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Investing.com – Em meio à desaceleração da inflação, a autoridade monetária brasileira define a taxa de juros na próxima quarta, 21, com a expectativa consensual pela manutenção da Selic no patamar atual, que é de 13,75%. O início da reunião de dois dias do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central ocorre na terça-feira, 20.
A inflação brasileira medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,23% no mês de maio, levando o indicador em doze meses a 3,94%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em abril, o IPCA avançou 0,61%. O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, acredita que a inflação poderá ficar negativa em junho e voltar a subir no segundo semestre.
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O indicador abaixo do esperado reforçou a expectativa de uma eventual flexibilização monetária – mas não nesta reunião. O Copom iniciou o ciclo restritivo em março de 2021, quando elevou os juros de 2% para 2,75%. A Selic está no patamar de 13,75% desde agosto de 2022.
O dado levou a uma série de revisões nas projeções econômicas. O Santander alterou a expectativa de afrouxamento de novembro para setembro, mesma visão do UBS BB.
Jose Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, concorda que o Copom ainda deve manter a taxa Selic, mas deve indicar no comunicado sinais de que a situação da economia melhorou. “A inflação, esteja embora incômoda, trouxe núcleos mais baixos, pois as projeções de inflação do Focus e do modelo do Banco Central devem trazer números mais baixos, o que significa o início do processo de reancoragem das expectativas”.
A meta de inflação deve ser citada, assim como o avanço do projeto de lei do arcabouço fiscal, que tramita no Senado, o que ainda traz alguns riscos. “O Copom deve apontar que as perspectivas para a política fiscal melhoraram. São somente argumentos favoráveis para o início do ciclo. Preços de commodities e taxa de câmbio também indicam movimento benéfico”, completa Gonçalves.
O economista-chefe do Banco Fator lembra que os juros de mercado caíram insistentemente entre a reunião anterior até o momento, assim como a taxa de câmbio. Ainda que não espere uma redução na quarta, mas sim em agosto, na visão do economista, haveria espaço para início dos cortes. “Já tinha espaço para isso antes. A inflação não vai cair tão cedo, inflação de serviços não cai assim, enquanto não há uma recessão, é só olhar para a história. Me parece que como esse não é o objetivo, é preciso lidar com uma desinflação lenta”.
A manutenção da Selic também é a expectativa de Beto Saadia, economista e sócio da Nomos. Ainda que haja um processo de diminuição no indicador, que preocupa menos, os dados são muito recentes e o Copom ainda deve aguardar um prazo maior para consolidação e inclusão de novas informações sobre o arcabouço fiscal.
“No geral, os dados são bons, mas são muito recentes ainda. A inflação, apesar de já ter caído bastante, ainda não está convergindo para 3,25%, mas para mais próximo de 4%. O mercado enxerga isso como suficiente, porque todo mundo está discutindo um aumento da própria meta. Há uma perspectiva de que a meta vai mudar”, avalia Saadia.
Para Saadia, as últimas declarações de Roberto Campos Neto indicam que a taxa de juros vai cair, mas que deve ser reduzida mais para frente. “Em agosto, a queda fica mais permanente, mais crível, de forma mais segura”, reforça o economista da Nomos. A atenção no comunicado deve ficar em torno da unanimidade ou não da decisão, com possíveis divergências. “Tecnicamente falando, já daria para reduzir, mas a inflação é muito comportamental, é preciso ajustar as expectativas do mercado, para que, quando a queda acontecer, ela seja a mais crível possível”.
Raphael Moses professor de economia do Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também avalia que o Copom já teria elementos para reduzir a Selic, mas que as indicações de Campos Neto levam a crer que queda não deve ocorrer em junho, mas em agosto ou setembro.
“Espero que o Banco Central já abra caminho no comunicado para uma queda em agosto ou setembro, porque elementos já temos, com inflação abaixo do esperado, arcabouço fiscal e reformas que estão sendo feitas, como a reforma tributária”.
Moses lembra que Campos Neto vem sendo cobrado por diversos setores da economia, não apenas pelos membros do governo, que teceram críticas duras o desde o início do ano.
Entre os empresários que pressionam RCN, está a fundadora do Magazine Luiza (BVMF:MGLU3), Luiza Trajano, que disse já ter ligado para o presidente do Banco Central mais de vinte vezes para pedir a queda nos juros.
A situação é delicada para todo o setor do varejo, segundo Moses. “A Selic alta mata o setor de varejo, que depende muito do consumo das famílias. Aumenta a dificuldade do crédito, parcelamento fica mais restrito. O custo de oportunidade fica muito alto para o empresário brasileiro”.
Na visão de Moses, não seria necessário revisar a meta de inflação, mas o professor acredita que a pressão vai resultar em mudança na metodologia.