Ibovespa fecha em alta de 1,9% com melhora no clima político e queda em casos de Covid nos EUA; dólar cai a R$ 5,22
Mercado volta a apresentar desempenho positivo conforme tentativa de pacificação entre os Três Poderes não é rompida
SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em alta nesta segunda-feira (13) com uma soma de fatores políticos ao desempenho positivo das bolsas em Wall Street. Lá fora, as bolsas americanas se recuperaram depois de cinco dias consecutivos de quedas com um claro rodízio de ações que agora sai do setor de tecnologia para papéis da economia tradicional.
A média móvel de sete dias de casos de Covid-19 nos Estados Unidos caiu de 157 mil para 136 mil desde o fim de agosto, o que alivia parte das preocupações com o avanço da variante delta.
Segundo Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, o preço do petróleo também ajudou a animar os comprados. O barril do Brent se valorizou em 0,81% a US$ 73,51, contribuindo para o avanço de mais de 3% das ações da Petrobras (PETR3; PETR4).
Por aqui, o presidente Jair Bolsonaro disse em feira agropecuária do Rio Grande do Sul que os Três Poderes precisam ser respeitados e que o trabalho conjunto de Executivo, Legislativo e Judiciário beneficia a todos os brasileiros.
Essa fala vai na mesma direção da carta do presidente da semana passada esfriando os ânimos no conflito com o Supremo Tribunal Federal (STF) e faz com que investidores acreditem em um ambiente um pouco mais calmo para negócios.
Também na política, os protestos contra Bolsonaro convocados pela chamada terceira via tiveram baixa adesão neste fim de semana apesar de terem ocorrido em várias cidades ao mesmo tempo. As manifestações tiveram presença de nomes como Ciro Gomes, Luiz Henrique Mandetta e o governador de São Paulo, João Doria.
João Villaverde, consultor da Medley Global Advisors, disse em live no InfoMoney na última semana que a falta de mobilização nas ruas mostra que o impeachment de Bolsonaro, que já era complicado por conta do seu curto espaço de tempo, ficou ainda mais distante.
Na avaliação de Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, a baixa mobilização nos protestos do dia 12 é mais um ponto de sobrevida política do incumbente, que necessita agora de alguns fatores importantes, entre eles: o cumprimento da pacificação descrita na carta e, especialmente, o avanço das reformas estruturantes arrastadas no congresso.
O Ibovespa teve alta de 1,85%, a 116.403 pontos com volume financeiro negociado de R$ 25,843 bilhões. Foi o maior ganho do benchmark em um dia desde 24 de agosto, quando a Bolsa subiu 2,33%.
Enquanto isso, o dólar comercial caiu 0,83% a R$ 5,223 na compra e a R$ 5,224 na venda. Já o dólar futuro com vencimento em outubro recua 0,63% a R$ 5,235 no after-market.
No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 subiu um ponto-base a 7,29%, o DI para janeiro de 2023 caiu dois pontos-base a 9,15%, o DI para janeiro de 2025 recuou oito pontos-base a 10,12% e o DI para janeiro de 2027 registrou variação negativa de nove pontos-base a 10,48%.
Esta segunda, na Ásia, foi mais um dia de instabilidade por conta das regulações da China. Os papéis da Alibaba caíram 4,23% após uma reportagem do jornal Financial Times afirmar que Pequim deseja dividir a Alipay, do Ant Group, e forçar a criação de um aplicativo separado de empréstimos.
Outras ações de tecnologia chinesas também recuaram. A Tencent teve queda de 2,45%, e os papéis da Meituan perderam 4,47%. Assim, o índice Hang Seng Tech teve queda de 2,27%.
Os papéis de empresas produtoras de veículos elétricos também tiveram quedas após o ministro da Indústria do país afirmar que é necessária consolidação no setor, por haver fabricantes “demais” desses veículos no país. Os papéis da BYD recuaram 2,14%, e os da Xpeng, 2,35%.
Ainda em destaque, dados oficiais mostrarem que os novos empréstimos bancários subiram menos do que o esperado na China no mês passado. Os bancos chineses dirigiram 1,22 trilhão de iuanes (US$ 189,51 bilhões) em novos empréstimos em agosto, alta em relação a julho mas abaixo das expectativas de analistas.
