Boris Johnson enfrenta momento decisivo com divulgação de relatório do “Partygate”
Investigação sobre a participação do primeiro-ministro em festas e eventos pode ser a gota d'água para o Partido Conservador
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, está sob pressão há semanas após a realização de supostas festas no jardim de verão e reuniões de Natal em Downing Street, enquanto o resto do país estava sob lockdown por conta da Covid-19.
Um relatório sobre esses encontros, que deve ser divulgado ainda nesta semana, pode ser a gota d’água para o partido de Johnson.
Os índices de aprovação de Boris Johnson estão caindo, e parece haver uma sensação crescente entre algumas partes do Partido Conservador de que ele está se tornando um peso para o partido.
Duas pesquisas na semana passada sugeriram que até dois terços dos eleitores querem que ele renuncie.
A “rebelião parlamentar” está crescendo. Um deputado conservador desertou na semana passada para o Partido Trabalhista, de oposição, e os jornais relataram rumores de mais legisladores exigindo a saída de Johnson.
O primeiro-ministro deu respostas pouco convincentes quando questionado sobre as numerosas reuniões. Primeiro ele disse que não havia nenhuma. Uma vez que evidências inegáveis surgiram, ele negou saber sobre as tais reuniões.
No entanto, depois que uma foto dele em um desses eventos foi publicada, ele insistiu que não sabia que a reunião era uma festa, alegando que “acreditava implicitamente que este era um evento de trabalho”.
Johnson foi até forçado a se desculpar com a rainha depois que surgiu uma festa em Downing Street na noite anterior ao funeral do príncipe Philip. Observou-se na época que, devido às restrições da Covid-19, a rainha foi forçada a lamentar pelo seu marido na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, enquanto estava sentada sozinha.
Adicionando lenha ao fogo, o ex-assessor sênior de Johnson, Dominic Cummings, afirmou nesta semana que admitiria sob juramento que o primeiro-ministro foi avisado sobre a verdadeira natureza de uma das festas. Johnson negou com veemência.
“Ninguém me avisou que era contra as regras… porque eu me lembraria disso”, afirmou o primeiro-ministro.
À medida que surgiram novas alegações do chamado “Partygate”, Johnson e seus partidários tentaram descartá-las como uma “distração”, afastando a conversa. Foi lançada uma investigação sobre as reuniões, liderada pela funcionária pública Sue Gray, cujo relatório deve sair esta semana, de acordo com relatos da mídia.
Downing Street disse, neste domingo (23), que não tinha controle sobre quando o relatório seria publicado. “Não cabe a nós definir quando será publicado. Isso depende da equipe de investigação”, disse um porta-voz à CNN.
Na quinta-feira, quando mais parlamentares conservadores criticaram abertamente o primeiro-ministro sobre as reuniões, surgiram alegações de chantagem e intimidação por parte de funcionários do governo.
O deputado conservador William Wragg disse na quinta-feira que “vários membros do parlamento enfrentaram pressões e intimidações de membros do governo por causa de seu desejo declarado ou assumido de um voto de confiança na liderança partidária do primeiro-ministro”.
Wragg declarou ao Comitê de Administração Pública e Assuntos Constitucionais da Câmara dos Comuns que os relatórios dos quais ele tomou conhecimento “parecem constituir chantagem”.
Johnson rejeitou os relatos, dizendo que “não viu nenhuma evidência” para apoiar as acusações de intimidação feitas contra seu governo por um legislador conservador.
De acordo com as regras do Partido Conservador, caso os parlamentares queiram se livrar de seu líder, eles enviam uma carta confidencial de desconfiança ao presidente do Comitê de 1922, um grupo de parlamentares de bancada que não ocupa cargos no governo.
O processo é obscuro — as cartas são mantidas em segredo e o presidente, Graham Brady, nem revela quantas foram entregues.
Quando 15% dos legisladores conservadores enviaram cartas, isso desencadeou um voto de confiança entre todos os deputados do partido.
*Luke McGee da CNN, Lauren Kent, Duarte Mendonça, Richard Allen Greene, Robert Iddiols e Sharon Braithwaite contribuíram para esta reportagem.