Senador com dinheiro na cueca pediu para ir ao banheiro e delegado notou “volume”
Chico Rodrigues foi alvo da PF Operação apura desvio na saúde STF determinou seu afastamento Na decisão, há relato da busca
Relatório da Polícia Federal descreve como foi o flagra do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), ex-vice-líder do governo do presidente Jair Bolsonaro no Senado, com dinheiro escondido na cueca. O relato está em decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), que determinou o afastamento do congressista por 90 dias.
Eis a íntegra da decisão (238 KB).
De acordo com o documento, agentes da Polícia Federal, sob o comando do delegado Wedson Cajé, chegaram por volta das 6h de 4ª feira (14.out.2020) para realizar uma busca e apreensão na residência do congressista em operação deflagrada para investigar desvios de recursos destinados à Secretaria de Saúde de Roraima para o combate à pandemia.
A ação transcorreu com certa normalidade. Os agentes federais solicitaram ao senador que abrisse 1 cofre existente no seu quarto, onde encontraram, em dinheiro vivo, R$ 10.000 e US$ 6.000. No entanto, o que de fato chamou a atenção do delegado foi o grande volume existente dentro da bermuda do senador.
Em determinado momento, durante as buscas, Chico Rodrigues pediu para ir ao banheiro. Cajé autorizou, mas disse que o acompanharia. Foi neste momento que percebeu o grande volume dentro da sua bermuda.
Eis o que diz o relatório da PF sobre o momento:
“Nesta hora, o delegado Wedson percebeu que havia 1 grande volume, em formato retangular, na parte traseira das vestes do senador Chico Rodrigues que utilizava 1 short azul (tipo pijama) e uma camisa amarela. Considerando o volume e seu formato, o delegado Wedson suspeitou estar o senador escondendo valores ou mesmo algum aparelho celular. Ao ser perguntado sobre o que havia em suas vestes, o senador Chico Rodrigues ficou bastante assustado e disse que não havia nada”.
Diante da “fundamentada suspeita”, o delegado informou ao senador que teria que fazer uma busca pessoal nele e solicitou que os policiais federais filmassem o ato, para evitar qualquer suspeita de abuso de autoridade.
“Conforme imagens abaixo, ao fazer a busca pessoal no senador Chico Rodrigues, num primeiro momento, foi encontrado no interior de sua cueca, próximo às suas nádegas, maços de dinheiro que totalizaram a quantia de R$ 15.000,00, conforme descrito no item 3 do Termo de Apreensão em anexo”, registrou a PF.
Mas não se tratava de todo o dinheiro ainda. Já ao final dos trabalhos de busca, a equipe da PF estava na sala da residência do senador preenchendo os documentos referentes ao ato. Neste momento final, perguntaram ao senador se havia ocultado mais dinheiro. Surpreendentemente, segundo o relatório, Chico Rodrigues sacou 1 valor ainda maior de dentro da sua própria cueca.
A PF então decidiu fazer uma última busca pessoal e encontrou 1 valor final de R$ 250 ainda escondido na cueca dele.
“Ao ser indagado pela 3ª vez, com bastante raiva, o senador Chico Rodrigues enfiou a mão em sua cueca, e sacou outros maços de dinheiro, que totalizaram a quantia de R$ 17.900,00, conforme descrito no item 4 do Termo de Apreensão em anexo. Desta forma, considerando que o senador Chico Rodrigues, insistentemente, ocultava valores em suas vestes íntimas, esta equipe policial efetuou uma nova busca pessoal, oportunidade em que foram localizados, em sua cueca, a quantia de R$ 250,00”, registrou a PF.
Nesta 5ª feira (15.out.2020), Chico Rodrigues, que era vice-líder do Governo no Senado, deixou a função. O senador foi indicado ao cargo pelo presidente Jair Bolsonaro em 13 de março de 2019. Seu afastamento já foi publicado no Diário Oficial da União. Eis a íntegra (57 KB).
Ao determinar o afastamento de Chico Rodrigues do cargo de senador, Barroso apontou a “gravidade concreta” do caso, que exige o afastamento para evitar que o senador use o cargo para dificultar as investigações. O caso foi encaminhado ao Senado, a quem cabe definir se o congressista deixa o cargo ou não.
“A gravidade concreta dos delitos investigados também indica a necessidade de garantia da ordem pública: o senador estaria se valendo de sua função parlamentar para desviar dinheiro destinado ao enfrentamento da maior pandemia dos últimos 100 anos, num momento de severa escassez de recursos públicos e em que o país já conta com mais de 150 mil mortos em decorrência da doença”, afirma o ministro.