Perito judicial preso pela Lava Jato no RJ tinha vida de luxo, diz MPF
Preso na manhã desta quinta-feira (5), Charles Fonseca William tinha dois imóveis na Praia de Icaraí - um deles com valor estimado em R$ 7 milhões.
O perito judicial Charles Fonseca William vivia uma vida de luxo e ostentação – nada compatível com os vencimentos de sua profissão. É o que afirma o Ministério Público Federal (MPF), órgão responsável pelo pedido que resultou em sua prisão na manhã desta quinta-feira (5).
“O Charles tem uma vida muito luxuosa. Por exemplo, é dono de dois imóveis na Praia de Icaraí – um deles, é novíssimo, recém-inaugurado e estimado em R$ 7 milhões. É um apartamento de altíssimo padrão. Inclusive, na época da aquisição, ele declarou que o apartamento custava R$ 2 milhões, o que já era incompatível com o valor de mercado. Ele também tem uma casa de alto padrão na Casa de Jeribá, em Búzios”, explicou o procurador da República, Felipe Bogado.
O MPF afirma que Charles, em troca de propina, fraudou laudos para favorecer empresas de ônibus e superfaturou valores para relatórios no judiciário fluminense.
A suspeita é que Charles tenha recebido quase R$ 5 milhões do caixa paralelo das viações.
A Operação Expertus é baseada nas colaborações premiadas de Lélis Teixeira, ex-executivo da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio (Fetranspor); de Marcelo Traça, ex-presidente o Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio (Setrerj); e de Álvaro Novis, doleiro e operador do esquema de propina comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral.
Agora, o MPF vai analisar os materiais apreendidos nos imóveis de Charles – documentos e computadores – para avaliar se outros peritos participam do esquema.
Jóias encontradas com o fiscal também chamaram a atenção dos investigadores.
“Com ele, encontramos muitas jóias. No entanto, elas não foram apreendidas porque tinham nota fiscal. Algumas, porém, eram da H. Stern. Como a empresa é uma colaboradora do MPF, podemos investigar se há indícios de lavagem de dinheiro na aquisição delas”, explicou o procurador Felipe Bogado.
Vinte anos de irregularidades
Segundo as investigações, um dos casos em que Charles William atuou favoravelmente às empresas de ônibus em troca de pagamentos ilícitos diz respeito aos processos que tramitavam na Justiça Estadual, por conta do rebaixamento das tarifas das empresas intermunicipais ocorrido no final dos anos 90.
Por meio de dois decretos estaduais, em 1999, houve redução de 15% das tarifas praticadas pelas empresas permissionárias de transporte urbano e intermunicipal.
O Tribunal de Justiça do RJ, no entanto, declarou a nulidade dos decretos, o que levou ao ajuizamento de mais de 100 ações das empresas de ônibus para reaver seus prejuízos.
Nessas ações, foram realizadas perícias contábeis para definir o montante que cada empresa teve de prejuízo com essa redução declarada ilegal.
Segundo os procuradores que assinam o pedido de prisão, são várias as “práticas insistentes e sistemáticas de corrupção e lavagem de dinheiro a partir de um agente que deveria estar a serviço do Estado e da Justiça, mas que na verdade pautava sua atuação em favor das empresas de ônibus em troca de vertiginosas quantias, utilizadas para custear uma vida de luxo e ostentação”.
Ainda segundo os investigadores, nas planilhas de Álvaro Novis, doleiro e operador do esquema de propina comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral, foram identificados pagamentos de R$ 4,9 milhões entre 2012 e 2015. As entregas eram registradas com o codinome “Charles”, no endereço do escritório do perito em Niterói.
O MPF identificou também inúmeras ligações telefônicas entre Charles William e o empresário de ônibus José Carlos Lavouras, que vive em Portugal, foragido da Justiça desde a Operação Ponto Final.