Secom defendeu que verba publicitária privilegiasse mídia considerada aliada

Wajngarten contou a blogueiro bolsonarista que “aliados” estavam “furiosos” com atraso no pagamento

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A Secom (Secretaria de Comunicação Social), quando chefiada por Fabio Wajngarten, defendeu que a verba em publicidade da Caixa Econômica Federal privilegiasse veículos de comunicação classificados como “mídia aliada”. A informação é do jornal O Globo e tem como base um relatório da PF (Polícia Federal) que integra o inquérito de atos considerados antidemocráticos. O sigilo dos documentos foi derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

De acordo com a reportagem do O Globo, depois de assumir a Secom, em abril de 2019, Wajngarten se aproximou do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, dono do site Terça Livre e amigo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro.

O ex-chefe da Secom ficou preocupado com o atraso no pagamento a emissoras consideradas aliadas. “Caixa devendo para Band. RTV”, disse Wajngarten a Allan dos Santos, em provável referência à RedeTV. “Os aliados estão furiosos. General sentou em cima e não paga nenhuma nota passada. Provocando iminentes tumores. Totalmente desnecessário”, prosseguiu.

Não há no relatório da PF indicação sobre quem seria o “general” citado. Mas na ocasião, o único general que tinha responsabilidade sobre as verbas publicitárias era Santos Cruz, ex-chefe do Segov (Secretaria de Governo).

Wajngarten também diz que tentou aproximar Bolsonaro da cúpula da Band“É preciso trazer esses caras pra perto, não afastá-los”, disse Allan dos Santos. “Na hora convidei-os”, responde o ex-chefe da Secom.

Outra mensagem endereçada a Allan dos Santos que consta no relatório da PF vem de uma pessoa chamada Eduardo, provavelmente Eduardo Bolsonaro, segundo o Globo. Nela, Eduardo diz que tem contato de Douglas Tavolaro, ex-executivo das emissoras Record e CNN“O Douglas diz que a linha [da CNN] será da Record, que o que vem dos EUA é só o nome CNN”.

“ME AJUDA NAS REDES”

Poder360 noticiou na última semana outro diálogo entre Wajngarten e Allan dos Santos. Nele, Wajngarten pede ajuda para divulgar uma nota oficial em defesa da Secom.

“Me ajuda nas redes, por favor”, escreveu Wajngarten, depois de compartilhar uma nota que dizia: “O Secretário Fábio Wajngarten não cometeu qualquer crime contra o erário público ao destinar verbas publicitárias para agências e veículos de comunicação que tem sua empresa como fornecedora”.

O Relatório da PF aponta que Allan dos Santos foi incluído em um grupo de WhatsApp chamado “Mídia Pensante”. Foi apresentado aos participantes pelo então secretário da Secom, Fabio Wajngarten, que o chamou de “brilhante”.

Um integrante do grupo chamado “Jorge” sugeriu a Wajngarten a criação do setor para “assessorar o presidente”. A conversa é datada de 14 de abril de 2019. Eis a íntegra do diálogo:

JORGE: Fábio, aquela ideia de comunicação estratégica e contra informação. Na minha opinião, você deve criar um departamento para isso. Você já até concordou com a ideia. Vamos implementá-la?

JORGE: Fábio, veja a minha sugestão. Nós podemos fazer um upgrade diferente para o nosso Brasil. Me responda, por favor

MATOS: Gosto muito dessa ideia. Alguém que tenha experiência em estratégia política e conheça bem a mídia e os stakeholders da comunicação.

 

 

WAJNGARTEN: Bom dia, assim que minimamente estruturada a SECOM vamos implementar. No momento, todos os funcionários estavam desmotivados e sem direcionamento. Nesses 3 dias que passamos por lá o orgulho, a motivação, a alegria de trabalhar estão sendo resgatados.

A PF não identificou quem seriam os interlocutores “Jorge” e “Matos”. O Poder360 entrou em contato com o ex-secretário da Secom Fabio Wajngarten que afirmou que nunca compareceu em reuniões com o blogueiro Allan dos Santos e que só teria se encontrado com ele no máximo em 5 ocasiões. Wajngarten também disse que não houve “ingerência” na gestão dele.

Poder360 entrou em contato com o blogueiro Allan dos Santos, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto.

Em nota enviada ao Poder360, a CNN Brasil afirmou que atua com “absoluta independência e imparcialidade” e que Douglas Tavolaro já não faz mais parte do veículo. Leia o posicionamento na íntegra:

O Sr. Douglas Tavolaro não faz parte dos quadros da CNN Brasil desde março de 2021. A CNN Brasil atua com absoluta independência e imparcialidade.

A CNN Brasil reafirma o seu compromisso com a independência, a imparcialidade e os mais altos padrões de jornalismo. Há pouco mais de um ano no ar, a CNN Brasil tem sua isenção e independência reconhecida em pesquisas de opinião pública, com ampla vantagem sobre sua principal concorrente.

CRÍTICAS E COBRANÇAS

Outras trocas de mensagens entre Wajngarten e Allan dos Santos também foram listadas pela PF. Em uma delas, datada de 6 de maio de 2019, o blogueiro critica o então ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, e sugere: “Coloca o Carlos no lugar dele”. Wajngarten responde: “Quem tem essa caneta?”.

Há também registros de cobranças de Allan dos Santos sobre acesso a vídeos da TV Brasil. Em conversa datada de 30 de junho de 2019, o blogueiro reclama: “Há um canal que consegue antes de qualquer um. NÃO É NO SITE!”.

Wajngarten responde: “Deixa comigo. Já pedi para a Secom entender o funcionamento e distribuição desses vídeos”.

Em outro diálogo, Allan encaminha ao secretário vídeo publicado no canal bolsonarista Folha do Brasil sobre um discurso de Bolsonaro no dia 7 de julho de 2019. “Por que só eles, Fabio? Meu amigo estava no evento e não havia ninguém lá, a não ser o próprio governo filmando”, reclamou o blogueiro.

Wajngarten explica que o canal consegue os sinais da EBC como as emissoras tradicionais. “O sinal está disponível. Ele não tem prioridade em nada”, afirma.

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Fonte poder360
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