Rentabilidades dos CDBs chegam a 122% do CDI após última elevação da Selic
Com várias casas prevendo que o IPCA ultrapasse os 10% neste ano, produtos com remuneração atrelada ao indicador também sofreram ajustes
A elevação da Selic para 12,75% ao ano e os sinais de que mais altas estão na mesa para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central provocaram um novo ajuste para cima nos retornos oferecidos por papéis de renda fixa, especialmente os pós-fixados.
Entre os Certificados de Depósito Bancário (CDBs), o retorno máximo agora chega a 122% do CDI, segundo dados da empresa de soluções para o mercado financeiro Quantum Finance levantados a pedido do InfoMoney. Os números não levam em conta a dedução de Imposto de Renda (IR).
Segundo o levantamento, o CDB em questão é um papel emitido pelo Banco Master, com vencimento em 12 meses. A instituição possui classificação de risco de crédito (rating) do tipo BBB-. Ou seja, grau que é considerado de boa qualidade, segundo a agência Fitch Ratings, mas que está mais próximo do nível especulativo. Os dados foram coletados pela Quantum Finance entre 24 de abril e 6 de maio.
A título de comparação, a taxa máxima bruta oferecida por um CDB de mesmo prazo cerca de 15 dias antes era de 115% do CDI, sendo que a emissão era do Banco Mercantil Brasil.
O levantamento também mostrou que o juro oferecido por CDBs pós-fixados atrelados ao CDI de prazo mais curto, como três meses, melhorou. Nos últimos 15 dias, a rentabilidade máxima bruta entregue por um papel do tipo chegou a 106,75% do CDI, cerca de 1 ponto-base (0,01 ponto percentual) acima do visto na quinzena anterior.
O emissor no caso era o Banco Pan, que possui classificação de risco de crédito (rating) nacional de longo prazo AA, segundo a Fitch Ratings. Esse é considerado o segundo nível de qualidade mais alto da agência.
Retornos brutos de CDBs indexados ao CDI (de 24/04 a 06/05) |
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Prazo (meses) | Indexador | Taxa mínima | Taxa média | Taxa máxima | Número de títulos | Emissor da maior taxa |
3 | DI | 100,00% | 102,53% | 106,75% | 66 | BANCO PAN |
6 | DI | 97,50% | 101,94% | 105,75% | 27 | BANCO BTG PACTUAL |
12 | DI | 90,00% | 101,51% | 122,00% | 45 | BANCO MASTER |
24 | DI | 93,00% | 99,61% | 120,00% | 23 | BRK FINANCEIRA |
36+ | DI | 96,00% | 103,00% | 118,00% | 27 | SINOSERRA FINANCEIRA |
Fonte: Quantum Finance
CDBs atrelados ao IPCA
Com várias casas passando a prever que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ultrapasse os 10% neste ano, CDBs com remuneração atrelada ao indicador também sofreram ajustes nos últimos 15 dias.
Destaque para o avanço visto nas taxas máximas brutas oferecidas por papéis com vencimento a partir de 24 meses, em que o juro real máximo bruto avançou 14 pontos-base (0,14 ponto percentual), passando de 6,46% para 6,60% ao ano.
Trata-se de um CDB emitido pelo Banco BMG, que possui rating nacional de longo prazo A, conforme avalia a Fitch Ratings. Ou seja: que possui qualidade alta, na visão da agência.
Movimento semelhante também foi visto com CDBs com vencimento a partir de 36 meses, em que a taxa real máxima bruta chegou a 6,06% ao ano, valor superior aos 5,83% vistos 15 dias antes. O papel que oferece esse retorno era emitido pelo Banco BTG Pactual, que possui rating nacional de longo prazo AA, segundo a Fitch Ratings.
