Presidente da Petrobras afirma que PPI ‘era o rabo abanando o cachorro’
Jean Paul Prates defendeu uma nova política de dividendos, para a empresa investir mais, e fala em ‘ajuste’ no plano de negócios da estatal
O presidente da Petrobras (PETR3;PETR4), Jean Paul Prates, afirmou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo que empresas têm o direito de definir seu próprio preço e que o PPI “era o rabo abanando o cachorro”. O executivo também defendeu uma nova política de dividendos, para a empresa poder investir mais, e “um ajuste” no plano de negócios da estatal, que “deve sair agora, em julho ou agosto”.
Prates, que é filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e senador licenciado pelo Rio Grande do Norte, disse que a nova gestão da estatal “já conseguiu encaminhar sem traumas a maior parte do programa de governo do presidente Lula”. “Um programa legitimamente eleito que não continha exageros, apenas repunha as coisas nos seus devidos lugares”.
Sobre a alta recente das ações da Petrobras, que atingiram sua máxima histórica nesta semana, apesar da mudança na gestão (e na política de preços da companhia), o executivo afirmou que “o pessoal está percebendo que é uma administração responsável”. “A gente consegue conciliar a política, a relação com o acionista controlador, com as expectativas de mercado. O grande desafio desta gestão é mostrar justamente que é possível administrar uma empresa estatal mista”.
Nas últimas semanas, os papéis da estatal foram alvo de diversas elevações de recomendação por parte de grandes bancos, que veem a manuteção dos três principais pilares da companhia: política de dividendos, política de preço de combustíveis e investimentos. Sobre a mudança na política de preços de paridade internacional (PPI), o mercado vem interpretando que o governo está mantendo as margens da empresa em um patamar saudável.
Mudança no PPI
“Na questão do PPI, por exemplo, aconteceu algo que eu não esperava: no dia em que anunciamos nossa estratégia comercial, a ação subiu. Ao contrário do que alguns acharam”, afirmou Prates. “Não é possível que não se entenda que a empresa pode fazer o seu preço de acordo com as variáveis e com e restrições que ela tem. As empresas fazem assim em qualquer mercado, com qualquer produto. E aí eu acho que a gente explicou isso com tranquilidade suficiente”.
O senador licenciado disse ainda que o PPI “era o rabo abanando o cachorro” e defendeu a nova política de preços da estatal. “O PPI era uma miragem vendida como coisa essencial, quando na verdade ele era essencial para os importadores, para aqueles que complementam o suprimento do Brasil. Era o rabo abanando o cachorro”.
“A gente voltou ao normal. O cachorro que abana o rabo. O que falta eu compro fora. Pelo preço que o cara puder vender”, afirmou o presidente da estatal. “Mas o que eu consigo produzir aqui eu vendo pelo preço do que o mercado doméstico pode pagar. Eu tenho que ter um preço mais competitivo não porque eu sou dominante, mas porque a Petrobras é a mais eficiente, é a melhor que conhece o país, é a que tem as refinarias mais eficientes”.
“Nós temos mais competitividade, podemos fazer um preço mais barato para a economia brasileira. Não é para povo, não é para eleitor só. É para a economia brasileira”, completou o executivo à Folha. “É para o agro que carrega a soja no trem. É para a economia em geral, para o comércio, para o consumidor comum também, mas cada vez menos porque ele vai usar cada vez mais transporte público, Uber…”.
Política de dividendos
Sobre a mudança na política de dividendos, o petista afirmou que será uma mudança gradual, “sem cometer nenhum desatino, nenhum exagero”, e que haverá negociação com os acionistas. “Não vamos deixar ninguém sem dividendos, desassistido”.
“É uma negociação com o acionista: ‘deixa mais um real comigo, que ele vai render melhor do que ficando com você’”, afirmou Prates. Ele disse também que não vai necessariamente estabelecer uma nova regra. “Não é partir de um percentual [do lucro que será distribuído], mas da necessidade investimento. Eu tenho algumas reservas sobre essa questão de ter sempre uma regra. A empresa tem que ter alguma flexibilidade”.
