Evo Morales chega à Argentina e obtém refúgio
O ex-presidente boliviano Evo Morales chegou nesta quinta-feira (12) a Buenos Aires, onde terá a condição de refugiado, dois dias após Alberto Fernández assumir a Presidência da Argentina.
Morales “vem para ficar na Argentina. Entra em condição de asilado e depois passa a ter a de refugiado”, declarou o chanceler Felipe Solá ao canal de notícias TN. O ex-presidente boliviano “se sente mais confortável aqui do que no México”, acrescentou.
Morales chegou de forma discreta à capital argentina ao lado do ex-vice-presidente Álvaro García Linera, a ex-ministra Gabriela Montaño e o ex-embaixador da Bolívia na OEA, José Alberto Gonzales, que também estavam asilados no México.
“Queremos o compromisso de Evo de não fazer declarações políticas na Argentina. É uma condição que nós pedimos”, afirmou Solá.
O chanceler argentino afirmou que não havia nenhum encontro agendado entre Morales e o presidente Fernández, e não especificou em que local do país o ex-dirigente boliviano permanecerá como refugiado. Uma fonte diplomática disse à AFP que ele está hospedado na Grande Buenos Aires, fora da capital argentina. É nesta região que fica o distrito de La Matanza, onde vive grande parte da comunidade boliviana que reside na Argentina.
Segundo o último censo de 2010, cerca de 350 mil bolivianos residem no país, correspondendo a 19% do total de imigrantes. Mas as associações comunitárias indicam que esse número seria de um a dois milhões de bolivianos residentes.
– Evo “está bem” –
O estatuto de refugiado será concedido pelo ministério do Interior e para obtê-lo deve cumprir requisitos como fixar residência no país, acrescentou Solá.
Diferentemente do asilo político, concedido por um governo sem a necessidade de justificativa, o estatuto de refugiado é mais amplo e o motivo para outorgá-lo deve ser justificado. O refugiado tem mais direitos e obrigações, segundo as normas migratórias argentinas.
Daniel Catalano, secretário-geral da ATE (Associação de Trabalhadores do Estado) capital, um dos integrantes da comitiva que recebeu Evo Morales, afirmou que o ex-presidente “está bem, está inteiro”.
“Contente de estar na Argentina”, disse Catalano à AFP, acrescentando que ele está indo para “um lugar seguro”.
– “Eterno agradecimento” –
“Há um mês cheguei ao México, país irmão que salvou a nossa vida, estava triste e destroçado. Agora cheguei à Argentina, para continuar lutando pelos mais humildes e para unir a #PátriaGrande, estou forte e animado. Agradeço ao México e à Argentina por todo seu apoio e solidariedade”, escreveu o ex-presidente no Twitter.
Ele também expressou seu “eterno agradecimento” ao presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador e “ao povo e ao Governo do México por salvar a minha vida e por me acolher. Me senti em casa junto às irmãs e irmãos mexicanos durante um mês”.
O ex-presidente era uma das personalidades convidadas por Fernández para sua cerimônia de posse, mas chegou dois dias depois, encontrando seus dois filhos, Evaliz e Alvaro, que já se estavam em território argentino desde 23 de novembro.
Os analistas acreditam que a decisão não terá muito impacto na política internacional do novo governo.
Era “esperado” e “não terá influência em questões concretas” para o novo governo argentino, opinou o consultor político e sociólogo Raúl Aragón.
“Isto certamente não agradará (Jair) Bolsonaro ou (Donald) Trump, mas indo além do discurso político, quando se trata de concordar com questões concretas, Evo Morales não tem tanta relevância”, declarou Aragón à AFP.
– “Governo de fato” –
Morales renunciou no dia 10 de novembro após perder apoio das Forças Armadas em meio a fortes protestos sociais gerados por sua tentativa de permanecer no poder pelo quarto mandato consecutivo. As últimas eleições foram consideradas fraudulentas pela missão de observadores da OEA.
O ex-presidente inicialmente recebeu asilo no México. Fernández, antes da posse, denunciou um “golpe de Estado”na Bolívia e colaborou com a operação para tirar Evo Morales de seu país e viabilizar sua chegada ao México.
Solá ratificou nesta quinta-feira que a Argentina não reconhece o governo de transição de Jeanine Áñez.
“Não reconhecemos o governo da Bolívia (de transição de Jeanine Áñez), mas fazemos votos e tentaremos não atrapalhar, e, sim, ajudar para que haja eleições o quanto antes”, declarou o chanceler argentino.
A Bolívia tem “um governo de facto”, acrescentou, admitindo que este “pode ter o apoio de parte da população”.
Áñez convocou eleições na Bolívia embora ainda não se saiba a data, que segundo ela deverá ser em março ou abril, sem a participação de Morales. Seu governo admitiu que a relação com a Argentina “será difícil”.