Brasileiros têm trocado almoço por lanches diante da alta de preços, aponta pesquisa
Alternativa é para compensar perdas com a inflação dos alimentos e suprir necessidade de comer fora de casa
Um relatório produzido pela consultoria Kantar que analisa o consumo das famílias aponta que os brasileiros têm mudado as refeições por lanches para driblar o aumento dos preços dos alimentos.
Segundo a pesquisa, para compensar alta de preços e suprir necessidade de comer fora de casa, o consumidor prioriza snacks (petiscos ou lanches) em detrimento de refeições completas, que exigem desembolso quatro vezes maior. Enquanto o valor médio de uma refeição completa é de R$ 43,94 (alta de 21% na comparação com o 1º trimestre do ano passado), a média de gatos com lanches é de R$ 10,43 (alta de 11%).
Outro dado apontado na pesquisa revela que, no primeiro trimestre deste ano, as famílias reduziram os gastos fora de casa e priorizaram o consumo dentro do lar. A mudança é justificada pelos impactos da inflação, com a alta dos preços dos produtos.
Ainda de acordo com a consultoria, os gastos com consumo massivo em casa representam 52% do orçamento familiar. Para as classes D e E, esse gasto domiciliar representa 60% do consumo.
De acordo com o gerente da pesquisa Hudson Romano, já que o salário mínimo está defasado em relação aos preços dos alimentos a substituição de refeições por lanches foi a alternativa encontrada para desviar da inflação.
“O grande problema não é mais que os restaurantes e bares estão fechados, mas como o bolso apertou, o brasileiro não tem mais dinheiro para gastar. Não tivemos o mesmo impacto da inflação nos salários. Então, os lanches foram uma opção econômica e as pessoas estão cada vez mais buscando isso. Querendo ou não, assim como as refeições, os snacks têm índices de calorias e carboidratos para saciar uma pessoa”, analisa o gerente.
Romano destaca ainda que os gastos são subdivididos em cada classe social. Ele explica que as classes mais altas costumam conduzir os gastos para contas do dia a dia, enquanto as classes mais baixas se preocupam mais com os alimentos.
“O consumo de abastecimento representa desde os alimentos e bebidas até produtos de limpeza. Quando olhamos para as classes sociais mais altas, como a A e a B, o consumo maior de despesas vai para a gasolina e a conta de luz, enquanto na classe D e E, por exemplo, como o bolso desse consumidor é mais apertado, a prioridade é a alimentação. Então é possível vermos isso na pesquisa”, ressalta.
Já o gasto médio trimestral em domicílio passou de R$ 1.329 no primeiro trimestre do ano passado, para R$ 1.369 no mesmo período deste ano (alta de 3%). Já o gasto médio trimestral caiu. Passou de R$ 288 nos três primeiros meses de 2021, para R$ 278 no primeiro trimestre de 2022 (queda de 3,4%).
A consultoria também avaliou o preço médio por produto nos três primeiros meses do ano, na comparação com o mesmo período de 2021. Em todas as sete regiões analisadas (Norte/Nordeste; Centro-Oeste; Leste/Interior do Rio; Grande Rio; Grande São Paulo; interior de São Paulo e região Sul), tiveram alta nos preços.
Os aumentos mais impactantes na comparação entre os primeiros três meses de 2022 e de 2021 foram no interior do Rio de Janeiro (+ 16,4%), no interior de SP (+ 15,6%) e no Centro-Oeste (+ 15,3%). Já na Grande São Paulo a alta foi de 14,4%, nas regiões Norte e Nordeste de 14,2%, no Grande Rio de 12,9% e na região Sul de 12,9%.
Embora o aumento tenha sido maior no interior de duas regiões, Romano explica que o impacto acaba sendo maior nas outras regiões, já que a maior parte populacional está concentrada nos grandes territórios.
“Normalmente, a Grande São Paulo e o Grande Rio são os locais que movimentam mais. Quando olha para o interior destes locais, por ser um tamanho menor em relação populacional, existem variações maiores, mas o gasto maior ocorre nos locais em que há uma maior concentração de poder aquisitivo. É normal ter mudança no ticket, pois esses lugares podem pagar mais pelos produtos”, diz.
Ilustrando os impactos da alta de preços, os consumidores reduziram os produtos em seus carrinhos de compra. A média nacional em relação à quantidade de itens no carrinho era de 15 no primeiro trimestre do ano passado, e passou para 13 em igual período deste ano.