Irã critica posição do ocidente sobre protestos em massa por morte de mulher
Morte de jovem reacendeu insatisfação da população iraniana sobre questões como restrições às liberdades pessoais, os rigorosos códigos de vestimenta para as mulheres e uma economia se recuperando das sanções
O governo iraniano convocou embaixadores do Reino Unido e da Noruega para contestar a interferência e cobertura da mídia hostil sobre os protestos pela morte de Mahsa Amini, uma jovem sob custódia da “polícia da moralidade”.
De acordo com o ministério das Relações Exteriores, a convocação é uma resposta ao “caráter hostil” da mídia em língua persa sediada em Londres. O Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido disse que defende a liberdade de mídia e condenou a “repressão do Irã a manifestantes, jornalistas e liberdade na internet”.
Já o representante da Noruega foi convocado para explicar a “postura intervencionista” do presidente do parlamento noruegues, Masud Gharahkhani, que expressou apoio aos manifestantes, jornalistas e liberdade na internet.
Gharahkhani, que nasceu em Teerã, continuou a se manifestar no domingo (25). “Se meus pais não tivessem escolhido fugir em 1987, eu teria sido um daqueles que lutaram nas ruas com minha vida em risco”, disse através do Twitter.
O ministro das Relações Exteriores, Hossein Amir-abdollahian, também criticou o apoio dos Estados Unidos aos “desordeiros”, como o governo tem chamado muitos que se juntaram aos protestos, provocando uma repressão pelas forças de segurança, além de restrições na internet e nos telefones.
A morte de Amini reacendeu a insatisfação da população iraniana sobre questões como restrições às liberdades pessoais, os rigorosos códigos de vestimenta para as mulheres e uma economia se recuperando das sanções.
As manifestações que eclodiram no país ocorrem após Amini, uma mulher curda, de 22 anos, ser morta enquanto estava presa após ser detida por não utilizar seu hijab corretamente.
Os confrontos continuaram entre as forças de segurança e manifestantes em várias regiões do noroeste, de acordo com fontes nas cidades de Tabriz, Urmia, Rasht e Hamedan. Ativistas disseram que também houve protestos nos distritos da capital, Teerã.
Em comunicado publicado neste domingo (25), o principal sindicato de professores pediu que docentes e alunos ensaiassem a primeira greve nacional desde o início da agitação, na segunda-feira (26) e quarta-feira (28).
O comunicado dizia aos professores, sindicatos, veteranos militares e artistas para “ficar com os alunos, estudantes e pessoas que procuram justiça nestes dias difíceis”.
Detalhes sobre as vítimas da repressão policial vazaram lentamente, em partes pelas restrições de comunicação. A irmã de uma mulher de 20 anos identificada como Hadis Najafi disse a um ativista norte-americano que sua irmão morreu na quarta (21) após ser baleada pelas forças de segurança.
Vídeos de Najafi foram compartilhados no Twitter, mostrando-a sem hijab e protestando em Karaj, 30 quilômetros a noroeste de Teerã.
O chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, disse que o Irã deve “parar imediatamente a repressão violenta aos protestos e garantir o acesso à Internet”. Ele também pediu informações sobre o número de pessoas mortas e presas, e uma investigação sobre “o assassinato de Mahsa Amini”.
O presidente do Irã Ebrahim Raisi disse que o governo garante a liberdade de expressão e que ordenou uma investigação sobre a morte de Amini.
Segundo ele, “atos de caos” são inaceitáveis e que o Irã deve lidar decisivamente com a agitação. Nas Nações Unidas, ele disse que a cobertura extensiva do caso de Amini era “dois pesos e duas medidas”, apontando para mortes na custódia da polícia dos EUA.
O presidente ainda disse que os EUA estão apoiando os manifestantes e buscando desestabilizar o Irã, uma posição que, segundo ele, contradiz os pedidos americanos por estabilidade na região e por um acordo nuclear com Teerã.
*Publicado por Daniel Reis