Rússia confirma acordo com líder do Grupo Wagner após recuo

Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, selou acordo para interromper motim em troca de garantias de segurança para os rebeldes

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O líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, afirmou na tarde deste sábado (24), em áudio obtido pela Reuters, que seus mercenários irão paralisar a ofensiva em direção a Moscou para evitar “derramamento de sangue russo”. A decisão de interromper o movimento do Grupo Wagner na Rússia foi intermediada pelo presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, em troca de garantias de segurança.

No fim da tarde deste sábado no Brasil, agências internacionais relataram que o Kremlin confirmou o acordo com Yevgeny Prigozhin. Tanto o líder do Wagner como os outros rebeldes não serão punidos pelos russos.

Segundo o pacto divulgado pelo governo da Rússia, Prigozhin teria aceitado se exilar na Bielorrússia e deixaria o front de combate na Ucrânia, o que ainda não foi confirmado pelo líder paramilitar.

Os paramilitares do Wagner estavam a apenas 200 quilômetros da capital, afirmou Prigozhin. Os rebeldes capturaram a cidade de Rostov centenas de quilômetros ao sul antes de correr pelo país.

“Eles queriam desmantelar nossas tropas. Embarcamos em uma marcha pela justiça em 23 de junho. Em 24 horas, chegamos a 200 km de Moscou. Nesse tempo não derramamos uma única gota de sangue de nossos combatentes”, disse o líder dos mercenários, em uma mensagem de áudio.

“Agora chegou o momento em que sangue pode ser derramado. Compreendendo a responsabilidade [pelo risco] de que o sangue russo seja derramado, estamos recuando nossos comboios e voltando aos campos de campanha, conforme planejado”, completou Prigozhin .

Putin fala em ‘traição’

Mais cedo, o presidente Vladimir Putin prometeu “esmagar” o motim armado, no que ele comparou à Guerra Civil da Rússia de um século atrás.

“Todos aqueles que deliberadamente pisaram no caminho da traição, que prepararam uma insurreição armada, que seguiram o caminho da chantagem e métodos terroristas, sofrerão punição inevitável, responderão tanto à lei quanto ao nosso povo”, disse Putin, em discurso televisionado.

Combatentes do Grupo Wagne controlam Rostov-on-Don, uma cidade de mais de um milhão de pessoas perto da fronteira com a Ucrânia, e avançavam rapidamente em direção à capital da Rússia.

Um jornalista da Reuters viu helicópteros do exército abrirem fogo contra uma coluna armada de Wagner que avançava pela cidade de Voronezh com transportadores de tropas e pelo menos um tanque em um caminhão-plataforma.

Prigozhin, cujo exército privado atuou ao lado da Rússia nas batalhas mais sangrentas na Ucrânia, mesmo quando rivalizou por meses com o alto escalão russo, disse que capturou o quartel-general do Distrito Militar do Sul da Rússia em Rostov.

Em Rostov, que serve como o principal centro logístico de retaguarda para toda a força de invasão da Rússia, os moradores se aglomeraram, filmando em telefones celulares, enquanto os combatentes Wagner em veículos blindados e tanques de batalha tomavam posições.

Prigozhin diz que seus homens estão em uma “marcha por justiça” para remover comandantes corruptos e incompetentes que ele culpa por estragar a guerra na Ucrânia.

“Ambições excessivas e interesses escusos levaram à traição”, disse Putin em um discurso televisionado, comparando a insurreição em um momento de guerra no exterior com a revolução russa e a guerra civil desencadeada durante a Primeira Guerra Mundial.

Um desafiador Prigozhin respondeu rapidamente que ele e seus homens não tinham intenção de se entregar. “O presidente comete um erro profundo quando fala sobre traição. Somos patriotas e lutamos por isso”, disse Prigozhin em uma mensagem de áudio. “Não queremos que o país continue a viver na corrupção e na falsidade.”

Em uma série de mensagens agitadas durante a noite de sexta-feira (23), Prigozhin exigiu que o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e o chefe do estado-maior, Valery Gerasimov, fossem vê-lo em Rostov.

Moscou em alerta

O prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, chegou a pedir aos cidadãos que se abstivessem o máximo possível de circular pela cidade, uma vez que uma operação antiterrorista foi declarada, e disse que a situação é “difícil”.

Sobyanin disse ainda em comunicado que segunda-feira (26) será um dia não útil – com algumas excepções – de forma a “minimizar os riscos”. Houve uma maior presença de segurança nas ruas e a Praça Vermelha foi bloqueada por barreiras de metal.

Reação do Ocidente

Antes do anúncio de Prigozhin na tarde deste sábado, as capitais ocidentais disseram que estão acompanhando de perto a situação na Rússia com armas nucleares. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, falou com colegas das nações do G7. A Casa Branca disse que o presidente Joe Biden foi informado.

“Isso representa o desafio mais significativo para o Estado russo nos últimos tempos”, disse o Ministério da Defesa britânico. “Nas próximas horas, a lealdade das forças de segurança da Rússia, e especialmente da Guarda Nacional Russa, será a chave para o desenrolar desta crise.”

O controle de Putin sobre o poder pode depender de ele conseguir reunir tropas leais suficientes para combater os mercenários em um momento em que a maior parte das forças armadas da Rússia está posicionada no front no sul e leste da Ucrânia.

A insurreição também corre o risco de deixar a força de invasão da Rússia na Ucrânia em desordem, no momento em que Kiev está lançando sua contra-ofensiva mais forte desde o início da guerra em fevereiro do ano passado.

“A fraqueza da Rússia é óbvia. Fraqueza em grande escala”, escreveu o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, em uma mensagem nas redes sociais. “E quanto mais a Rússia mantiver suas tropas e mercenários em nossa terra, mais caos, dor e problemas ela terá para si mesma mais tarde.”

 

A revolta de Prigozhin

Prigozhin, um ex-presidiário e aliado de longa data de Putin, lidera um exército privado que inclui antigos militares de elite da Rússia e milhares de ex-prisioneiros recrutados nas prisões russas.

Seus homens enfrentaram os combates mais ferozes da guerra de 16 meses na Ucrânia, incluindo a batalha prolongada pela cidade oriental de Bakhmut.

Ele protestou durante meses contra os altos escalões do exército regular, acusando os generais de incompetência e de reter munição de seus combatentes. Neste mês, ele desafiou ordens para assinar um contrato que colocava suas tropas sob o comando do Ministério da Defesa.

Ele lançou o aparente motim na sexta-feira depois de alegar que os militares mataram muitos de seus combatentes em um ataque aéreo. O Ministério da Defesa negou.

“Somos 25 mil e vamos descobrir por que o caos está acontecendo no país”, disse ele, prometendo destruir quaisquer postos de controle ou forças aéreas que estivessem no caminho de Wagner. Mais tarde, ele disse que seus homens se envolveram em confrontos com soldados regulares e derrubaram um helicóptero.

O tenente-general do Exército Vladimir Alekseyev emitiu um apelo em vídeo pedindo a Prigozhin que reconsiderasse suas ações.

“Apenas o presidente tem o direito de nomear a liderança máxima das Forças Armadas, e vocês estão tentando usurpar sua autoridade”, disse ele.

(Reportagem de Andrew Osborn, Kevin Liffey, Peter Graff e Frank Jack)

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Fonte infomoney
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