Mercado de caminhões: o ano que não foi!
Além da alta dos combustíveis e da economia desestabilizada, outro fator que explica a derrocada do setor é a oferta de crédito, que sumiu!
Caros leitores, digníssimas leitoras: dentro do universo das vendas de veículos pesados (aqui caminhões; ônibus e implementos rodoviários), a visão geral do setor era que 2022 seria “o ano”!
Eles que viveram aquela pindaíba durante os anos de 2015-2020, tinham em suas projeções, que apontavam para um bom ano em 2021 e um excelentíssimo ano de 2022. Tudo isso devido à mudança de motorização do veículo em 2023.
Até este vil estagiário imaginava isso…
E 2021 foi aquele ano “du carvalho”! Mercado com crescimento de quase 45% sobre o ano anterior; o pessoal já em maio-junho-julho não aceitando mais pedidos, pois não tinham como entregar o produto no ano; e tudo indicava uma nova perspectiva de crescimento de dois dígitos para 2022!
O ponto aqui que furou as previsões, foi que o pessoal pensou que a gente estava em algum país tipo “Dinamarca”… não no Brasil.
Para vocês entenderem melhor: Em 2021, terminamos o ano com 128,7 mil caminhões vendidos. As projeções para 2022 eram algo entre 145 e 150 mil veículos. Agora, se encerrarmos este ano com 126,5 mil veículos comercializados, já estaremos no lucro!
Mas, afinal de contas, o que aconteceu?
Foram vários fatores: tivemos a alta sistêmica dos combustíveis, que veio “queimando” parte das margens dos transportadores e/ou caminhoneiros autônomos; a economia não ajudou em nada: o PIB do agro é estimado com alta de 0,2% neste ano, para compensar a queda de 0,2% do ano de 2021, ou seja, crescimento zero em dois anos; PIB industrial com previsão de crescimento de “incríveis” 1,3% e a FBCF deste ano será negativa em 0,3%.
E tem um outro fator mais que primordial: o crédito sumiu! Em geral, as instituições financeiras possuem aquele poder “mágico” de alavancar o crescimento de algum setor, ou de então afundá-lo ainda mais.
No setor de veículos pesados, o crédito é tão vital quanto beber água é para nós.
A média histórica 2011 até 2021 é que mais de 76% destes veículos são financiados. No ano santo de 2022, essa participação desabou para 57%. Em linhas gerais, perdemos 20 pontos percentuais.
Quer saber a pior?
Este agourento colunista não vislumbra melhora significativa para os próximos anos. Segundo o relatório Focus, no primeiro ano de governo do novo príncipe do serrado, o Brasil deve crescer a uma taxa de ridículos 0,7%, ou seja, nada. A Selic continuará na casa dos dois dígitos e, para piorar, foi como falei no começo, só poderemos produzir (e vender) caminhão com motorização nova.
Vou exemplificar:
Veja o caso da Scania: acabou de lançar seus novos caminhões com motorização P8 (Euro 6). No caso aqui, estamos falando do Super 460 6×2 e do 560 6×4. Caminhões com preço entre R$ 1,05 e 1,20 milhão, que ficaram até 20% mais caro do que a versão anterior com motor P7.
Agora, imaginem: caminhão novo que ficou R$ 200 mil mais caro; além da forte majoração de combustivel que teremos no começo do ano; aliado a um crescimento pífio da economia. Acham que irão conseguir repassar esses custos no valor do frete? Essa conta não fecha!
A renovação dos caminhões irá aguardar um bom tempo até a que a situação esteja “menos ruim”! Vislumbramos, tempos sombrios para a indústria..