BC cita cenário global e alta das commodities entre as justificativas para inflação acima da meta
Em carta ao ministro da Fazenda, Banco Central aponta ainda inércia da inflação anterior, desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos, gargalos nas cadeias produtivas globais e flexibilização pós-pandemia
O Banco Central divulgou nesta terça-feira (10), a carta aberta enviada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, e pelo presidente do Conselho Monetário Nacional (CMN), Cristiano de Oliveira Lopes Cozer, em que explicam os principais fatores que levaram a inflação em 2022 a ultrapassar o limite superior da meta, que foi definida em 3,25% como centro, sendo de 4,75% o teto e de 1,75% o piso.
Segundo o documento, uma das principais causas foi a “inércia da inflação do ano anterior”. Em seguida, a elevação dos preços de commodities, principalmente o petróleo, também foi uma das razões.
Além disso, destacaram os “desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos e gargalos nas cadeias produtivas globais”.
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) —que mede a inflação oficial do país–, apresentou alta de 5,79% em 2022, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta terça-feira (10).
As questões climáticas também estavam nas justificativas, ressaltando os resultados dos choques em preços de alimentação.
O ano de 2022 também foi marcado pela maior flexibilização do isolamento da pandemia, causada pela queda dos casos de Covid-19. Esse fato, possibilitou a retomada na demanda de serviços e no emprego e, consequente, o aumento da mobilidade.
Por outro lado, o documento pontua vários fatores que agiram no sentido contrário, reduzindo o desvio da inflação em relação à meta:
- redução na tributação sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações;
- comportamento da bandeira de energia elétrica, que passou de escassez hídrica para bandeira verde;
- apreciação cambial;
- hiato do produto no campo negativo.
“Nesse sentido, ressalta-se o papel do aperto da política monetária para a contenção da inflação. A política monetária, que, em 2021 já havia passado do estímulo extraordinariamente elevado para o território contracionista, avançou substancialmente no terreno contracionista em 2022”.
Campos Neto disse que as projeções do BC atualizadas em dezembro são de que o índice seguirá em queda em 2023, terminando o ano em 5%, nível inferior ao do ano passado.
“Nesse cenário, em 2023, a inflação ainda se mantém superior à meta, em virtude principalmente da hipótese do retorno da tributação federal sobre combustíveis nesse ano e dos efeitos inerciais da inflação de 2022”, disse.
Apesar disso, ele afirmou que o cenário é de convergência da inflação para as metas, com as projeções do IPCA em 3% em 2024 e 2,8% em 2025, ambos com meta de 3%.
Esta é a sétima vez no Brasil que um presidente do BC apresenta carta ao ministro da Fazenda (ou da Economia), que preside o Conselho Monetário Nacional, para justificar o descumprimento da meta de inflação do ano anterior.
As explicações já foram dadas nas aberturas de 2002, 2003, 2004, 2016, 2018 e 2021. Na mais recente, Campos Neto havia afirmado que estava tomado as devidas providências para que o IPCA atingisse as metas nos anos seguintes.
A regra determina que o presidente do BC divulgue a carta sempre que a inflação encerrar o ano fora dos intervalos de tolerância para o IPCA.
No regime de metas para a inflação, em vigor desde 1999, o Conselho Monetário Nacional (CMN) define um alvo para o IPCA de cada ano, além de um intervalo de tolerância.
Em 2023, de acordo com o boletim Focus divulgado pelo BC, o mercado espera que a inflação ao consumidor medida pelo IPCA fique em 5,36%, distante do centro da meta, de 3,25%, e acima do teto de 4,75% estabelecido para o intervalo de tolerância.
*Com Reuters