Eletrobras vê prazo “desafiador” para privatização; é prudente sobre dividendos
A Eletrobras não mudará sua política de dividendos, apesar de ter reduzido fortemente sua dívida líquida
SÃO PAULO (Reuters) – O cronograma para capitalização da Eletrobras (ELET3;ELET6) é “desafiador”, com uma série de etapas a serem cumpridas até a operação de privatização estimada para fevereiro de 2022, disse o presidente-executivo da companhia, Rodrigo Limp, mas demonstrando confiança de que o “follow-on” ocorrerá dentro do prazo.
“É um cronograma desafiador, muitas etapas para serem concluídas até chegar na operação em si. Mas estamos confiantes na realização da operação neste cronograma”, declarou ele nesta quinta-feira, durante teleconferência com investidores para comentar os resultados do segundo trimestre da elétrica, cujo lucro disparou para R$ 2,5 bilhões.
“É fato que temos de acompanhar e trabalhar com cenários alternativos, mas hoje o nosso cronograma é fevereiro de 2022 (para o ‘follow-on’). Estamos bastante confiantes que vamos conseguir concluir neste prazo.”
Segundo apresentação da Eletrobras, a companhia espera para agosto a definição, pelo governo, do bônus de outorga para a renovação de contratos antigos de hidrelétricas.
O bônus será pago ao Tesouro com recursos levantados na oferta de ações que diluirá a fatia da União na companhia.
Em setembro, a Eletrobras espera ter concluído estudos, laudos e modelos para a capitalização. Em novembro, a companhia aguarda aprovação do órgão antitruste Cade.
Para dezembro, a elétrica aguarda a definição do modelo de segregação de Itaipu e Eletronuclear, que não integrarão a companhia privatizada. No mesmo mês, é aguardada a definição do percentual de diluição da União na empresa, além de autorização da agência reguladora Aneel.
Para janeiro, a Eletrobras prevê obter a deliberação do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a operação, assim como quer realizar a assembleia de acionistas sobre a capitalização.
Questionado por analista se a companhia e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que participa do processo de privatização, já têm mantido contatos com o TCU para evitar que o órgão seja surpreendido quando receber os documentos para analisar o caso, o CEO respondeu que sim.
Ele acrescentou que, dessa forma, não acredita que o TCU venha tomar medidas que possam atrasar de forma considerável a operação de oferta de ações, embora o tribunal deva cumprir seu papel de propor eventuais ajustes.
Com a aprovação do TCU e dos acionistas, em fevereiro a companhia espera realizar a oferta de ações, em processo visto pelo governo possivelmente como a maior privatização já feita no país.
A maior parte dos R$ 100 bilhões previstos com a privatização da Eletrobras deverá ser obtida com a venda de fatias do governo na empresa após a capitalização, que deverão render cerca de 80 bilhões de reais, disse em junho o secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord.
Prudência
A Eletrobras não mudará sua política de dividendos, apesar de ter reduzido fortemente sua dívida líquida, o que segundo um analista poderia permitir uma maior remuneração ao acionista.
A dívida líquida recuou para 16,9 bilhões de reais no final do segundo trimestre, ante 20,6 bilhões de reais ao final de março, o que permitiu uma redução da alavancagem (dívida/Ebitda) para 1 vez, ante 1,4 vez no período anterior.
Ao ser questionada sobre dividendos, a diretora financeira e de Relações com Investidores da Eletrobras, Elvira Presta, comentou que é tempo de prudência, especialmente antes da definição do valor da outorga para renovação dos contratos da hidrelétricas.
“No momento a gente não tem previsão de alterar essa política de ‘payout’… e também estamos muito atentos ao próprio processo de capitalização, tem que aguardar o bônus de outorga, qual vai ser o tamanho da capitalização, quanto vamos ter que desembolsar”, afirmou ela.
Elvira lembrou que a empresa ainda tem pela frente desembolsos relevantes, como a anunciada antecipação de pagamentos de dividendos de R$ 1,5 bilhão, US$ 632 milhões referentes a bonds e aporte de R$ 1,6 bilhão para Angra 3.
“Estamos sendo mais prudentes de aguardar esse cenário ficar mais claro antes de pensar em algum eventual ajuste na política (de dividendos), no momento, não é o plano.”
A diretora afirmou ainda que a empresa está começando o processo de planejamento anual, já pensando no cenário da empresa capitalizada, “e como seria o nível de investimento e potenciais operações que podem ser avaliadas”.
Entre os objetivos da privatização está a melhoria da capacidade de investimento da elétrica, considerada a maior da América Latina.