Chapa Guilherme Boulos-Luiza Erundina anima a militância do PSOL em SP
Em conversas reservadas, lideranças do PT reconhecem que a dupla tem potencial de avançar sobre a base petista
Guilherme Boulos e Luiza Erundina tinham planos diferentes para 2020, mas as circunstâncias parecem atraí-los de forma irresistível para a mesma caminhada. No último ano, o ex-presidenciável do PSOL percorreu 23 estados, auxiliando na organização de movimentos populares, sem se descuidar dos sem-teto, a sua base. Pretendia manter a peregrinação e consolidar-se como uma liderança popular de expressão nacional. Dirigentes psolistas não param de assediá-lo com a proposta de disputar a prefeitura paulistana pelo partido. Aos 85 anos, a ex-prefeita anunciou a intenção de encerrar a carreira política ao término de seu sexto mandato no Congresso, mas também tem sido instigada a adiar a aposentadoria e ser vice na chapa encabeçada por Boulos.
Em conversas reservadas, lideranças do PT reconhecem que a dupla tem potencial de avançar sobre a base petista
Guilherme Boulos e Luiza Erundina tinham planos diferentes para 2020, mas as circunstâncias parecem atraí-los de forma irresistível para a mesma caminhada. No último ano, o ex-presidenciável do PSOL percorreu 23 estados, auxiliando na organização de movimentos populares, sem se descuidar dos sem-teto, a sua base. Pretendia manter a peregrinação e consolidar-se como uma liderança popular de expressão nacional. Dirigentes psolistas não param de assediá-lo com a proposta de disputar a prefeitura paulistana pelo partido. Aos 85 anos, a ex-prefeita anunciou a intenção de encerrar a carreira política ao término de seu sexto mandato no Congresso, mas também tem sido instigada a adiar a aposentadoria e ser vice na chapa encabeçada por Boulos.
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A ideia ganhou asas em notas de jornal e não tardou a seduzir a militância. Pelas redes sociais multiplicaram-se as manifestações de apoio à candidatura, vista com potencial de surpreender na disputa. “Nessa eleição, é esperada uma certa pulverização de candidaturas, até pelo impedimento às coligações proporcionais”, observa o cientista político Claudio Couto, da FGV. “Os partidos tendem a lançar candidatos próprios para alavancar a votação dos vereadores. Com essa dispersão, nomes mais conhecidos pelo eleitorado, com um certo recall, tendem a beneficiar-se. Apesar de o PSOL não ser um partido de muito apelo na cidade, Erundina e Boulos têm essa vantagem. Ela foi prefeita. Ele acabou de disputar uma eleição presidencial. Não é pouco.”
Entusiasta da chapa, o deputado federal Ivan Valente acredita que a dupla tem chances reais de atrair o apoio da maioria progressista. “Em 2018, tivemos uma eleição muito polarizada, e Boulos sofreu com o voto útil, assim como ocorreu com Erundina em 2016. Ela começou a campanha pela prefeitura paulistana com 11% das intenções de voto e terminou com pouco mais de 3%”, diz Valente. “Agora, o cenário é distinto. Tudo indica que teremos muitos candidatos. Se não lançar o Haddad, acho difícil o PT apresentar outro nome capaz de empolgar.”
Ambos tinham outros planos para 2020, mas têm sido instigados a disputar a prefeitura paulistana
Em conversas reservadas, lideranças do PT reconhecem que a dupla tem potencial de avançar sobre a base petista. Presidenciável do partido nas últimas eleições e ex-prefeito, Fernando Haddad resiste a participar das eleições municipais. Até mesmo o ex-presidente Lula, que ao sair da prisão o incensou, acabou convencido de que é melhor respeitar a decisão do apadrinhado. O risco é mesmo muito grande. Se disputar e não levar, Haddad sofreria sua terceira derrota eleitoral consecutiva, algo impensável para quem sonha com o Palácio do Planalto.
Para complicar ainda mais o cenário, o partido dispõe de ao menos sete pré-candidatos, nenhum deles capaz de construir unidade no chamado campo progressista. Entre os nomes inscritos no processo eleitoral ou ventilados como possíveis representantes do PT, figuram o ex-ministro Alexandre Padilha, os ex-secretários municipais Jilmar Tatto e Nabil Bonduki, os deputados federais Paulo Teixeira e Carlos Zaratini, o vereador Eduardo Suplicy e a militante Andreza do Nascimento Almeida, a Zazá. O ex-presidente Lula não deve intervir, e orientou os correligionários a evitar ao máximo uma disputa fratricida.
