Reunião do Conselho da Petrobras e balanços de CSN, Itaúsa e Transmissão Paulista; BRF elevada, São Martinho rebaixada e mais
Confira os destaques do noticiário corporativo na sessão desta terça-feira (23)
SÃO PAULO – Em destaque no noticiário, o Conselho de administração da Petrobras se reúne para examinar pedido do governo de realização de Assembleia Geral Extraordinária para discutir os próximos passos da companhia, com destaque para a troca de CEO.
Enquanto isso, o Banco do Brasil informou na segunda não ter recebido qualquer indicação de mudança na composição de seu corpo diretivo, após rumores na véspera também de troca de CEO no banco estatal.
A temporada de resultados também ganha forças, com destaque para CSN, CSN Mineração, números da Transmissão Paulista e da Itaúsa. Após o fechamento, serão divulgados os balanços de Pão de Açúcar e Unidas.
Atenção ainda para as recomendações, com o Bradesco BBI rebaixando São Martinho e Morgan Stanley elevando recomendação para BRF. Confira mais destaques:
Petrobras (PETR3;PETR4)
O Conselho de administração da Petrobras se reúne nesta terça-feira para examinar pedido do governo de realização de Assembleia Geral Extraordinária para discutir os próximos passos da companhia, após o presidente Jair Bolsonaro indicar o general da reserva Joaquim Luna e Silva, diretor-geral da Itaipu Binacional, para ocupar o cargo de presidente da estatal. Na véspera, os papéis caíram cerca de 20%, na pior queda desde 9 de março de 2020, em meio aos sinais de maior intervenção estatal na empresa. Veja mais sobre o que esperar da reunião do Conselho de Administração da Petrobras clicando aqui.
Em entrevista à GloboNews, Marcelo Mesquita, membro do conselho de administração da Petrobras, disse não acreditar numa renúncia coletiva do colegiado, em protesto à interferência do presidente Jair Bolsonaro na troca do comando da estatal. Segundo o Credit Suisse, a notícia é positiva, já que uma disrupção no Conselho poderia enfraquecer os mecanismos de governança da companhia e abrir mais espaço para interferências. “O Conselho não tem expectativa de votar a indicação do CEO hoje à noite”, apontam os analistas.
Vale destacar que, na noite da véspera, o relator da Lei de Responsabilidade das Estatais no Senado, o senador Tasso Jereissati enviou carta aos conselheiros da Petrobras e ao presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Marcelo Barbosa, para alertar que a troca de comando da companhia feita pelo presidente Jair Bolsonaro está em desacordo com a legislação aprovada em 2016. Na carta, o senador tucano manifesta preocupação com a decisão do presidente e diz que a decisão de Bolsonaro não visa o interesse da empresa. Veja mais clicando aqui.
Na segunda-feira, os mercados reagiram negativamente à troca do comando da Petrobras de Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Luna e Silva, anunciada no final da semana anterior pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Os papéis preferenciais da estatal desabaram 21,5%, enquanto as ações ordinárias despencaram 20,5%. O Ibovespa caiu 4,9%.
A desvalorização da Petrobras ultrapassou a marca de R$ 100 bilhões em dois pregões.
CSN (CSNA3) e CSN Mineração (CMIN3)
A CSN, empresa cuja ação foi a maior alta do Ibovespa em 2020 (veja mais clicando aqui) teve um lucro líquido de R$ 3,897 bilhões no 4º trimestre de 2020, 3,5 vezes maior do que o número de R$ 1,134 bilhão no mesmo período de 2019. Em 2020, o lucro total foi de R$ 4,239 bilhões, cerca de o dobro de R$ 2,245 bilhões em 2019,
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado totalizou R$ 4,738 bilhões nos últimos três meses de 2020, cerca de o triplo do R$ 1,580 bilhão em igual período do ano anterior.
A receita líquida no trimestre subiu 50,1%, passando de R$ 6,524 bilhões para R$ 9,794 bilhões entre outubro a dezembro do ano passado.
As vendas de aço tiveram aumento de 10% e as de minério de ferro recuaram 16% no quarto trimestre de 2020.
A companhia ainda projeta atingir um índice de alavancagem financeira ajustada – a relação entre a dívida líquida e o Ebitda ajustado – de aproximadamente 1,0 vez e R$ 15 bilhões de dívida líquida ao final de 2021.
De acordo com o Credit Suisse, a CSN divulgou um forte conjunto de resultados, com o Ebitda ajustado superando as expectativas dos analistas em 12%, principalmente devido aos custos mais baixos do que o esperado na divisão de aço da CSN (8% abaixo do esperado pelos analistas) e preços realizados do aço mais altos (6% acima do esperado pelo Credit).
