Temor de recessão deve fazer empresas dos EUA terem menor lucro desde 2020

Resultados da temporada de balanços do segundo trimestre caminham para ser os piores em quase dois anos

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As empresas de capital aberto nos Estados Unidos devem entregar o menor crescimento de lucros no 2.º trimestre desde o fim de 2020, em meio ao temor de uma recessão à vista.

Além de cristalizar o efeito da subida de juros para controlar a disparada de preços no país, os resultados do período podem se tornar um desafio para o desempenho futuro das ações em Wall Street, segundo analistas consultados pelo Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

A temporada de balanços nos Estados Unidos tem início nesta semana, com gigantes do setor financeiro como Citigroup, JPMorgan, Wells Fargo e Morgan Stanley revelando seus números do período. Além dos grandes bancos, a PepsiCo, de alimentos e bebidas, também puxa a fila.

O lucro das empresas do S&P 500, que reúne as 500 maiores companhias listadas nos EUA, deve apresentar expansão de 4,1% no 2.º trimestre, de acordo com estimativa revisada para baixo da norte-americana FactSet. Antes, a previsão era de alta de 5,9%.

Será, assim, o menor crescimento de lucros reportado pelo índice desde o quarto trimestre de 2020, quando o avanço registrado foi de 3,8%, e as economias foram impactadas pelos bloqueios implementados para conter a pandemia da covid-19.

“Seis dos 11 setores (do S&P 500) devem relatar crescimento de lucros no trimestre, liderados pelos setores de energia, indústria e commodities”, diz o vice-presidente e analista sênior de resultados da FacSet, John Butters. “Mas espera-se que cinco segmentos tenham uma queda nos lucros, puxados pelo setor financeiro.”

Em termos de receitas, contudo, os analistas seguem otimistas. A estimativa da FacSet aponta para um aumento de 10,1% no segundo trimestre frente um ano antes, contra uma projeção anterior mais tímida, de avanço de 9,6%.

Alta do juro, para conter inflação, se reflete em Wall Street

Os resultados dos balanços do 2.º trimestre são vistos como um dos principais gatilhos para o desempenho futuro das ações das companhias listadas nos Estados Unidos, na opinião de bancos em Wall Street e consultorias econômicas. No entanto, diante de uma inflação persistente e o risco de uma recessão a reboque, o horizonte não é dos melhores.

“Embora o crescimento da receita deva permanecer relativamente saudável, vemos decepção frente ao consenso sobre as perspectivas para as margens de lucro”, diz o diretor global de estratégia de ações da Oxford Economics, Daniel Grosvenor.

De acordo com o Morgan Stanley, as estimativas de ganhos para o S&P 500 e o Nasdaq 100, que reúne as cem maiores empresas não financeiras da bolsa de tecnologia, estão 20% acima das vistas após a grande crise financeira de 2009.

“Vários sinais importantes apontam para uma desaceleração das expectativas de lucros futuros nos próximos meses a partir desses níveis elevados”, afirma a equipe de análises financeiras do banco norte-americano.

As próprias empresas já estão sinalizando uma projeção negativa para o lucro por ação no 2.º trimestre e no fechamento de 2022.

Das mais de 100 empresas que forneceram uma orientação para o intervalo de abril a junho, 71 foram negativas e 32, positivas.

“De fato, o 2.º trimestre tem o maior número de empresas do S&P 500 emitindo orientação de lucro por ação negativo para um trimestre desde o 4.º trimestre de 2019”, observa Butters, da FacSet.

Aperto

Além do cenário macro, as sinalizações negativas para o 2.º trimestre têm como pano de fundo ainda fortes perdas em Wall Street.

Com o aperto monetário mais intenso nos Estados Unidos, diante da maior inflação em quatro décadas, cresce o temor de que a maior economia do mundo enfrente uma recessão em breve, o que afeta o apetite de risco em Wall Street.

Como consequência, o S&P 500 teve na primeira metade do ano o seu pior semestre desde 1970, quando a inflação também assombrava os Estados Unidos.

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