O governo da Rússia conseguiria isolar o país da internet global?
Altos oficiais vêm aumentando o tom ao tratar da necessidade de controlar o tráfego de dados entrando e saindo do país
Altos oficiais do governo da Rússia vêm falando em controlar o conteúdo que seus cidadãos conseguem acessar pela internet, conforme aumentam as críticas internacionais à invasão da Ucrânia. “O Estado precisa controlar essa área completamente”, afirmou na quinta-feira (26/5) Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, por meio da agência Tass. “Não do ponto de vista de restrições de alguma forma de controle totalitário, é claro, mas do ponto de vista de percepção de interesses nacionais.”
No mesmo dia, o senador Alexei Pushkov disse ser necessário que a Rússia se prepare para um cenário “negativo” e que considere a possibilidade da “desconexão” do país, isolando-o da internet global.
A China consegue exercer alto grau de controle sobre o que seus cidadãos acessam e publicam, numa política apelidada “Grande Muralha Digital da China”. É uma política trabalhosa, custosa e que exige aperfeiçoamento constante. Será que a Rússia conseguiria fazer o mesmo? Patrick Tucker, editor de Tecnologia do site americano Defense One, analisou o tema e se mostra cético.
Ele explica que, na década passada, o governo russo começou a falar sobre desenvolver uma internet limitada ao país e, em 2016, os militares passaram a trabalhar numa rede nacional fechada para o resto do mundo (chamada Segmento Fechado de Transferência de Dados ou, na sigla em inglês, CDTS). O governo passou a exigir que empresas que detenham dados de cidadãos russos armazenem esses dados em solo russo. Além disso, o governo tem seu próprio sistema de atribuição de domínios, como o ICANN (que distribui endereços IP e nomes de domínio — uma organização internacional mas com sede nos EUA). Dados entrando ou saindo da Rússia também precisam passar por servidores no país. Em 2019, segundo Tucker, o governo russo afirmou que foram bem-sucedidos testes para desconectar o país da internet global, mas não detalhou a experiência.
Naquele mesmo ano, o general americano Paul Nakasone, chefe da NSA (Agência Nacional de Segurança dos EUA) e do comando cibernético das Forças Armadas dos EUA, afirmou que acompanhava o que os russos estavam tentando fazer, mas se disse “um tanto cético” quanto à capacidade de execução do plano.