Ibovespa cai com queda de blue chips e inflação nos EUA; Cielo dispara 7%
Investidores desconfiam de discurso do Fed de que a inflação é temporária após preço dos imóveis americanos bater maior alta desde 2005
Resumo do investidor
– Ibovespa recuou 0,84% e encerrou o pregão aos 122.987 pontos – Dólar comercial subiu 0,23% e fechou a sessão negociado a 5,337 reais – EUA: Dow Jones teve queda de 0,24%, S&P 500 registrou perdas de 0,21% e Nasdaq teve leve variação negativa de 0,03%
O Ibovespa não conseguiu sustentar a marca dos 124.000 pontos e recuou 0,84%, nesta terça-feira, 25, encerrando o dia aos 122.987 pontos. O principal índice da B3 sofreu o impacto da queda nas ações das blue chips, papéis de grande liquidez que representam algumas das empresas mais consolidadas do Ibovespa, como Vale (VALE3), Petrobras (PETR3; PETR4) e grandes bancos.
A bolsa brasileira também operou em linha com a piora do mercado americano. Por lá, os temores sobre a alta da inflação e possível aperto monetário por parte do Federal Reserve (Fed, banco central americano), voltou a dar as caras. Ainda que os investidores tenham se esforçado para acreditar que as pressões inflacionárias são apenas temporárias, a maior alta de preços dos imóveis americanos desde 2005, soou como um alarme.
Divulgada nesta manhã, a inflação imobiliária medida pela Standard & Poor’s cresceu 13,3% em março, na comparação anual. A expectativa era de alta de 12,3%.
Com a piora do humor sobre a inflação, os principais índices de ações americanos, que começaram o dia em alta, encerraram o dia no campo negativo. Com maior concentração de ações de tecnologia, o índice Nasdaq — que vinha tendo o melhor desempenho do mercado americano — entrou no mesmo ritmo do S&P 500 e Dow Jones.
O dólar comercial também acompanhou a piora no mercado internacional e fechou em alta de 0,23%, a 5,337 reais.
Por aqui, a inflação medida pelo IPCA-15 de maio, divulgada hoje, ficou em 0,44% na comparação mensal e em 7,27% na comparação anual, abaixo das expectativas do mercado. Investidores também ficaram atentos à agenda de reformas, com a CCJ da Câmara aprovando o primeiro passo para o andamento da reforma administrativa.
Na bolsa, as ações associadas ao minério de ferro recuaram em bloco, mesmo com a leve alta do minério de ferro nesta madrugada. Isso porque investidores continuam preocupados com a política de controle de preços que a China tem tentado estabelecer sobre a commodity.
Como resultado, a Vale (VALE3) fechou em queda de 2,49%, seguida pelas siderúrgicas CSN (CSNA3), Gerdau (GGBR4) e Usiminas (USIM5) que registraram perdas de 2,39%, 2,10% e 3,09%, respectivamente.
Ainda no campo das commodities, tanto o preço do petróleo quanto as ações da Petrobras (PETR3; PETR4) passaram por correções após a forte alta da véspera. O petróleo WTI recuou 0,26% e o Brent, referência para os papéis da Petro, terminou a sessão em leve variação negativa de 0,04%. Enquanto isso, os papéis ordinários da petroleira (PETR3) tiveram queda de 1,79%, e os preferenciais (PETR4) recuaram 2,08%.
Já no setor financeiro, as maiores perdas foram da B3 (B3SA3), cujas ações caíram 2,58%. Na sequência vieram os papéis do Banco do Brasil (BBAS3), que fecharam em queda de 1,34%. As ações do BB aprofundaram as perdas ao final do pregão com a notícia de que o presidente do Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, José Maurício Pereira Coelho, renunciou ao cargo na tarde desta terça-feira depois de três anos no posto.
Itaú (ITUB4), Santander (SANB11) e Bradesco (BBDC3; BBDC4) também encerraram com perdas de 1,05%, 1,01%, 0,98% e 0,50%, respectivamente.
Destaques
Em variação, a maior queda do Ibovespa ficou com as units do Banco Inter (BIDI11), que despencaram 6,97%. Os papéis passaram por um dia de realização de lucros, após subirem 25% no último pregão, com o anúncio de um possível investimento da Stone e de que suas ações podem ser listadas na Nasdaq.
Na ponta oposta, as ações da Cielo (CIEL3) lideraram os ganhos do índice subindo 7,63%. Os papéis subiram com a notícia do portal Neofeed, de que a Alelo vai ter uma plataforma própria de adquirência — antes, a empresa de fidelidade utilizava a plataforma da Cielo.
“A notícia traz uma possibilidade de cisão dos sócios da Cielo. Isso animou os investidores, na expectativa de que, em caso de saída de um dos sócios, o valor pago para que ele deixe sua fatia na empresa seria maior que o preço atual de negociação do papel. Isso porque a saída de um sócio exige um pagamento em valor patrimonial acrescido de um prêmio”, explica Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.
Maiores altas | Maiores quedas | |||||
Cielo | CIEL3 | 7,63% | Banco Inter | BIDI11 | -6,97% | |
Cogna | COGN3 | 6,65% | Usiminas | USIM5 | -3,09% | |
Pão de Açúcar | PCAR3 | 5,47% | Cosan | CSAN3 | -2,89% |
Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos, destaca ainda um outro ponto de atenção no negócio. “Ainda está no campo da possibilidade, mas uma futura cisão [entre Alelo e Cielo] poderia dar maior clareza aos ativos, principalmente da Alelo, fazendo com que o retorno ao acionista tivesse maior potencial. Fazendo um paralelo, podemos citar o caso do Pão de Açúcar e Assaí”.
O mercado brasileiro também aumenta posições em ações de empresas que se beneficiam com a maior circulação de pessoas, como o de educação. No pregão de hoje, as ações da Cogna (COGN3) ficaram em segundo lugar entre as maiores altas e subiram 6,65%, após seu presidente, Rodrigo Galindo, ter afirmado ao Valor que há planos de aquisições programados para o segundo semestre. Sua concorrente Yduqs (YDUQ3) também avançou 3,69%.
As empresas aéreas Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) também subiram, registrando ganhos de 4,11% e 2,88%, respectivamente. A forte alta ocorre após a Azul informar, por meio de fato relevante, que vê oportunidades de consolidação no setor e que está em posição de “liderar esse movimento”. O documento foi visto por investidores como um sinal claro de que alguma aquisição pode ser anunciada em breve.