Relatório Focus
Os economistas do mercado financeiro reduziram suas estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deste ano, revelou o Relatório Focus do Banco Central. De um crescimento de 5,15% projetado na semana passada, agora espera-se uma expansão de 5,04%. Já para 2022, o avanço foi revisado de 1,93% para 1,72%.
Em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) as projeções foram elevadas de 7,58% para 8,00% este ano e de 3,98% para 4,03% no ano que vem.
Sobre o dólar, as expectativas subiram de um câmbio a R$ 5,17 para R$ 5,20 em 2021 e se mantiveram em R$ 5,20 para 2022.
Por fim, a previsão para a taxa básica de juros, Selic, subiu de 7,63% para 8,00% este ano e de 7,75% para 8,00% no ano que vem.
Covid no Brasil
No domingo (12), a média móvel de mortes por Covid em 7 dias no Brasil ficou em 473, patamar 30% abaixo daquele de 14 dias antes. Em apenas um dia, foram registradas 292 mortes. As informações são do consórcio de veículos de imprensa que sistematiza dados sobre Covid coletados por secretarias de Saúde no Brasil, que divulgou, às 20h, o avanço da pandemia em 24 h.
A média móvel de novos casos em 7 dias foi de 16.461, queda de 31% em relação ao patamar de 14 dias antes. Em apenas um dia foram registrados 8.082 novos casos. Contudo, cabe ressaltar que o feriado prolongado da Independência pode ter influenciado para baixo os dados divulgados nos últimos dias.
Chegou a 138.121.040 o número de pessoas que receberam a primeira dose da vacina contra a Covid no Brasil. A segunda dose ou a vacina de dose única foi aplicada em 73.189.914 pessoas, ou 34,31% da população.
A dose de reforço foi aplicada em 88.811 pessoas.
No domingo, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que o governo estadual recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso não receba até terça-feira 1 milhão de doses da vacina da AstraZeneca contra Covid-19 do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde a que afirma ter direito.
A pasta nega dever essas doses ao Estado e afirma que a falta de doses do imunizante para aplicação da segunda dose em São Paulo se deve ao fato de que autoridades paulistas usaram as doses reservadas para a segunda aplicação para acelerar a primeira dose, o que a Secretaria de Saúde paulista nega.
“O Ministério da Saúde deve sim 1 milhão de doses da vacina AstraZeneca a São Paulo e terá que disponibilizar até terça-feira. Se não o fizer, como já aconteceu outras vezes, vamos ao Supremo Tribunal Federal. A mesma corte que foi atacada pelo presidente Jair Bolsonaro é quem defende a Justiça e o Direito no Brasil”, disse Doria em entrevista coletiva.
O governador paulista falou no Centro de Operações da Polícia Militar antes de ir à Avenida Paulista para participar de protestos pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pelo envase no Brasil da vacina contra Covid-19 desenvolvida pela AstraZeneca com a Universidade de Oxford, atrasou as entregas do imunizante ao PNI após a demora na chegada do insumo farmacêutico ativo (IFA) da vacina, que chegou apenas no final de agosto. A expectativa da Fiocruz é retomar as entregas nesta semana.
No mês passado, o governo de São Paulo obteve liminar do ministro Ricardo Lewandowski determinando que o Ministério da Saúde enviasse ao Estado vacinas da Pfizer contra a Covid-19 que o governo paulista afirmava ter direito no PNI.
Na ocasião, o ministério disse que o envio em quantidade menor era uma compensação por doses retiradas a mais por São Paulo da CoronaVac, o que o Estado nega, e uma equalização no ritmo de vacinação entre os Estados.
Em meio ao avanço da variante Delta do coronavírus, o Programa Nacional de Imunização (PNI) está sem comando desde junho, quando a então coordenadora Franciele Francinato deixou o cargo criticando a politização que se fez no país sobre as vacinas.
Desde então, governos estaduais têm tomado decisões individualmente e sem o aval do ministério, como iniciar a vacinação de adolescentes e reduzir o intervalo de doses, colocando em risco a meta nacional de vacinar todos os adultos com as duas doses até o final de outubro.
O risco principal no momento diz respeito à conclusão do esquema vacinal, uma vez que apenas 33% da população tomou as duas doses ou vacina de dose única.
Protestos, crise hídrica e energética e precatórios
No domingo, milhares de manifestantes realizaram atos contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em cidades brasileiras, defendendo a democracia e o impeachment do chefe do Executivo, mas também reclamando da alta dos preços de alimentos e dos combustíveis no país.
