas semanas, o ex-presidente tem aumentado sua interação nas redes sociais, onde é constantemente cobrado pela confisco da poupança.
O Plano Collor não deu certo. Em 1990, a economia brasileira apresentou contração de 4,3%, a maior no pós-guerra, igualando-se à de 1981. A inflação alcançou 1.620% no acumulado dos 12 meses. No ano seguinte recuou para 472%, voltando a passar dos 1.000% em 1992, quando Collor sofreu impeachment. Os preços dispararam de novo, chegando a 2.477% em 1993, ano anterior ao lançamento do Plano Real, responsável por finalmente estabilizar a moeda brasileira.