Retorno de Abílio Diniz ao Pão de Açúcar: por que o mercado reagiu tão bem?
Durante a gestão da família Diniz, companhia obteve fortes resultados.
As ações do grupo Pão de Açúcar (PCAR3) dispararam 7% na máxima desta segunda-feira (02) após rumores de que o empresário Abílio Diniz planeja retornar a empresa fundada por seu pai em 1948.
Segundo informações do colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, Diniz está em negociações iniciais com o grupo Casino, maior acionista da companhia. Mas por que o rumo ajudou nas ações da companhias?
Lívia Rodrigues, analista de Research da Ativa Investimentos, acredita que o empresário não deve voltar ao controle da companhia no curto prazo, mas a notícia pode ser benéfica para o investidor.
Isso porque, lembrou a especialista, as marcas que fazem parte do Casino são negociadas com um grande desconto de governança, já que algumas transações feitas pela empresa no passado prejudicaram seus acionistas minoritários, o que levou a uma certa desconfiança por parte do mercado.
A Cnova (que tem capital aberta na França) e a Êxito (Colômbia), por exemplo, têm juntas um valor de mercado de R$ 12,3 bilhões, enquanto o GPA é avaliado em R$ 5,7 bilhões.
“Com uma redução de participação do Cassino (caso o controle fosse comprado por Abílio Diniz) existiria uma possibilidade de redução de risco que o acionista minoritário estaria exposto”, explicou a especialista ao lembrar que o Casino de histórico de transações questionáveis.
“O Casino já fez a venda de ações que tinha no GPA para a Êxito (que estão no mesmo grupo) por um valor muito acima do mercado, com o objetivo de embolsar o caixa sem precisar distribuir dividendos aos minoritários. Por conta do histórico, existe o receio de que a empresa volte a fazer operações desse tipo”, alertou Lívia Rodrigues.
Vitorio Galindo, analista de investimentos CNPI e head de análise fundamentalista da Quantzed, empresa de tecnologia e educação financeira para investidores, lembra que desde quando o Grupo Cassino se aliou aos negócios, fundado por Valentim dos Santos Diniz, pai de Abilio Diniz, em 1999, até o término da parceria em 2013, o resultado da companhia se multiplicou por muitas vezes em praticamente todas as linhas da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE).
“Entretanto, de 2014 em diante, sob o controle exclusivo do Grupo Casino, o resultado acabou por estagnar e o mercado parou de ver crescimento e ganhos de rentabilidade como estava vendo nos anos/década anterior”, afirmou.
Galindo diz ainda que, embora a disparada no preço das ações possa ser um sinal de que o mercado gostou da informação sobre uma eventual mudança no controle da companhia, ainda é cedo para afirmar que a volta de Abílio Diniz traria um impacto positivo para os negócios.
“Não necessariamente isto quer dizer que, caso concretizada, a troca de controle vai ser positiva ou não para a companhia, precisamos analisar o que vai ser feito/planejado por uma eventual nova administração”.
Entenda a mudança de controle
Valentim dos Santos Diniz, pai de Abilio Diniz, foi o fundador do Pão de Açúcar em 1948. Em 1999, o Grupo Diniz se aliou ao Grupo Casino, que adquiriu, na época, 24,5% do controle acionário.
Já em 2005, os grupos consolidaram suas relações comerciais e celebraram um acordo de associação, compartilhando o controle da companhia por meio de uma sociedade cujo capital votante se dava na proporção de 50% para cada um.
Além disso, o Grupo Casino passou a ter como opção assumir o controle da companhia isoladamente a partir de junho de 2012, o que acabou acontecendo após um acordo que pôs fim a uma longa disputa judicial entre os grupos para definir o controle da companhia.