Inflação nos EUA deve ter queda, mas não levará a um “boom” das criptos, dizem especialistas
O índice de preços ao consumidor dos EUA no acumulado de 12 meses provavelmente foi de 8,7% em julho
O custo de vida nos Estados Unidos provavelmente esfriou em julho, mas a queda pode não ser suficiente para impedir o Federal Reserve (Fed, o banco central do país) de fazer aumentos de juros mais agressivos. Neste ano, os juros altos agitaram os mercados de criptomoedas e derrubaram o preço do Bitcoin (BTC).
O índice de preços ao consumidor dos EUA (CPI, na sigla em inglês) no acumulado de 12 meses provavelmente desacelerou para 8,7% em julho, segundo uma pesquisa com economistas feito pelo provedor de dados FactSet. É um nível mais baixo que os 9,1% de junho, o maior em 40 anos. O indicador será divulgado nesta quarta-feira (10).
A ligeira queda ainda deixaria a inflação bem acima da meta do Fed de 2%. Além disso, o chamado núcleo de inflação, que exclui os componentes voláteis de alimentos e energia, deverá aumentar de 5,9% para 6,1%.
“Espera-se que o CPI principal seja menor do que a leitura anterior, mas achamos que pode ser prematuro para o mercado precificar uma mudança de direção do Fed, dada a força dos dados econômicos divulgados na semana passada”, disse Dick Lo, fundador e CEO da empresa de trading TDX Strategies, ao CoinDesk.
Muitos bancos de investimento agora acreditam que o declínio projetado do IPC não será suficiente para levar o Fed a diminuir o ritmo de seus aumentos de taxas em relação ao movimento de 75 pontos-base que fez em suas duas últimas reuniões. As expectativas dovish (branda) estabilizaram os ativos de risco, incluindo o Bitcoin, nas últimas semanas.
As leituras mensais de inflação ganharam destaque neste ano, porque influenciam a política do Fed e a demanda por dólar, muitas vezes um fator de compensação no preço do BTC. O índice do dólar, que acompanha o valor da moeda norte-americana em relação às principais moedas, subiu 11% neste ano, quando o Fed embarcou em seu ciclo de aperto mais agressivo em mais de duas décadas. O Bitcoin caiu 50%.
Pouco espaço de manobra para o Fed
De acordo com o banco canadense Scotiabank, o CPI de julho poderia reforçar as expectativas renovadas para maiores aumentos das taxas decorrentes do relatório de empregos divulgado na sexta-feira (5). Os mercados de derivativos voltaram a precificar em uma alta de 75 pontos-base para setembro, depois de se inclinarem para um movimento de 50 pontos-base no mês passado.
Derek Holt, chefe de economia de mercado de capitais do Scotiabank, espera que o núcleo do CPI passe de 5,9% para 6,1%.
“Se essa visão estiver correta”, escreveu Hold em uma nota aos clientes na sexta, isso significaria que o CPI anualizado mensal do núcleo estaria próximo de 7,5%, em linha com a média móvel recente de três meses. Tal notícia “indicaria que as pressões inflacionárias permanecem fortes”.
Holt disse que os mercados estão precificando cortes de juros a partir do início de 2023, e ele prefere que o Fed exagere para garantir que a inflação diminua sem “retornar ao boom”.
O presidente do Fed, Jerome Powell, disse no mês passado que o banco central pode desacelerar os aumentos das taxas em algum momento para avaliar o impacto do aperto na inflação e na economia. No entanto, as coisas ainda não estão nesse ponto, de acordo com o Goldman Sachs.
“Parece muito improvável que o relatório de inflação da próxima semana ofereça ‘evidência convincente’ de uma desaceleração”, escreveu a equipe de pesquisa econômica do Goldman em uma nota na sexta da Global FX Trader. Eles citaram “custos de moradia mais rígidos” como uma razão para revisar suas projeções de núcleo de inflação para este ano.
“Com o mercado ainda reduzindo os preços no próximo ano, o resultado final é que ainda vemos riscos de alta para a inflação e a política de preços nos próximos meses”, escreveram os analistas.
O rápido crescimento salarial e um mercado de trabalho superaquecido, destacados pelo Nonfarm Payroll (indicador que compila dados do relatório de folha de pagamento não-agrícola dos EUA) de sexta-feira, sugerem baixas chances de um declínio significativo na inflação em breve.
Avery Shenfeld, economista-chefe da CIBC World Markets, expressou uma opinião semelhante em uma nota semanal, prevendo um IPC acima do consenso de que seria “muito quente para os gostos do banco central”.
Bitcoin depende do dólar
O Bitcoin pode cair mais se a inflação voltar a impulsionar um rali do dólar. E para preocupação dos investidores da criptomoeda, os bancos de investimento esperam que a moeda norte-americana permaneça forte pelo resto do ano.
“Esperamos que o dólar permaneça forte pelo resto deste ano. O superaquecimento da economia dos EUA e o Fed com tom hawkish (preocupado com a inflação) têm muita relação com o dólar forte. Para que o dólar enfraqueça, o Fed precisa estar mais preocupado com o crescimento do que com a inflação, e ainda não chegamos lá”, escreveu a equipe global de câmbio do Bank of America em nota aos clientes na sexta-feira.
No momento da publicação deste texto, o Bitcoin era negociado a US$ 23.200, e o índice do dólar estava cotado em 106,00.