Os protestos contaram com a presença de pré-candidatos à Presidência que pretendem encampar uma terceira via alternativa a Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais do ano que vem, como Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
No Rio de Janeiro, as pessoas se reuniram pela manhã na orla da praia de Copacabana, pedindo para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), “liberar” o impeachment e criticando o ministro da Economia, Paulo Guedes, pela escalada da inflação.
Houve também protestos em Brasília, Belo Horizonte, São Luís, Manaus e Vitória. Inicialmente convocados pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e pelo Vem Pra Rua, os protestos acabaram incorporando entidades e partidos políticos de outros campos ideológicos, na intenção de fazer frente às manifestações encabeçadas por Bolsonaro no 7 de Setembro.
A adesão, contudo, foi menor, mesmo com o apoio de partidos de centro e centro-direita como o PSDB, Novo, DEM, PSD, MDB e PSL, além de siglas da centro-esquerda, como Rede, Solidariedade, PDT e Cidadania, assim como algumas centrais sindicais, com exceção da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Após baixar o tom de sua retórica inflamada contra o Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro já havia afirmado no sábado, em discurso numa feira agropecuária no Rio Grande do Sul, que os Três Poderes da República precisam ser respeitados e que o trabalho conjunto de Executivo, Legislativo e Judiciário deve beneficiar todos os brasileiros.
Ao mesmo tempo, no entanto, Bolsonaro voltou a repetir que uma decisão do Supremo contrária à tese do marco temporal para demarcação de terras indígenas acabará com o agronegócio no Brasil.
Em discussão no STF a tese do marco temporal prevê que indígenas só poderiam reivindicar terras que ocupavam à época da promulgação da Constituição em 1988. O relator do caso no STF, ministro Edson Fachin, foi o único a votar até o momento e rejeitou a tese, cujo julgamento deve ser retomado na quarta. Faltam os votos de nove ministros.
A tese que a derrubada do marco temporal acabaria com o agronegócio foi rechaçada pelo diretor de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura, Sergio De Zen.
egundo ele, a rejeição do marco temporal não deve afetar a expansão de produção agropecuária prevista para o Brasil, pois o agronegócio deve crescer com foco em produtividade e não somente por meio da expansão de áreas.
Além disso, na sexta o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou em evento do banco Credit Suisse que conversas com o STF e os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado serão retomadas a partir desta segunda para resolver o problema dos precatórios no Orçamento do ano que vem.
“Primeira (prioridade) é o meteoro, é o precatório, a bomba judiciária. Vamos falar com o STF, com o Congresso, imediatamente na segunda-feira”, disse Guedes.
Guedes destacou que o governo precisa de previsibilidade e capacidade de execução orçamentária e que, por isso, será necessário encontrar uma saída para a conta de R$ 89,1 bilhões em precatórios em 2022.
Como são gastos de caráter obrigatório, essas despesas com derrotas definitivas sofridas pela União na Justiça acabam retirando espaço, sob a regra do teto, para outros gastos do governo, incluindo a almejada expansão do Bolsa Família.
Guedes também disse que o país está passando agora pelo pior momento da inflação, mas disse avaliar que esta irá desacelerar e fechar o ano ao redor de 7,5% a 8%, voltando ao intervalo da meta perseguida pelo Banco Central em 2022.
A previsão representa forte piora ante o último número oficial do Ministério da Economia, divulgado em julho, de uma alta de 5,90% para o IPCA em 2021. Já a perspectiva do mercado é de crescimento de 7,58% para a inflação, conforme boletim Focus mais recente, feito pelo BC junto a uma centena de economistas.
Um dos fatores que vêm pressionando a alta dos preços é a crise hídrica, que leva à alta na conta de luz. Na sexta, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) elevou sua projeção de chuvas para a principal área de geração hidrelétrica do país, Sudeste/Centro-Oeste, em setembro, além de projetar agora um avanço de 0,4% da carga para o mês, ante uma estimativa anterior de recuo de 0,2%.
Segundo nota divulgada na sexta-feira, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou em caráter emergencial, por causa da crise hídrica no país, a possibilidade de suspensão temporária de pagamentos de empréstimos tomados por geradores de energia hidrelétrica acima de 50 MW.
