Setor de serviços decepciona em fevereiro e deve frear revisões otimistas do PIB brasileiro
Setor terciário é responsável por cerca de 70% da economia brasileira e quedas recentes devem impactar otimismo
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta terça-feira (12) que o setor de serviços brasileiro recuou 0,2% na base mensal, frustrando as expectativas do mercado, que esperava crescimento de 0,8%. Além disso, o IBGE tornou publico também que em janeiro o setor de serviços recuou 1,8% frente a dezembro, não 0,1%, como divulgado anteriormente.
O setor de serviços representou em 2020 cerca de 70% de todo o produto interno bruto brasileiro (PIB). Após um pequeno intervalo de otimismo nos últimos meses, com valorização das commodities e do Real, alguns analistas já esperam que as revisões para cima sejam interrompidas.
“Os dados da pesquisa mensal de serviços (PMS) surpreenderam negativamente. O tom negativo do resultado vem não só da queda inesperada no mês de fevereiro, mas também pela revisão dos dados de janeiro” comenta Luca Mercadante, economista da Rio Bravo Investimentos.
Mercadante destaca que a performance dos serviços de informação e de “outros serviços” pesaram negativamente sobre o índice – as duas atividades, na sequência, recuaram 1,2% e 0,9%.
Ele pontua ainda que os serviços prestados às famílias ficou praticamente no zero a zero, com alta de 0,1%, enquanto se esperava um avanço mais forte, por conta da queda dos casos e mortes por covid-19. “Mesmo com o fim dos efeitos da onda de Ômicron vista em janeiro, os serviços continuam a sentir a queda da renda real causada pela alta inflação e os efeitos da política monetária conduzida no ano passado”, afirma.
O Goldman Sachs, por outro lado, chega a ver com bons olhos a pequena expansão do setor de serviços a famílias. “Esperamos que alguns dos setores de serviços ainda afetados pelo Covid (em particular o de serviços às famílias) se recuperem ainda mais nos próximos meses, em conjunto com mais progressos no cenário do Covid e estímulos fiscais renovados”, comentam.
Os analistas do banco americano, no entanto, também não deixam de apontar a inflação, as taxas de juros mais altas, o alto endividamento das famílias e vários outros fatores como “ventos contrários à atividade de serviços no curto prazo”, mas veem a tendência de melhora mais forte. “As transferências fiscais federais adicionais para famílias de baixa renda com alta propensão a consumir devem proporcionar algum amortecimento aos gastos privados”, justificam.
Para analistas, dado mais fracos do setor de serviços segura projeções de alta do PIB
De qualquer maneira, os primeiros comentários são de que os números divulgados nesta terça devem frear o recente otimismo que vinha surgindo para a alta do PIB em 2022. Recentemente, por exemplo, o Credit Suisse passou a ver a economia brasileira crescendo 0,2% neste ano, contra queda de 0,5% anteriormente, e o Itaú BBA firmou que vê o Brasil crescendo 1%, ante 0,2%.
“A gente viu um gatilho recentemente de revisões do PIB para cima e agora esses dados do setor de serviços devem segurar essa tendência. Não devemos ter revisões adicionais”, afirma Mirella Hirakawa, economista sênior da AZ Quest. “Traz a informação de que começamos o ano de 2022 um pouco pior do que era esperado anteriormente e as estimativas agora devem ficar abaixo do 1%. Nós vemos algo próximo a 0,6%”.
A XP Investimentos, por sua vez, afirmou em relatório sobre o dado que o seu tracker, de estimativas de alta de frequência, passou agora a ver o PIB brasileiro avançando 0,3% no primeiro trimestre de 2022, ante 0,4% na última divulgação.