Retornos brutos de CDBs indexados à inflação (de 24/04 a 06/05) |
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Prazo (meses) | Indexador | Taxa mínima | Taxa média | Taxa máxima | Número de títulos | Emissor da maior taxa |
12 | 100% IPCA | 4,71% | 5,25% | 6,10% | 82 | BANCO PAN |
24 | 100% IPCA | 5,25% | 5,72% | 6,60% | 64 | BANCO BMG |
36+ | 100% IPCA | 5,20% | 5,57% | 6,06% | 31 | BANCO BTG PACTUAL |
Fonte: Quantum Finance
Títulos com retorno atrelado à inflação vêm ganhando maior espaço nas carteiras de gestoras de patrimônio. Em conversas com o InfoMoney, gestores destacaram que os juros oferecidos estão elevados, acima de 6%, além do que tais papéis oferecem proteção contra a perda do poder de compra.
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Dados acumulados de 12 meses mostram que o avanço da inflação oficial, medida pelo IPCA, já chega a 11,30%. E a expectativa não é de melhora tão rápida. As pressões inflacionárias devem seguir bastante disseminadas na próxima divulgação do indicador cheio de abril, que será feita nesta quarta-feira (11).
Nas projeções do Bradesco, o IPCA deve subir 0,98% em abril. De acordo com o banco, a despeito do impacto baixista da bandeira verde sobre os preços de energia elétrica, os preços de alimentos e os componentes de núcleo devem continuar pressionando para cima o indicador.
Já o Itaú prevê uma alta de 1,04% para o mês cheio, o que levaria a inflação em 12 meses para 12,11% – para os analistas do banco, abril será o pico da inflação em 2022.
CDBs prefixados
No caso de papéis com retorno prefixado, os juros não apresentaram direção única: papéis de prazo mais curto, de até 12 meses, apresentaram aumento nos juros oferecidos, enquanto títulos com prazo a partir de 24 meses mostraram avanços em alguns casos e recuos em outros.
Retornos brutos de CDBs prefixados (de 24/04 a 06/05) |
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Prazo (meses) | Indexador | Taxa mínima | Taxa média | Taxa máxima | Número de títulos | Emissor da maior taxa |
3 | PREFIXADO | 12,63% | 12,99% | 13,34% | 57 | BANCO BTG PACTUAL |
6 | PREFIXADO | 13,04% | 13,32% | 13,62% | 25 | BANCO BTG PACTUAL |
12 | PREFIXADO | 12,85% | 13,51% | 19,56% | 33 | BANCO MASTER |
24 | PREFIXADO | 12,90% | 13,32% | 13,72% | 4 | BANCO PINE |
36+ | PREFIXADO | 11,55% | 12,14% | 12,40% | 6 | BANCO BTG PACTUAL |
Fonte: Quantum Finance
Títulos com vencimento a partir de três meses, por exemplo, ofereciam uma taxa máxima de 13,34% ao ano nos últimos 15 dias. No levantamento anterior feito pela Quantum, o retorno máximo bruto entregue por um título de dívida de mesmo prazo foi de 13,02%.
Já para prazos maiores, como a partir de 12 meses, a rentabilidade máxima bruta podia alcançar os 19,56% ao ano. O emissor em questão era o Banco Master.
Embora os juros oferecidos por papéis prefixados tenham subido, em sua maioria, especialistas destacam que é preciso cautela na hora de alocar em títulos que remuneram com base em taxas que são conhecidas no momento da compra do papel.
Com a chance de que o Banco Central tenha que elevar os juros na próxima reunião, como sinalizou a autoridade monetária no comunicado do último encontro do Copom, a remuneração travada por um papel prefixado pode ficar defasada. Ou seja: pode ficar abaixo do que oferece a Selic, já que ela tende a seguir subindo.
Em relatório divulgado a clientes, Camilla Dolle e Pietro Consolaro, responsáveis pela análise de de renda fixa da XP, destacaram que mantiveram a alocação em prefixados relativamente baixa no portfólio.
“Continuamos enxergando possibilidade de novos choques inflacionários e incertezas no curto prazo, o que nos leva a manter a alocação em prefixados relativamente baixa por enquanto”, apontaram os analistas.