A performance forte também se deveu a preços mais altos do minério de ferro, parcialmente ofuscados por volumes menores devido a chuvas e a restrições ligadas à Covid.
Pelos cálculos do Credit, o fluxo líquido de caixa veio em R$ 3,5 bilhões, apoiado pelo Ebitda mais forte que, junto à valorização do real, reduziu a dívida líquida de R$ 30,6 bilhões no terceiro trimestre para R$ 25,6 bilhões no quarto trimestre.
Os analistas Caio Ribeiro e Gabriel Galvão possuem recomendação outperform (desempenho acima da média) para as ações CSNA3, com preço-alvo de R$ 53; o banco acredita que os preços do minério continuarão fortes em 2021, acima de US$ 100 por tonelada e avalia que uma demanda maior no mercado nos próximos trimestres deve continuar a impulsionar o balanço.
Já a CSN Mineração, que estreou as suas ações neste mês na B3, teve lucro de R$ 1,34 bilhão no quarto trimestre de 2020, alta de 88,5% ante o resultado do mesmo período do ano anterior. A receita líquida, por sua vez, subiu 53%, a R$ 4,85 bilhões.
O Ebitda foi a R$ 2,98 bilhões, 146% acima do registrado um ano antes. O número, segundo a CSN Mineração, é um recorde trimestral, em meio ao aumento do preço do minério.
Cogna (COGN3)
A Cogna e a Eleva Educação anunciaram na noite desta segunda-feira uma transação comercial que as duas companhias classificam como o maior acordo do setor de ensino básico no país.
Pelo acordo, a Eleva vai pagar R$ 964 milhões para ficar com 51 escolas hoje operadas pela Cogna. Por outro lado, a Cogna, por meio de sua controlada Vasta, vai comprar por R$ 580 milhões o sistema de ensino da Eleva. As transações ainda precisam passar pela aprovação do Cade, órgão antitruste brasileiro.
Vale (VALE)
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) zerou sua participação na mineradora Vale ao vender quase 120 milhões de ações que detinha na empresa em operações que levantaram R$ 11,2 bilhões, disseram à Reuters três fontes com conhecimento do assunto.
O movimento, realizado por meio do BNDESPar, braço de participações do banco estatal, ocorre enquanto o BNDES busca se desfazer de ações que possui em diversas empresas para levantar recursos. O banco já havia realizado transações anteriores inclusive com papéis da Vale. Em novembro, uma venda em bloco de ações da empresa levantou R$ 2,54 bilhões.
“O banco aproveitou o momento favorável”, disse uma das fontes sobre a última venda de ações. O BNDES era acionista da mineradora desde a privatização da companhia.
O Morgan Stanley destaca que, na sexta-feira passada, o presidente da Câmara dos Deputados determinou que um projeto de lei para aumentar a alíquota da Contribuição Social (CSLL) para o setor de mineração, de 9% para 15%, seguiria em votação ordinária. Isso significa que a proposta será votada em plenário da Câmara dos Deputados. Lira também decidiu combinar este projeto de lei com outras propostas semelhantes visando aumentar a CSLL das mineradoras.
Na opinião dos consultores políticos ouvidos pelo Morgan Stanley, o projeto de lei tem poucas chances de ser aprovado e os deputados ainda não começaram a discutir o assunto na Câmara.
O processo de aprovação começa na Câmara dos Deputados, onde o projeto deve ser discutido em diversos comitês (por exemplo, Justiça, Orçamento, Previdência Social e Família, Econômico). Se aprovado nessas comissões, o projeto seria votado no plenário da Câmara. Se aprovado na Câmara dos Deputados, seguiria para o Senado, onde seguiria um processo semelhante. Uma maioria simples de votos nas duas câmaras do Congresso é necessária para aprovar o projeto, que então exigiria a assinatura do presidente para se tornar lei.
“Se aprovado, acreditamos que esse projeto de lei impactaria negativamente as mineradoras brasileiras sob nossa cobertura (Vale, CSN, Usiminas, Nexa). No entanto, julgamos ser baixa a probabilidade de sua aprovação no curto prazo devido ao moroso processo legislativo no Brasil e ao fato de propor uma mudança importante na tributação de uma grande indústria que seja relevante para futuros investimentos no país. Dito isso, como o país precisa enfrentar sua situação fiscal e financiar despesas mais elevadas com o COVID-19, acreditamos que é importante monitorar este projeto e outros que possam estar relacionados a impostos mais altos no setor de mineração (por exemplo, proposta do Senado no início do ano passado um projeto de lei semelhante para aumentar a CSLL do setor de mineração em 20 pontos percentuais entre 2020-2030; não houve novas atualizações neste projeto de lei)”, apontam os analistas do Morgan.
