Após Putin propor reforma constitucional, Medvedev e gabinete de governo russo entregam seus cargos
Dimitri Medvedev anunciou saída de forma inesperada depois que Putin propôs votação nacional sobre mudanças que devem transferir poderes ao Parlamento, medida que poderia lhe permitir continuar no comando do país depois de deixar o Kremlin.
O primeiro-ministro da Rússia, Dimitri Medvedev, apresentou a renúncia de seu governo ao presidente Vladimir Putin, nesta quarta-feira (15), um anúncio inesperado feito após o discurso do chefe de Estado sobre reformas da Constituição.
“Nós, enquanto governo da Federação da Rússia, devemos dar ao presidente do nosso país os meios de tomar todas as medidas que se impõem. É por esse motivo que o governo, em seu conjunto, entrega sua demissão”, afirmou Medvedev, segundo agências russas de notícias.
Medvedev foi primeiro-ministro por sete anos e oito meses. O atual governo liderado por ele foi formado em 18 de maio de 2018 e era composto por dez vice-primeiros-ministros (incluindo um primeiro vice-primeiro-ministro) e 22 ministérios, de acordo com informações da agência Tass.
Putin propôs o nome de Mikhail Mishustin para o cargo de primeiro-ministro, que aceitou a função. Mishustin era chefe da receita federal russa.
Mais cedo, Putin propôs uma votação nacional sobre mudanças constitucionais abrangentes que devem transferir poderes da presidência ao Parlamento e ao primeiro-ministro, uma medida que poderia lhe permitir continuar no comando do país depois de deixar o Kremlin.
No poder como presidente ou primeiro-ministro desde 1999, Putin, de 67 anos, deve sair em 2024, quando seu quarto mandato presidencial termina.
Ele ainda não disse o que planeja fazer ao final deste período, mas pela Constituição atual, que proíbe que qualquer pessoa cumpra mais de dois mandatos presidenciais sucessivos, Putin está impedido de voltar a concorrer de imediato.
Discurso anual
Putin disse à elite política do país na quarta-feira, por ocasião de seu discurso anual do Estado da Nação, que é a favor de uma mudança da Constituição para dar à Duma, a câmara baixa do Parlamento, o poder de escolher o premiê e outros cargos.
“É claro que existem mudanças muito sérias no sistema político”, disse ele, acrescentando que acredita que o Legislativo e a sociedade civil estão prontos para as mudanças.
“Isso aumentaria o papel e o significado do Parlamento do país, dos partidos parlamentares, e a independência e responsabilidade do primeiro-ministro”.
Especula-se que ele cogite várias opções para se manter no leme, como transferir poder ao Parlamento e assumir um papel mais destacado de primeiro-ministro.
Os comentários de Putin provavelmente ressuscitarão especulações sobre seus planos para depois de 2024. Críticos o acusam há tempos de tramar para continuar em algum posto no qual exerça poder sobre a maior nação do mundo depois que deixar seu cargo. Ele continua popular entre muitos russos, que o veem como um pilar de estabilidade bem-vindo, apesar de outros se queixarem de ele estar no poder há tempo demais.
Outra opção mencionada é liderar um Conselho Estatal, um organismo que Putin disse, ainda nesta quarta-feira, que acredita que deveria receber mais poderes da Constituição.
Embora ainda não esteja claro se Putin desempenhará um papel importante na vida política russa pós-2024, suas novas propostas apontam para opções possíveis se ele decidir continuar no controle da política nacional, como muitos apoiadores e detratores creem.
Veja reportagem sobre a última eleição de Putin.