O ex-secretário extraordinário de Integração Governamental do Tocantins Elmar Batista Borges, conhecido como Cenourão, e a mulher dele Tatiane Felix Arcanjo, presos na operação Carotenóides da Polícia Federal são suspeitos de ser ‘laranjas’ na compra de veículos, que na verdade tinham como verdadeiro dono o então governador Marcelo Miranda. A informação consta na decisão judicial que determinou a prisão dos dois nesta quarta-feira (25).
Na linguagem popular, o termo “laranja” passou a ser utilizado para se referir a um indivíduo que empresta seu nome para transações financeiras e comerciais criminosas, ocultando a identidade do verdadeiro responsável pelo crime.
Conforme a decisão do juiz federal João Paulo Abe, durante a operação Reis do Gado, deflagrada pela PF em 2016 pra investigar corrupção e lavagem de dinheiro, um carro no valor de R$ 114 mil foi apreendido na casa do então governador. Acontece que o veículo estava em nome de Tatiane Felix Arcanjo.
Ao apurar a forma de compra do carro, a PF identificou que a negociação foi efetuada por Cenourão. Na época, ele exercia a função de chefe de gabinete do governador. Segundo as investigações, na época, Cenourão usou Tatiana “para dissimular a aquisição do bem em favor do governador, cuja compra teria sido executada com recursos auferidos ilicitamente”, diz a decisão.
Ainda segundo o documento, durante buscas feitas pela PF, foi apreendido um laptop no gabinete do então governador, o qual tinha uma apólice de seguro do veículo, tendo como segurado Marcelo Miranda.
Segundo a decisão, o casal também tinha procurações para fazer movimentações. Em um desses casos, Tatiane transfere uma caminhonete a um homem, sendo que o bem é incompatível com a renda da mulher, que dizia ser dona de casa.
Além disso, foram identificadas procurações com a outorga de amplíssimos poderes a Cenourão para movimentar contas bancárias de terceiros. Ainda conforme a PF, há indícios de que ele é proprietário oculto de uma casa lotérica – que está registrada em nome de outra pessoa – e tem poder para movimentar a conta, contrair dívidas e receber pagamentos. A outorga de tais poderes, de acordo com a polícia, é indicativa de que a empresa é controlada por Cenourão e pode estar incluída em atos de lavagem de capitais.
Todo o esquema foi revelado por meio de delator suspeito de fazer parte da associação criminosa. Ele aponta outros laranjas usados na compra de fazendas, empresas agropecuários, veículos e aeronaves, que na verdade eram de propriedade da família Miranda.
Operação Carotenóides
A operação foi deflagrada pela PF nesta quarta-feira e culminou na prisão de Cenourão e da mulher dele. A suspeita é que eles façam parte de uma organização criminosa suspeita de lavagem de dinheiro. Segundo a PF, o grupo estaria usando ‘laranjas’ no registro de bens móveis e imóveis com o objetivo de ocultar a origem ilícita dos recursos.
Segundo a PF, 12 policiais participam da operação para cumprir os mandados em Natividade e Imperatriz (MA). A investigação é um desdobramento da operação “Reis do Gado”, realizada em novembro de 2016, a qual apura o crime de lavagem de dinheiro no Tocantins ocorrida entre 2005 e 2012.
De acordo com a polícia, o objetivo dessa ação é aprofundar as investigações, com foco em investigados que figuraram como laranja nos registros de veículos, bem como procuradores e intermediadores na negociação de fazendas, participando no processo de lavagem do dinheiro ilícito.
O nome da operação faz referência aos apelidos utilizados pelas pessoas.
Operação Reis do Gado
A Operação Reis do Gado foi deflagrada no dia 28 de novembro de 2016, quando foram cumpridos mandados no Tocantins, Distrito Federal, Goiás, Pará e São Paulo. O governador do Tocantins na época Marcelo Miranda (PMDB), o ex-governador do estado Siqueira Campos foram levados à sede da PF para prestar depoimento. O então secretário de infraestrutura Sérgio Leão foi preso temporariamente.
O suposto esquema de fraudes em licitações públicas envolvia empresas de familiares e pessoas de confiança do governador e aconteceu entre 2005 e 2012, segundo a PF. Até o momento, foram identificados que R$ 200 milhões foram efetivamente lavados.
Na época, a PF disse que a suposta lavagem era feita, ora pela compra e venda de gado, ora pela compra e venda de fazendas. Uma das fazendas compradas no Pará teria sido registrada por R$ 20 mil, sendo que o valor da propriedade chegava a R$ 40 milhões. A polícia investiga se houve a participação de cartorários no registro do imóvel. A PF disse que a lavagem envolve outros bens como aeronaves, carros e salas comerciais.