Itaúsa (ITSA4)
A Itaúsa teve leve alta do lucro no quarto trimestre, uma vez que o desempenho positivo de empresas industriais mais do que compensou os lucros menores da holding com o Itaú Unibanco ITUB4.SA, afetado por maiores provisões para calotes devido à crise gerada pela pandemia da Covid-19.
A empresa anunciou nesta segunda-feira que teve lucro líquido de R$ 3,66 bilhões no quarto trimestre, alta de 6,2% ante mesma etapa de 2019.
O avanço na performance da Duratex no segmentos de materiais para construção civil, ganhos maiores com exportações da fabricante de calçados Alpargatas e apreciação do valor justo de ativos da empresa de gasodutos NTS justificaram a melhora no resultado, explicou a Itaúsa.
A companhia, que também anunciou um programa de recompra de até 250 milhões de ações e o pagamento de juros sobre o capital próprio em duas tranches, afirmou ainda que tem um prognóstico para seus investimentos em 2021, uma vez que a crise gerada pela pandemia apresenta oportunidades para novos negócios.
Transmissão Paulista (TRPL4)
A Transmissão Paulista viu o lucro líquido do quarto trimestre de 2020 subir 8,4%, a R$ 374,4 milhões, contra os R$ 345,4 milhões registrados nos últimos três meses de 2019. A companhia ainda aprovou dividendos intermediários de R$ 531,2 milhões, implicando rendimento de 3,3% sobre o valor da ação.
O Itaú BBA comentou os resultados anunciados, que indicaram alta de 9,3% no Ebitda ajustado, na comparação anual, em linha com suas estimativas de R$ 642 milhões.
Os analistas do banco apontam que o resultado foi impulsionado pela decisão da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) de incluir o pagamento da Rede Básica de Sistema Existente, ligado ao pagamento de remuneração relacionada ao custo de capital, de cerca de 14% do fluxo de caixa da RBSE.
O banco destacou que a CTEEP prevê a distribuição de R$ 531,2 milhões em dividendos, o equivalente a R$ 0,81 por ação. E destacou geração de caixa “forte”, de R$ 258 milhões, ajustados para o pagamento de R$ 344 milhões em dividendos em novembro.
O Itaú mantém preço-alvo para a CTEEP em 2021 em R$ 26, frente os R$ 24,17 negociados na segunda para os papéis TRPL4 e recomendação outperform (desempenho acima da média).
Movida (MOVI3)
A Movida divulgou nesta terça os resultados para o ano de 2020, indicando expansão de 8,3 pontos percentuais na margem Ebitda de aluguéis de carros, chegando a R$ 895 milhões. No quarto trimestre, a margem Ebitda foi de R$ 305 milhões, recorde de 61,1% na margem de aluguéis.
A frota final chegou a 118.285 carros, expansão de 8.624 versus em relação a 2019. No quarto trimestre, a empresa atingiu o recorde de 3,6 milhões de diárias.
O lucro líquido foi de R$ 184 milhões no quarto trimestre, crescimento de 393% na comparação com o terceiro trimestre de 2020. Desse valor, R$ 139 milhões são recorrentes.
A Movida também anunciou a captação de US$ 500 milhões em um bond vinculado a sustentabilidade com prazo de 10 anos e taxa de 5,25% ao ano, atrelado à meta de redução de 30% na emissão de gás carbônico pela empresa.
A taxa de ocupação na empresa em 2020 chegou a 78,9%, atingindo o recorde de R$ 2,268 na receita por carro no quarto trimestre.
Foram vendidos no último trimestre do ano 9.869 carros com valor médio recorde de R$ 50,1 mil. Assim, a margem Ebitda em seminovos foi de 4%, alta de 5 pontos percentuais na comparação anual.
A empresa destacou que, em março de 2020, realizou um impairment no valor de R$ 246 milhões, a partir de uma visão conservadora das perspectivas para aquele momento. Desde então, consumiu R$ 137 milhões. Em função do cenário positivo, afirma que reverteu R$ 68 milhões no quarto trimestre, mantendo R$ 41 milhões de saldo remanescente.
São Martinho (SMTO3)
Após o anúncio de substituição do presidente da Petrobras, o Bradesco BBI disse afirmar que a perspectiva de ganhos para a São Martinho com o aumento do preço do etanol pode estar sob risco.
O banco não mudou suas estimativas, mas presume que, sem novos aumentos dos preços da gasolina, o preço-alvo para a São Martinho pode cair em R$ 4.
Preços mais baixos do etanol podem alterar os preços dos açúcar, cuja produção poderia ser priorizada em oposição ao etanol no logo prazo. O banco manteve o preço-alvo da empresa em R$ 38, frente os R$ 33,37 negociados na segunda, mas rebaixou sua avaliação de outperform para neutra.