A possibilidade de suspensão de pagamento do valor principal e juros vale para até 7 prestações mensais consecutivas previstas para serem quitadas entre setembro desse ano e junho de 2022. O banco estima que há 26 projetos elegíveis para a suspensão da quitação dos financiamento.
Além da geração de energia elétrica, a crise hídrica afeta também a navegação em hidrovias.
Na sexta, o governo da Argentina fechou um acordo de curto prazo com a empresa belga Jan de Nul para dragar o rio Paraná. A medida que visa ajudar os navios que exportam grãos a navegar pela hidrovia, que atualmente está em seu ponto mais baixo em 77 anos.
O rio Paraná é administrado há décadas pela Jan de Nul, mas o governo entregou neste ano a gestão à Administração Nacional dos Portos da Argentina, que planeja uma nova licitação.
Radar corporativo
Via (VIIA3)
O conselho de administração da Via aprovou a emissão de R$ 1 bilhão em debêntures, com prazos de três, cinco e sete anos, segundo comunicado enviado pela companhia à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) neste domingo.
Os recursos, segundo a varejista, serão destinados para alongamento do perfil da dívida da companhia e reforço de caixa no âmbito da gestão ordinária dos negócios da empresa.
Petrobras (PETR3; PETR4)
A Petrobras confirmou na sexta o cronograma para o início da operação da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Polo GasLub (antigo Comperj), em Itaboraí (RJ), em 2022, com um projeto que conta ainda com o gasoduto Rota 3 que trará o insumo do pré-sal. A informação foi anunciada na sexta-feira pelo presidente da companhia estatal, general da reserva Joaquim Silva e Luna, durante evento de assinatura de protocolo de intenções com o governo do Estado do Rio de Janeiro, no Palácio Guanabara, para cessão de áreas do GasLub.
O projeto da UPGN com o gasoduto prevê capacidade para escoar e processar diariamente 21 milhões de metros cúbicos de gás do pré-sal.
Também na sexta, a Petrobras afirmou que aprovou novos modelos contratuais para venda de gasolina A e de óleo diesel rodoviário e marítimo para as distribuidoras de combustíveis, e ressaltou que os novos contratos em nada alteram a sua política de precificação.
Segundo a empresa, os novos contratos visam simplificar alguns processos, aumentar a competitividade e trazer flexibilidade para a Petrobras na adoção de novas estratégias comerciais, à medida que a companhia deixa sua condição de quase monopolista no refino de petróleo por meio do processo de desinvestimentos em refinarias.
BRB (BSLI4)
O Banco de Brasília (BRB) pediu registro para realizar uma oferta subsequente de units, em busca de recursos para ampliar sua oferta de crédito e investir em tecnologia, enquanto o governo do Distrito Federal também aproveitará a operação para vender uma fatia no negócio.
Segundo o prospecto preliminar da oferta registrado nesta sexta-feira na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a operação será conduzida por Itaú BBA, BTG Pactual e Citi.
Rumo (RAIL3)
A Rumo anunciou na sexta-feira a conclusão de uma arbitragem com Logística Brasil, Dimitrios Markakis e Deminvest, acionistas minoritários da Brado.
A arbitragem tinha a ver com direito de liquidez previsto no acordo de Acionistas da Brado.
“Com o encerramento do referido procedimento arbitral, a Rumo adquiriu 15,42% do capital social da Brado, por cerca de R$ 388 milhões”, afirmou a Rumo.
Eletrobras (ELET3;ELET6)
A Eletrobras informou aos seus acionistas e ao mercado em geral que foi publicado no Diário Oficial da União o Decreto 10.791/2021, de 10 de setembro de 2021, que cria a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional S.A. – ENBpar.
A nova estatal, criada em razão do processo de capitalização da Eletrobras, conforme previsto na Lei nº 14.182/2021, foi desenhada como um modelo de holding e terá como objeto deter o capital social e a comercialização da usina hidrelétrica de Itaipu, ser a sócia majoritária na Eletronuclear, gerir os contratos da Reserva Global de Reversão – RGR firmados até 2016 e os seguintes programas de governo: Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – Procel, Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – PROINFA, Mais Luz para Amazônia e Mais Luz para Todos.
A forma de segregação dos ativos ainda está em avaliação pelo BNDES e deverá ser aprovada em Assembleia Geral Extraordinária de Acionistas da Eletrobras, conforme artigo 3º da Lei nº 14.182/2021.
(com Estadão Conteúdo e Reuters)