Plano de paz dos EUA para o Oriente Médio gera repúdio e cautela
A comunidade internacional oscilou entre o repúdio e a cautela ao anúncio do plano do presidente americano, Donald Trump, para o Oriente Médio, nesta terça-feira (28), em Washington, ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
O presidente americano revelou nesta terça seu plano de paz para o Oriente Médio com base em uma solução de “dois Estados”, no qual ele atribui a Israel uma série de garantias, entre elas a soberania sobre o vale do Jordão.
As propostas foram rejeitadas em bloco pelos palestinos.
Em uma rara convergência, o movimento islamita palestino Hamas, no poder na Faixa de Gaza, e a Autoridade Palestina, do presidente Mahmud Abbas, que controla a Cisjordânia, alinharam-se no repúdio ao plano de paz.
“Hoje dizemos que rejeitamos esse plano. Não aceitaremos um substituto para Jerusalém como capital do Estado da Palestina”, disse à AFP Khalil al-Hayya, alto funcionário do movimento, em referência às declarações de Trump, cujo plano faz de Jerusalém a capital “indivisível” de Israel, enquanto abre caminho para um Estado palestino com Jerusalém Oriental como sua capital.
Este plano de paz “está condenado ao fracasso” e poderia levar os palestinos a uma “nova fase” de sua luta, advertiu o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, antes do anúncio do presidente Trump.
Segundo autoridades em Ramallah (Cisjordânia ocupada) e Gaza, o líder do Hamas falou por telefone na noite de terça-feira com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, sobre uma reação conjunta ao projeto americano.
O Hamas, hostil à Autoridade Palestina, participou incomumente de um encontro na noite desta terça-feira com o líder palestino em Gaza, embora Haniyeh, que se encontra no exterior, tenha se ausentado.
Para Mahmud Abbas, o plano de Trump “não passará” e nenhum palestino pode aceitar um Estado independente sem ter Jerusalém como capital.
“É impossível a um árabe ou palestino aceitar não ter Jerusalém” como capital de um Estado palestino, declarou Abbas, destacando a recusa palestina a ver Jerusalém como a capital indivisível de Israel, como propõe o plano do presidente americano.
O movimento Hezbollah libanês avaliou que o plano de Trump é uma “tentativa de eliminar os direitos históricos e legítimos do povo palestino”.
Esta “escalada da vergonha”, como a denominou o Hezbollah, “não poderá ocorrer sem a cumplicidade e a traição de um certo número de regimes árabes, parceiros em sigilo ou às claras deste complô”, ressaltou o poderoso movimento pró-iraniano em um comunicado.
Para Teerã, o plano norte-americano de paz para o Oriente Médio é “a traição do século” e está fadado ao fracasso.
A Turquia também demonstrou incredulidade sobre o futuro do plano, classificando-o como “natimorto” e denominando-o de “plano de anexação” com vistas a destruir as esperanças de uma solução de dois Estados.
– Cautela –
A ONU, o Egito e a Jordânia adotaram uma posição de cautela diante do anúncio do plano.
Tanto as Nações Unidas quanto a Jordânia defenderam as fronteiras de 1967. Para a Jordânia, respeitar estas fronteiras é “a única via para uma paz global e duradoura”.
Em nota, Egito pediu para israelenses e palestinos “uma análise atenta e profunda da visão americana para alcançar a paz e abrir canais de diálogo”.
A União Europeia, por sua vez, reafirmou sua posição firme a favor de “uma solução negociada e viável aos dois Estados”.
Bruxelas “vai estudar e avaliar as propostas avançadas”, afirmou o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell, em uma declaração feita em nome dos 28 países-membros, na qual pediu para “relançar os esforços dos quais temos necessidade urgente” em vista desta solução negociada.
Para a Alemanha, apenas uma solução “aceitável pelas duas partes” pode “conduzir a uma paz duradoura entre israelenses e palestinos”, reagiu o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas.
“Vamos estudar a proposta de forma intensiva e partiremos do princípio de que todos os parceiros vão fazer o mesmo”, disse Maas em um comunicado.
Entre os aliados dos Estados Unidos, Londres era o mais positivo, classificando como uma “proposta séria” que “pode representar um avanço positivo”.
Mais cedo, o premiê britânico, Boris Johnson, conversou com Trump sobre o plano.
Downing Street informou que poderia ser “um avanço positivo”.
Já a Rússia defendeu “negociações diretas” entre Israel e palestinos para chegar a um “compromisso mútuo aceitável”.