Petrobras mitigará impactos de conflito em Israel nos preços de combustíveis, diz CEO
O presidente da Petrobras avaliou que a guerra instaurada no sábado é um "evento grave" e disse que há no momento análises díspares sobre o futuro disso
A Petrobras (PETR4) buscará mitigar os eventuais impactos de um esperado aumento da volatilidade dos preços globais do petróleo nos valores de diesel e gasolina no Brasil em razão da guerra entre Israel e o grupo islâmico palestino Hamas, disse nesta segunda-feira o presidente-executivo da companhia, Jean Paul Prates.
As tropas israelenses lutavam nesta segunda-feira para expulsar homens armados do Hamas, que atravessaram a cerca de Gaza há dois dias em um ataque mortal, e o exército de Israel disse que em breve partiria para a ofensiva, após a maior mobilização da história do país.
Os investidores estão atentos à possibilidade de o conflito se espalhar e envolver outros países, incluindo o Irã, e a um potencial aumento contínuo dos preços do petróleo. O petróleo Brent subia perto de 4% no início da tarde desta segunda-feira.
A estatal vai usar sua estratégia comercial em vigor para manter os preços de combustíveis no mercado interno “mais ou menos estáveis”, disse Prates.
“Isso vai mostrar como está dando certo a política atual de preços da Petrobras, ela deve mitigar esses efeitos”, disse o executivo a jornalistas em evento organizado pela Câmara de Comércio Noruega e Brasil, pelo Innovation Norway e pelo Consulado Geral da Noruega no Rio de Janeiro.
Desde que anunciou uma nova estratégia comercial, em maio, a Petrobras deixou de ser obrigada a seguir preços de paridade de importação, passando a considerar outras variáveis na precificação de gasolina e diesel, com a promessa de ser a melhor opção para seus clientes e fornecedores, mas garantindo sua rentabilidade.
A empresa tem ainda segurado por mais tempo a defasagem antes de subir seus preços, em busca de evitar volatilidades. O cenário causa algumas incertezas para importadores do produto.
O presidente da Petrobras avaliou que a guerra instaurada no sábado é um “evento grave” e disse que há no momento análises díspares sobre o futuro disso.
“Nas próximas semanas não deve haver solução”, disse Prates, acrescentando que, embora Israel não seja um grande produtor de petróleo, deve haver “muita especulação” a respeito dos efeitos do conflito sobre os grandes produtores.
Mas o conflito no Oriente Médio veio após os preços do petróleo terem registrado na semana passada o maior recuo semanal desde março, com o Brent caindo 11%, devido a preocupações de que as taxas de juros persistentemente elevadas iriam abrandar o crescimento global e prejudicar a demanda por combustível.
Cálculos da consultoria StoneX, por volta do meio dia desta segunda-feira, apontavam que o preço da gasolina vendida pela Petrobras nas refinarias precisaria ser ainda reduzido em cerca de 2,2% para atingir a paridade de preços de importação, enquanto o diesel precisaria de um aumento de 10,6%.
Mas o head na área Petróleo, Gás e Renováveis da StoneX, Smyllei Curcio, alertou que há uma certa restrição do diesel no mercado internacional, o que tem mantido o “crack spread” do diesel, um indicador para margens de lucro do refino, em alta.
“Hoje vimos o mercado ainda curto em diesel e isso mantém os ‘cracks’ fortes, acredito que a defasagem deva crescer no curto prazo”, disse Curcio.
Em nota, o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) apontou em análise que o mercado de petróleo vai continuar a sua trajetória de volatilidade iniciada com a pandemia, acelerada com a guerra entre Rússia e Ucrânia e agora com o ataque do Hamas a Israel.
“Devemos ter nessa semana um rally nos preços do petróleo que havia caído bastante na semana passada. As coisas podem piorar dependendo de um maior envolvimento do Irã que parece ter sido o principal apoiador do Hamas”, disse na nota o diretor do CBIE, Adrianos Pires.
Margem Equatorial
Em comentário sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial, Prates defendeu que a atividade poderia ser mais uma fonte de recursos do Fundo Amazônia, o que exigiria mudanças legislativas, e disse que outras petrolíferas podem ser parceiras da Petrobras na região.
O Ibama emitiu neste mês uma licença ambiental para que a Petrobras realize duas perfurações de poços de petróleo e gás em águas profundas da Bacia Potiguar, representando um avanço exploratório em uma área considerada ambientalmente sensível.
Questionado sobre o potencial de reservas de petróleo na Margem Equatorial, Prates disse que não poderia confirmar volumes estimados antes de realizar as perfurações.
No mês passado, o ministro Alexandre Silveira afirmou que estudos internos da Petrobras mostram que um único bloco na Margem Equatorial, na região amazônica do Amapá, pode conter reservas de mais de 5,6 bilhões de barris de petróleo.