O executivo disse que atualmente “há uma diferença enorme entre o exigido por lei e o modelo atual, um ponto aí no meio que dá para deixar todo mundo confortável”. Segundo Prates, a mudança “não vai ser no primeiro ano”. “Talvez no próximo a gente faça alguma mudança ligeira, depois mais um pouco. Tem que ser uma coisa parcimoniosa, que não gere um trauma muito grande”.
Questionado pelo jornal se a empresa pode trocar a distribuição de dividendos por um programa de recompra de ações, Prates afirmou que “a recompra de ações vai ser discutida”. “O diretor financeiro está trabalhando em uma proposta. Não estou confirmando que vai acontecer logo, mas a gente tem essa intenção. Pode ser que não seja uma proposta completa, pode ser o primeiro passo, ou o segundo passo. A gente não precisa fazer tudo de uma vez”.
Transição energética
O presidente da Petrobras afirmou ainda que é necessário investir em transição energética e que “o mercado realmente entendeu que a empresa passou a garantir um futuro”. “Antes era uma coisa de curtíssimo prazo. Estavam preparando a empresa para vender. O primeiro estágio foi torná-la altamente lucrativa, com a estrutura mínima, ficando só com o coração do coração da empresa, que é produzir pré-sal e quatro ou cinco refinarias do Sudeste”.
Para o executivo, a Petrobras virou “uma empresa tiro curto, uma empresa que certamente não duraria mais outros 70 anos, porque ia encontrar ali na frente a transição energética”. “Não ia ter novas reservas, porque já não estava fazendo mais exploração significativa. Vamos voltar a ser uma empresa nacional, vamos ampliar um pouco mais os raios de ação”.
Segundo o presidente da estatal, a empresa agora vai “buscar viabilidade em áreas novas para preparar o futuro”. “Sem cometer nenhum desatino, nenhum exagero. Mas vamos ver eólica, vamos ver solar, vamos olhar hidrogênio, vamos conversar com as nossas congêneres”.
‘Ajuste’ no plano de negócios
Por isso, “um ajuste” no plano de negócios “deve sair agora em julho ou agosto, incorporando as novas diretrizes que divulgamos”. “Com um pouco de petroquímica, fertilizantes, um investimento mais forte em transição energética. Não tem surpresa nenhuma, tudo que a gente já falou é o que vai sair. Algum projeto de renovável provavelmente [vai entrar], estamos vendo coisas interessantes”.
Exploração na foz do Amazonas
Prates também voltou a defender a prospecção de petróleo na foz do Rio Amazonas, após o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) negar o pedido de licença da estatal, e disse que “a possibilidade de vazamento é muitíssimo remota”. Ele disse que a decisão do Ibama “é decepcionante, mas que “ainda não considera um revés”.
“A gente quer o debate técnico: o que vocês querem que a gente faça lá? Não existe nenhum operador de petróleo mais capacitado e mais cuidadoso com o meio ambiente e com a floresta amazônica do que a Petrobras. Não existe operador melhor para testar a hipótese de ter petróleo ali”, afirmou Prates.
“Apresentamos um recurso, que contém novas argumentações, novos compromissos e já colocamos estruturas novas à disposição em cima das novas exigências do Ibama. Se, no limite, o estado brasileiro entender que aquilo é uma área interditada para a perfuração de petróleo, nós vamos respeitosamente sair de lá e explorar em outras áreas da margem equatorial.
O executivo falou em chegar a um “meio-termo” com o Ibama, como uma autorização para a estatal apenas prospectar se na região tem petróleo de fato: “Poderia perfeitamente conceder o direito de nós furarmos, tirarmos um testemunho de rocha para mostrar que tem petróleo”.
“Não produz petróleo, não escoa petróleo, portanto a possibilidade de um vazamento é muitíssimo remota. A Petrobras é um operador diligente para fazer isso: comprovar ou não a existência de petróleo, tirar a sonda de lá e aguardar essa AAAS [Avaliação Ambiental de Área Sedimentar] até desenvolver a produção. É o meio-termo”, afirmou.
Prates ponderou ainda que “a área foi concedida pela União e há uma obrigação de cumprir um programa de trabalho que inclui esse poço”. “Se não, estamos sujeitos a multa. Agora, se for esperar a AAAS, eu acho que realmente inviabiliza esse contrato de concessão”.