Eletrobras (ELET3;ELET6)
O Credit Suisse comentou a notícia de que o governo federal está considerando retomar o plano de privatização da Eletrobras por meio de uma medida provisória, ao invés de insistir na lei enviada ao Congresso em 2019, uma possibilidade anunciada em fevereiro, quando o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior, anunciou sua renúncia. Os ganhos com a privatização seriam usados para reduzir tarifas de energia.
O banco diz enxergar a perspectiva de privatização como positiva, mas diz que, até que haja mais detalhes dos planos do governo, mantém cautela. Para o setor no geral, diz avaliar que os contratos são fortes, e que o repasse da inflação está garantido. Consequentemente, vê negociações atrativas para empresas não estatais, como Energisa, Equatorial, Cesp, Engie Brasil, Alupar e outras. O Credit diz esperar mais detalhes sobre os planos do governo para se contrapor à pressão inflacionária em 2021, e espera volatilidade para o setor.
Pão de Açúcar (PCAR3)
O Assaí (operação de Atacarejo do GPA) reportou resultados referentes ao quarto trimestre de 2020, que ficou acima das estimativas da XP, explicado por uma forte performance de vendas combinado com uma rentabilidade recorde.
“Esperamos uma reação positiva do mercado dado que a companhia continuou a entregar resultados fortes, tanto em vendas (com vendas mesmas lojas subindo 19,6% na base anual) como em rentabilidade, atingindo um nível recorde de margem EBITDA em 8,2%, que se compara a 7,5% do Atacadão”, aponta a equipe de análise da XP.
Os analistas apontam que os resultados de curto prazo devem permanecer sólidos, enquanto veem o setor estruturalmente melhor no “novo normal” do que antes da pandemia devido a políticas flexíveis de home office e novos hábitos de consumo. Além disso, veem a cisão da operação como um evento importante para destravar valor para os acionistas ao permitir uma reavaliação do múltiplo das ações para patamares mais próximos aos seus pares.
“Reiteramos nossa recomendação de compra e preço-alvo para o fim de 2021 de R$ 103 por ação para PCAR3, e a mantemos como nossa preferência no setor”, destacam.
BRF (BRFS3)
Os analistas do Morgan Stanley elevaram a recomendação das ações da BRF para equalweight (exposição em linha com a média do mercado).
“Acreditamos que as margens da carne bovina nos Estados Unidos serão estruturalmente mais altas, e a JBS ainda tem espaço para subir (recomendação overweight, top pick). No Brasil, as preocupações de longo prazo sobre os preços do frango e a concorrência de alimentos processados permanecem, mas o curto prazo é mais construtivo agora. Já a Minerva pode ‘navegar’ bem pelos custos mais altos e o valuation parece muito atrativo para ignorar”, apontam os analistas do banco.
Banco do Brasil (BBAS3)
O Banco do Brasil informou na segunda não ter recebido qualquer indicação de mudança na composição de seu corpo diretivo. O fato relevante divulgado pela instituição se deve o recente noticiário envolvendo a companhia e a oscilação atípica dos papéis. As ações do banco despencaram 11,65% nesta segunda, em meio aos temores de que o BB seria o próximo alvo de interferências do governo. Em valor de mercado, a empresa perdeu R$ 10,9 bilhões apenas no pregão de ontem.
Yduqs (YDUQ3) e Ser (SEER3)
Após uma reunião com Daniel Infante, da Educa Insights, especializada no mercado de educação, analistas do Bradesco BBI destacaram que as intenções sobre matrícula no setor caíram no segundo semestre de 2021, devido aos efeitos duradouros da crise de covid.
O ensino a distância também foi afetado, mas se mantém forte, e os cursos mais elitizados devem liderar. Um ciclo mais longo de matrículas no primeiro semestre deve elevar o custo de aquisição de clientes, forçando pequenos atores a se adaptarem.
Além disso, descontos mais agressivos de matrículas devem afetar os preços atualizados.
O banco diz avaliar que tanto as matrículas para ensino a distância quanto presencial parecem estar abaixo das iniciativas iniciais, o que pode ser um efeito temporário do adiamento do Enem. Para o ano de 2021, diz esperar números “muito melhores” do que os de 2020. Mas o primeiro semestre ainda deve ser desafiador.
O Bradesco BBI manteve sua preferência pela Yduqs, com preço-alvo em 2021 de R$ 52, frente a R$ 31,58 negociados na segunda; e para a Ser, com preço-alvo em 2021 em R$ 21, frente os R$ 13,02 negociados na segunda. Ambas as empresas têm avaliação em outperform.
(Com Estadão Conteúdo, Bloomberg e Reuters)