O PSOL também promoverá um debate para escolher seu candidato. A deputada federal Sâmia Bomfim, jovem liderança feminista, e o deputado estadual Carlos Gianazzi, com longa trajetória de militância na área de educação, apresentaram-se na disputa. Poucos acreditam, porém, que eles seriam capazes de desbancar Boulos, caso ele tope o desafio. Nos últimos meses, o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto migrou de uma posição bastante resistente para outra, bem mais simpática à ideia. Deixou claro, contudo, que não se lançará na disputa caso Haddad assuma a candidatura petista.
Erundina mostra-se um pouco mais relutante à ideia de adiar os planos de aposentadoria. “Em princípio, não desejo ser candidata a mais nada. Prefiro concluir este mandato e atuar fora da política institucional, até porque nunca abandonarei a militância”, afirmou a CartaCapital. Nem por isso ela descarta a ideia: “Se for convidada para ser vice de Boulos, teria de pensar muito a respeito”.
“Marta e Datena também têm apelo nos segmentos populares”, observa Cláudio Couto da FGV
A indefinição apenas aumenta a ansiedade dos apoiadores. “Não paro de encher o saco do Boulos para se candidatar. Não vejo o motivo de tanta hesitação, ainda mais com a Erundina, que é uma mulher maravilhosa”, comenta a atriz e produtora cultural Paula Lavigne, companheira de Caetano Veloso. “Temos de parar de ver eleições como corrida de cavalo. É importante ter bons candidatos para que o debate seja de alto nível, ainda mais em São Paulo, que vive um apartheid social, basta ver a quantidade de moradores de rua que disputam as calçadas na região dos Jardins. Essa dupla tem muito a contribuir.”
No PSOL, o prazo para a inscrição de chapas vai até 15 de fevereiro. De acordo com o presidente da sigla, Juliano Medeiros, dificilmente o partido abrirá mão de lançar um nome próprio à prefeitura paulistana. “Infelizmente, não se criaram condições mínimas para uma candidatura unitária da esquerda na cidade.” O dirigente tampouco acredita que o voo-solo possa comprometer a aliança no Rio de Janeiro, onde o PT deve apoiar o psolista Marcelo Freixo. “Não trabalhamos nessa perspectiva de troca de apoio. No Rio foi possível construir essa unidade. Em São Paulo, não.”
No fim do ano, difundiu-se na mídia a versão de que o PT estudava a possibilidade de apoiar a candidatura de Marta. Suplicy, no próprio partido ou em outra legenda de esquerda. Para um arguto observador do PSOL, tratava-se de mais uma manobra petista para afastá-la dos braços de Ciro Gomes. Sem partido, ela negocia com o PDT e o PSD. Para outra liderança psolista, um eventual apoio do PT para Marta só iria contribuir para empurrar parte da militância petista para a campanha de Boulos e Erundina. “Ela apoiou o impeachment de Dilma, migrou para o MDB de Eduardo Cunha e Michel Temer, não moveu uma palha por Lula”, enumera o deputado Ivan Valente. “Há ressentimentos que não podem ser superados.”
A eleição paulistana guarda numerosos desafios ao campo progressista. Um deles é a disputa pelos corações e mentes nas periferias. “Marta foi prefeita, tem os seus redutos. Além disso, o apresentador José Luiz Datena também penetra nos segmentos populares, o que pode embaralhar ainda mais o jogo”, observa Couto.
O voto útil que sempre assombrou os psolistas é outro fator de preocupação, acrescenta o cientista político. “Ao ser diagnosticado com câncer e ter o seu drama pessoal exposto, o prefeito Bruno Covas atraiu certa simpatia da população. Considerado carta fora do baralho até pouco tempo, o tucano pode se reeleger, sobretudo se conseguir acelerar a inauguração de obras públicas”, avalia o professor. “Precisamos ver como ele vai se posicionar, mais à direita ou à esquerda. Neste último caso, parte do eleitorado progressista pode fazer o cálculo de que é melhor um ‘centro civilizado’ do que uma direita raivosa.”