CDB até 220% do CDI
Embora o levantamento não tenha sido capaz de monitorar ofertas exclusivas feitas por algumas corretoras com foco em atrair clientes, ao analisar as plataformas de diversas corretoras, o InfoMoney encontrou também opções de CDBs com vencimento em 3 meses que ofereciam até 220% do CDI.
A primeira era uma oferta da Genial, que oferecia um CDB do próprio banco, com rendimento de 220% do CDI, e liquidez diária. Para adquirir o produto, no entanto, era preciso respeitar algumas condições: ser cliente novo; realizar aporte mínimo de R$ 10 e máximo de R$ 10 mil; e realizar apenas uma única aplicação no CDB. A oferta não possui data para expirar, de acordo com a Genial.
Havia também duas ofertas de CDBs do Banco XP. Uma estava disponível na Rico e outra na plataforma da XP. Nesse caso, segundo as corretoras, o retorno bruto chegava a 200% do CDI e o investidor precisava investir pelo menos R$ 500 e no máximo R$ 5 mil por CPF. As duas ofertas são exclusivas para novos clientes das duas casas que abrirem conta até 31 de maio, e clientes que abriram a conta até 30 de abril de 2022, mas não realizaram nenhum investimento pelas plataformas. As ofertas ficarão disponíveis até 15h do dia 3 de junho.
Novas altas pela frente
O sentimento de aversão a risco nos mercados deve continuar nesta semana. Além da divulgação do IPCA, agentes financeiros esperam a apresentação da ata do Copom amanhã (10).
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, diz que vai buscar nas entrelinhas pistas para entender se a próxima reunião será a última de elevação da Selic. Isso porque, no último comunicado, a autarquia disse apenas que deve ajustar a taxa básica de juros em menor magnitude, na próxima reunião em junho.
“Se eles chegarem e falarem na ata ou em entrevista que a próxima é a última, a parte do mercado que espera que a elevação vá além de junho, vai pedir 0,75 ponto percentual. A parte que não, vai pedir para seguir com alta de 0,50 ponto percentual [em junho]”, observa Cruz.
Ele lembra que é difícil saber a direção antes da divulgação da ata do Copom porque os dirigentes não seguiram o que tinham prometido no comunicado anterior e nas entrevistas em que disseram que iam parar de subir os juros na reunião deste mês. “Pode ser que eles façam isso desta vez [de novo]”, afirma o estrategista.
A curva de juros futuros precifica hoje uma alta de 0,50 ponto percentual no encontro do mês que vem e prevê que a Selic termine este ano entre 13,50% e 13,75%. Para o ano que vem, também há mais riscos no radar.
Em relatório, a equipe de análise da Levante destacou que cresceram também as chances de permanência da taxa básica de juros em patamar mais elevado em 2023, por causa da deterioração das expectativas.
Segundo eles, a desaceleração do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que subiu 0,41% em abril, ante os 2,37% de março não foi suficiente para aliviar a pressão na inflação.
Preocupam também os reajustes anunciados pela Petrobras sobre o diesel nesta segunda-feira (9), em que o preço médio de venda de diesel da petroleira para as distribuidoras passará de R$ 4,51 para R$ 4,91 por litro, uma alta de quase 9%. Foram mantidos, porém, os preços da gasolina e do GLP.
Somado a isso, pontuam os analistas da Levante, há a probabilidade de um aumento de 75 ponto percentual em junho pelo Federal Reserve (Fed), banco central americano. Segundo estudo do CME Group, a chance de que isso ocorra hoje está em 83%. Tal percentual diverge do que foi colocado por Jerome Powell, presidente da instituição, na semana passada ao anunciar a elevação dos juros nos Estados Unidos.
Na ocasião, ele disse que uma alta de 75 pontos-base da taxa de juros não estava sendo “ativamente considerada”. Contudo, as expectativas para inflação de curto prazo estavam bastante elevadas. “Esperamos manter um patamar neutro para juros, mas se for apropriado ir além disso, não hesitaremos”, afirmou em discurso.